À Primeira Vista

Sinopse: Neste conto temos como tema principal o encontro pela primeira vez de duas almas amantes, que vão se apaixonar com o decorrer dos acontecimentos e da relação. A relação de amor entre Amora e Valentim; a descoberta de um pelo outro; as inúmeras sensações de sentimentos e de emoções que sentiram quando perceberam o quão estavam evolvidos por um laço de afeto; a presença do inesperado cupido que chega sem avisar; o amor previsível que chega quando encontramos a alma similar. No conto, é possível flagrar, por exemplo, momentos de um primeiro amor marcado pelo sentimento de incompreensão e distração.

Era uma tarde quente e clara de verão no Nordeste brasileiro, no ano de 2013, quando Valentim nem imaginava que encontraria aquela por quem iria se apaixonar. O movimento da vida, que parecia não dar certeza, fez um rebuliço e trouxe com ele uma certeza que nem ele mesmo esperava. Em meio àquele dia ensolarado, numa das salas da universidade, uma mulher apareceria.

Aquela mulher, com sotaque arrastado e alegre, entrou no corredor do prédio já conversando com sua amiga. Valentim, intrigado, ficou em alerta escutando os passos e aquela voz. E no momento em que ela se aproximava da porta, a qual não foi a sua surpresa ao escutar uma reflexão dela seguida de uma pergunta que ela faz à amiga:

— Ei, não tem como não pensar lá embaixo daquelas árvores do jardim daqui! Logo ali do lado, tu viu, Betânia? Perfeito, né?! Para tirar uma soneca depois de uma aula chata ou quando formos surpreendidas pela tempestade da vida. Enquanto vai passando os períodos. Quando estiver precisando conversar com alguém sobre algo importante, agora sei! Ali será o meu lugar.

Ela continua: — Será que no projeto que participaremos tem alguém da Geografia?

Como a porta estava aberta, Valentim conseguiu escutar aquelas palavras, as reflexões poéticas e detalhistas. Ele, já curioso para conhecê-la, virou em direção a ela e imediatamente olhou de forma profunda nos olhos daquela mulher que parecia ser muito viva.

Ele, admirado, disse: — Tem. Eu.

Amora olhou nos olhos de Valentim, sentiu um impacto diferente como nunca antes havia sentido. Embora não soubesse como caracterizar aquele encontro, ela pensou: — Gostei dele. Gostei da forma como ele olhou em meus olhos. Ele é sereno e tímido. Tem um rosto diferente. — Amora, então, sorriu pra ele timidamente.

Ela o observou da cabeça aos pés e percebeu que ele estava de bermuda e havaianas. Amora pareceu não ter gostado muito de vê-lo assim. Valentim continuou olhando para Amora e a sua curiosidade sobre aquela mulher alegre e expressiva, como ela costuma ser, aumentava. A naturalidade dela o envolvia na conversa. O jeito inquieto, brincalhão e sagaz dele deixava-a ainda mais viva. A geografia era o assunto preferido. Não poderia dar errado. Os dois eram movidos por coisas em comum.

Não tinham muita percepção de que aquele momento marcaria a história dos dois; eles não se davam conta do acontecimento. Amora se comportava como se nada tivesse acontecido. Valentim, do outro lado, a mesma coisa. A desatenção com os sentidos emanados que estavam acontecendo entre os dois jamais foi um empecilho para ser um momento de se gostar. Se apaixonar não era uma intenção programada.

Valentim pensava: — Como o sorriso dela é bonito! Esses cabelos de caracóis. Tudo nela é diferente e vivo. — Amora olhava para ele, e se perguntava: — Por que ele me olha de forma diferente e com esse jeito alegre?

O jeito de Amora causava uma inquietação em Valentim, deixando-o mais brincalhão quando estava ao lado dela. A calmaria dela em receber aquela atenção deixava-o sentir uma maior vontade de provocá-la constantemente. Quando ele a via, nem fugia. Aquele olhar o prendia no seu olhar. Era como ver o azul de um mar. Um colorido brilhante. Desde a primeira vez que os seus olhos se encontraram com os dela, nasceu um brilho e a uma alegria natural.

Com um olhar conquistador e um sorriso aberto em direção a ela, Valentim, disse:

— Amora, a brisa no seu rosto, que faz esse balanço em seus cabelos de caracóis, é vento que bate; o efeito do impacto é do ar, como ele é um objeto, um líquido, você sente, mesmo sem poder ver o fenômeno que recebem influência das Ondas de Lestes.

Amora o olhou encantadamente. Pensou: — Nossa como ele é inteligente e conquistador! — Os olhos de Valentim brilhavam, e ele, galante timidamente, não desperdiçava nenhuma chance de falar algo que poderia despertar o interesse de Amora por ele. Ela emanava contentamento com aquele jeito de Valentim. O seu sentido aguçado percebia o jeito meio apressado dele.

Quando Valentim falava algo no sentido da conquista, ia logo embora. O que parecia é que tudo aquilo o deixava de forma tão vulnerável e sem ação logo posteriormente. Amora se perguntava o porquê dele dizer aquelas coisas daquele jeito logo para ela. Depois saía como se estivesse correndo dela em simultâneo.

Amora, então, fala sobre o que sentiu ao conhecer Valentim:

— Logo de cara quando lhe vi senti uma atração incompreensível, aquele olhar firme, sereno e faiscante. Li nas expressões de sua face uma sensibilidade dentro de sua alma; em princípio, continham uma imensidão de universo com uma singularidade que parecia diferir em cores. Dava pra encher o universo que eu tinha naquele momento.

Assim, nasceu uma metáfora poética. Suponhamos que isso se torna, junto a outros elementos, como fragmento do prelúdio de um amor quando se vê à primeira vista.

E Valentim assim expõe o que pensa sobre a amada:

— Ela é dona de uma das mentes mais inteligentes que conheço. Personalidade única, forte e sensível. Ela tem uma voz arrastada e gestos delicados. É uma pessoa amável e de uma alegria de encher o mar. Só de olhar pra ela fico inquieto e sem sentido. O seu brilho é grandioso e o sorriso dela acaba comigo.

Amora não esperava encontrar alguém como Valentim. Aquele que talvez o seu coração sempre desejasse conhecer. Ele, no mergulho feito na imensidão daquele ser em pessoa, não sabia que aquilo era amor e que vinha para ficar.

Poderíamos dizer que foi um encontro de almas amantes.

Amora não foi apresentada por ninguém a Valentim. Ele mal a viu, e logo ficou enlaçado a ela, mas não entendia isso. Com a convivência na universidade, um se encantou pelo outro e o amor que foi sendo nutrindo parecia ser de verdade. Eles não sabiam ao certo categorizá-lo no momento e muito menos saberiam o que cada um poderia se tornar daquele dia em diante (ser o amor ou viver o amor). Todos os segundos, minutos, horas e anos dali para frente seriam marcados por um tempo que transcenderia o espaço físico na sua imensidão de sentimentos e emoções dos corações apaixonados. Desse modo, acabariam aprendendo a estar, sentir e viver um dos sentimentos mais nobres da condição humana, o amor. Aquele foi o que chamamos de um primeiro amor.

Este conto possui apenas um elemento explorado no meu primeiro romance (contemporâneo) em construção e desenvolvimento desde o ano de 2021.

Autora: Maria José de Melo, 12 de outubro de 2022.