Previsibilidade

Amelia-Rose e Myles estavam numa cafeteria próxima à casa da garota. Ela havia dito que pensava no lugar como um modelo para o café que a avó pretendia abrir - assim que tivesse resolvido alguns entraves com os antigos sócios.

- Então, sua avó já teve um negócio? - Indagou Myles.

- Nada parecido com os que você conhece - redarguiu Amelia-Rose. - Mas de fato, era uma sociedade. Vovó se indispôs com os outros e saiu. Foi aí que veio morar aqui.

- E trouxe você - acrescentou satisfeito Myles.

- Para desgosto da minha mãe, que é uma pessoa que gosta de tranquilidade - assentiu Amelia-Rose. - Mas prefiro estar num lugar imprevisível como esse, do que na pasmaceira que minha mãe considera como a ordem natural das coisas.

- Você não gosta de um pouco de ordem e previsibilidade na sua vida? - Provocou-a Myles. - Acordar todo dia ao lado da pessoa amada, tomar café com ela...

Amelia-Rose riu.

- Esse tipo de previsibilidade é bom - admitiu. - Mas vovó tem uma versão dela onde me encaixo melhor: um trabalho com o qual possa me identificar. O café.

- Então, ela quer abrir esse comércio para que você tenha uma ocupação? - Questionou Myles surpreso.

- A ideia do café junta o útil ao agradável - explicou. - Vovó tem a sua interface para transformar a realidade em que vivemos, e eu cuido da parte, digamos, mundana; mas nem por isso, menos interessante.

E segurando as mãos de Myles sobre a mesa:

- Não quer dividir essa rotina diária comigo?

- Você quer dizer... trabalhar com você e sua avó? - Indagou Myles.

Amelia-Rose fez um gesto afirmativo.

- Na prática, você já está trabalhando conosco. Só falta oficializar a sua posição.

Um sorriso matreiro surgiu no rosto de Myles.

- Bem, acho que posso ser o gerente e te dar ordens...

A jovem também abriu um sorriso irônico.

- Você pode ser gerente, mas não vai dar ordens à dona do negócio - advertiu, fingindo seriedade.

- [09-09-2022]