Passagens de Amor

Petúnia é uma garota de muitos segredos, mas o que ela nunca conseguiu esconder foi a sua emoção quando via casais apaixonados. Vivia sonhando acordada encostada à janela do seu quarto, pensando no momento em que apareceria um príncipe encantado montado em um cavalo branco. Típico de filme da Disney.

Em um dia de domingo de sol, como de costume, Petúnia estava debruçada na janela de seu quarto, quando viu passar à rua um moço que nunca havia visto por ali na cidade. Imediatamente, os olhos da moça brilharam e seu coração se encheu de esperança. Acreditava fielmente que o belo rapaz era o amor pelo qual tanto esperava, e estava convencida a ir atrás de sua grande paixão recém-descoberta.

Ao perceber que estava perdendo o moço de vista, saiu correndo de casa, deixando seus pais e sua irmã Garibalda sem entender nada. Pelas ruas da cidade andava em passos largos e ligeiros na intenção de chegar cada vez mais perto do rapaz. Atitude que não era bem encarada pela população, uma vez que julgavam a moça como desesperada por um marido.

Petúnia não se importou com os comentários que ouviu durante o percurso. Mas sentiu profundamente quando viu o jovem rapaz, o qual não chegou nem a perguntar o nome, cumprimentando com um beijo na mão uma moça de beleza notável, que julgava ela, ser a noiva daquele que ela pensara ser sua alma gêmea.

No caminho de volta para casa, as pessoas encaravam a garota com olhares de pena enquanto faziam comentários maldosos.

Chegando a casa, passou ligeiramente pela sua família e dirigiu-se ao seu quarto. Sua irmã notou seu olhar com profunda tristeza e seguiu rapidamente atrás. Ao entrar no quarto da irmã a viu chorando e lamentando por ser uma pessoa condenada a infelicidade. Petúnia começou a questionar Garibalda sobre suas qualidades, insistia em saber o que tinha de errado consigo, já que nenhum rapaz havia se aproximado dela ainda.

Garibalda não sabia o que dizer, então ficou em silêncio consolando sua irmã.

A intensidade que Petúnia atribuía às coisas fez com ela passasse dias em pura melancolia. A pobre garota mal se alimentava, e quando comia parecia que o estômago recusava a comida, que, por muitas vezes, fora posta para fora.

Não era raro ver a moça tão empolgada por um rapaz que admirasse, mas desde que conheceu o tal rapaz, cujo nome não sabia, ela perdeu o brilho e a esperança de um dia ser amada. Desde então, a jovem pôs-se a ficar cada vez mais dentro do seu quarto, mas sem debruçar-se sobre a janela. Apenas ficava deitada. Por horas.

Garibalda, observando o estado em que sua irmã estava, comprou um bloco de papel e uma caneta para que Petúnia escrevesse naqueles blocos tudo o que ela estava sentindo, de início, Petúnia recusou a sugestão da irmã, pois julgava estar triste demais para poder escrever.

Semanas depois, a pobre garota pegou os papéis e começou a escrever frases curtas. Entretanto, entre uma frase e outra ela retornava a escrever a primeira frase que havia escrito: eu vi o amor passar e dobrar a esquina.