COM LICENÇA SENHOR

Com licença Senhor,

Desculpe o meu desjeito, mas é que lhe olhando de longe meu coração confundiu Vossa Senhoria com um rapaz que há muito esteve por aqui, por essas bandas de Goiás.

Chegou meio tímido, se me lembro bem veio vindo de terras distantes, donde achei que só tinha gente de pele bronzeada pelo sol e sal da praia, mas veio direto de uma Serra, pra lhe ser sincera, eu lá sabia que nesse tal Rio de Janeiro tinha outra coisa senão samba e praia, fui logo descobrindo que te muito mais.

Mas o Senhor vai desculpando meu falatório, é que olhei pra esse seu jeito, me lembrei desse sujeito que passou por aqui e foi embora com um pedaço de mim.

É que eu sou bicho besta mesmo, escutei esse moço falar, um sotaque que parece que tá cantando, trocando o S pelo X, eu me encantei com esse trem diferente, além de tudo ainda era doutor.

Pense num moço que tem uma prosa boa, tinha vez que ele falava uns trem que eu até perguntava pra Sinhá o que significava, é que eu não estudei muito, mas me encantei com esse rapaz, um talzinho mais bonito que todos os outros que já passaram aqui pela venda.

Me ganhou, fui logo dando boas vindas, meu coração e outras coisas, se é que o Senhor me entende, chega suspiro quando me lembro daquele rosto, aquele corpo... Aí Jesus que eu me arrepio!

Imagina só, eu aqui atrapalhando o Senhor tomar seu café, contando causo que é meu, mas é que ou eu lhe conto, ou eu escrevo, não tenho muita banda de chegada com a Sinhá.

Vou lhe deixar em paz, é que cada vez que chega alguém novo por aqui, eu penso que pode ser meu moço voltando do Rio de Janeiro, desculpa a eloquência, é que nem meu maldito coração que é insistente, nem minha cabeça que é teimosa, conseguem deixar esse moço em outra página dessa vida...

Com licença Senhor, mais um café?