Como introdução a um novo período da minha vida, página virada, é altura de seguir em frente pois o quotidiano não permite grandes pausas, a todos os que, com muita amizade, incentivaram o meu regresso, agradeço de coração.

Deixo aqui este pequeno conto, cuja doçura implícita é "a minha cara".

Bom fim de semana.

Abraço além-mar. 

 

 

 

 

 

 

 

A BONECA DE PORCELANA

 

 

 

 

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IMAGEM GOOGLE

 

 

O menino Toninho frequentava a 1ª série, numa escola muito perto de casa, juntamente com outros meninos e meninas, sem distinção de cor ou etnia.

A escola decorria com a lecionação de matérias, e intervalos onde todos podiam correr e saltar, brincar uns com os outros.

Um dia, curiosos, verificaram a chegada de uma menina com pele muito branca, cabelo preto forte, de pequena estatura e modos delicados. Muito tímida, olhava os outros a medo.

Toninho reparou nela e logo ficou encantado com o modo de ser da pequenina figura. Sobretudo a pele, branca e muito fina, parecia mesmo de porcelana. A medo, tentou algumas palavras, para ver se ela lhe correspondia pelo menos com monossílabos. Inesperadamente recebeu um sorriso, que lhe iluminou o dia mais que o próprio sol. Sem saber porquê, sentiu um bem-estar que mais tarde associou com a felicidade, laivos apenas.

Aos poucos, nos intervalos, entre eles estabeleceu-se alguma cumplicidade, ficando então a saber que o pai era engenheiro e a mãe professora de línguas, tendo vindo para ali morar por razões profissionais.

Ela chamava-se India e esse nome ficou-lhe para sempre tatuado no coração…

Toninho sentia-se algo intimidado por ver nela modos e enquadramento num estrato social superior ao seu mas ela, com a sua simplicidade, cativava-o como o mar se sente cativado pela lua. Começou a adorá-la, a idolatrá-la. Achava que ela era uma deusa, decerto morava numa redoma, longe dos olhares dos vulgares humanos. Ah, e o seu sorriso, que o deixava sem chão… Como se fosse um adulto apaixonado, afinal era uma criança imberbe, ficou com o sono afetado, adormecia a pensar nela e acordava várias vezes imaginando que ela estava ali a velar pelo seu sono.

O tempo foi passando e a proximidade cresceu. Um dia em que caminhava para a saída da escola, pegou-lhe na mão, olhou-a apaixonado e deu-lhe um pequeno beijo na face. Ela corou muito, sorriu-lhe e deitou a correr para um carro que a aguardava.

Entretanto chegou o final do ano letivo, sua mãe adoecera e ficara de cama. Ele, por dever filial, ficou junto da progenitora durante alguns dias e distraidamente deixou passar a festa de final de atividades escolares.

Quando se lembrou e pôde sair de casa, correu para a escola mas entretanto já tudo tinha acabado. Nunca mais a viu.

Tanto sonhou com essa menina de pele branca, essa India de nome e boneca de feições, que o tinha apaixonado para todo o sempre...

Adulto feito, vivido, ficou para sempre com essa gentil figura gravada no coração. Afinal sempre sentira por ela um grande, um imenso amor, que nada nem ninguém conseguiu fazer esquecer.

 

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 25/08/2022
Reeditado em 27/08/2022
Código do texto: T7590495
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