Dois estranhos

Eu entrei no quarto, quando eu entrei no quarto ainda éramos noivos, ao menos era o que ele acreditava, eu já sabia, já sabia que não éramos mais NÓS. E depois, depois que eu dissesse tudo, seriamos quem? Seríamos o que?

Aqueles segundos, aqueles segundos antes de tudo terminar, eu queria preservá-los, estranho né?!

Engraçado como em instantes um tsunami de memórias preencheu minha cabeça, memórias nossas. Me senti como Joel, apagando as memórias de Clem, mas nada se destruía ou se apagava, as memórias vinham a tona e o tsunami transbordou e correu em meu rosto até chegar aos lábios.

Em poucos segundos, nove anos teriam que ser colocados em uma caixinha, os recursos que aprendi, os detalhes que conheci sobre ele, não seriam mais usados e sem ele saber, tudo que ele aprendeu sobre mim, também não seria mais usado por ele, em poucos segundos. Ele poderia estar pensando em me beijar quando me viu ou em falar como foi seu trabalho, mas não poderia, porque eu estava levando nosso fim. No momento que decidi começar a falar, estava decidindo por nós dois um futuro diferente, um futuro sem todos aqueles planos que fizemos, um futuro desconhecido.

Falei, chorei, choramos e viramos as costas como dois estranhos, estranhos que se conheciam, mas não sabiam como lidar um com o outro, quase como se os nove anos tivessem realmente se apagado naqueles segundos depois que falei. Os recursos que eu tinha para lidar com ele já não serviam para essa situação, viramos dois estranhos?

Luiza Bruun
Enviado por Luiza Bruun em 28/07/2022
Código do texto: T7569854
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