ARDENTE ÓSCULO SANTO

Para Alessandra, a menina das primazias

Alessandra acreditava que a maior parte das coisas podem ser explicadas como os desígnios de Deus, mesmo aquelas que não parecem se relacionar de forma alguma com ele. Seu repentino sentimento por Felipe era uma dessas coisas.

Ela o viu se aproximar muitas vezes, orbitando e passando perto demais dela. O suficiente para que seus olhares houvessem se cruzado quinhentas ou seiscentas vezes. Ou, pelo menos, o suficiente para que ela já houvesse decorado até como eram as maçãs do rosto dele.

Sem que o universo das ocasiões divinas lhe ajudasse, ela decidiu por uma abordagem mais efetiva, isto é, tomou iniciativa. Ela se aproximou perto dele e puxou um assunto a partir de algo ínfimo:

— Felipe?

— Sim?

— Tem um feijão no seu dente... Vim para te avisar discretamente.

— Sério? — disse ele constrangido, tampando a boca com as mãos — vou lá no banheiro agora.

— Não precisa, é só passar a língua e te digo se limpou.

— E aí? Saiu?

— Sim... Agora que reparei, você tem lindos dentes. Já nasceu assim ou usou aparelhos?

— Sério? Nunca reparei... Poxa obrigado...

— Você tem namorada? Ou está solteiro?

— Hm? É que na verdade eu terminei tem umas duas semanas. E você? Está solteira também?

— Sinto muito pelo seu namoro. Eu também estou solteira, mas estou gostando de alguém.

— Sério? É dessa sala?

— Sim, é você mesmo.

— Hm? Isso foi uma cantada?

— Está mais para uma oferta...

— Que tal se sairmos depois da aula? Poderíamos conversar melhor...