Ninguém fica triste em Paris

Cheguei adoentado em Paris.

Já vinha tomando antibióticos.

Os ouvidos estouravam de dor.

Saia um líquido fedorento deles.

As pessoas me olhavam temerosas.

No avião,

vindo do Brasil

tossia muito,

suava.

Na viagem

a febre queimava.

Vontade de repousar e descansar.

O corpo pedia uma cama.

Olhava a cidade e não via nada.

Tudo era triste e nublado.

A cidade-luz estava escura.

A ansiedade matava.

De repente,

veio-me um pensamento:

" Meu Deus !

estou em Paris ".

Admite-se-se uma gripe,

um resfriado,

uma amigdalite,

uma unha encravada,

uma espinhela caída,

em qualquer lugar do mundo.

Em Paris,

jamais !

Paris

e a casa da felicidade

e do amor !

E como um milagre

tudo mudou.

A dor passou.

O corpo esfriou.

A calma retornou.

E tudo ficou bem.

" Oh, Deus !

ninguém fica triste em Paris ".

Paris

e um nome mágico

místico

e emblemático.

Tem poder.

O simples fato de chegar em Paris

curou-me

como se fosse uma bruxaria.

Uma feitiçaria.

Uma varinha de condão.

Uma vacina.

Um nosodio.

Um floral.

Um placebo.

Ou mesmo um passe de Chico Xavier.

Paris

tem outra voltagem

outro ritmo.

outra sintonia

outra velocidade.

Não se trata de uma cidade qualquer.

Ficar triste em Paris

chega a ser uma blasfêmia

um pecado

um atentado aos deuses.

E assim,

de forma completamente

inesperada

iniciei a minha glamourosa

aventura em Paris.