O Céu Vazio - PerfeBleu

Há uma razão muito especial para que eu queira me afastar, ou no mínimo, muito justa. É possivelmente um condicionamento ocasionado pela forma como tenho lidado com meus relacionamentos. Gostar de alguém que não se importa com você é um peso um tanto alto para se carregar, isto é, até onde vai o amor ou a “paixão” de alguém mediante o silêncio de seu interlocutor amoroso? Até quando você pode aguentar a distância sem querer jogar as coisas para o alto? Por quanto tempo você consegue se manter disponível àquela entrega sem criar sentimentos de revolta e antagonismo?

Assim foi comigo, e assim tem sido, e assim será — não há volta.

Embora talvez seja uma oportunidade perfeita para aprender a amar, mesmo no silêncio imoderado do outro. De qualquer forma, a razão é essa:

— Eu não tenho perspectivas (e nem chances) de alcançar aquele a quem amo. Isso é fato. Então a prolongação do sentimento de paixão será para mim como a corda no pescoço do enforcado. Me sufocará enquanto eu tento salvar minha pele.

Se por um lado eu não tenho condições de viabilizar o amor, isto é, pela simples razão de que nunca é recíproco. Por outro, a angústia causada pelo sentimento de entrega a desesperança carrega consigo um fator atenuante de exaustão. Quanto mais você se entrega, e quanto mais você se doa, mais você fica sem aquilo que você entrega. E geralmente "isso" é a energia que você usa para se dedicar em relações infrutíferas. Em outras palavras, você se dá tanto que uma hora fica esgotado.

Fica esgotado de ser aquela porta sempre aberta, refém da boa vontade do outro em dar uma migalha de atenção para você.

Fica cansado, se achando o maior palhaço do mundo. Uma pergunta muito sincera: Se você passasse por um caminho, e lá fosse recebido com uma pancada. Você tornaria a passar por aquele caminho ou começaria a evita-lo?

Claro que tornaria a evita-lo. Então por que isso não é justo no amor? Se eu sofro gostando de alguém, por que voltar a gostar? Não quero, obrigado, não desejo isso. Só quero ficar em paz.

Eu não romântizo tragédias. Mal é mal, bom é bom. Confesso que as vezes me sinto na tentação de acreditar nos contos de fada. Mas essas histórias de alma gêmea são a maior mentira que a Disney já inventou. Não há felizes para sempre, não há o amor da sua vida. Você precisa ser dono da sua própria felicidade. Que se dane o cavalo branco. Estou pegando minha mala e dando no pé.

Por fim, a única saída que vejo para evitar essa catástrofe sentimental que é a paixão, é simplesmente me afastando. Preciso sair das engrenagens da dor. Fugir daquilo que parece atrativo, mas que no fim é uma simples repetição de tudo aquilo que estou me esforçando para evitar.

Não importa se vou ficar só ou se nunca vou encontrar alguém. Encontrar alguém nunca foi garantia de nada, ficar do jeito que estou pelo menos me dá a garantia que permanecerei intacto.

Então vou fechar as portas do amor para sempre? Sim, temo que sim. Os seres humanos nascem com certos atributos indesejáveis. Tais como os dentes de ciso, a miopia estrábica, a falta de aptidão nos esportes e também, a tendência de se apaixonar e sofrer.

Não estou dizendo isso para me justificar, ou sequer para me legitimar. Eu faço o que minha razão quer, sem guerras com o coração. Só digo essas coisas, talvez para me fazer ser ouvido por alguma vítima dos sentimentos que pensa igual. Não há nada de mal em não querer sofrer por pessoas que nunca se importarão com você. E eu também preciso lembrar a mim mesmo, a todo momento, sobre os meus verdadeiros ideais. A repetição dessas idéias provocará a fixação em mim necessária para interpretar a vida segundo essa lógica.