vazio é escuridão.

Ela disse: passei a noite em pesadelos.

Ontem ao fazer uma caminhada, passava no parque com uma mata não muito crescida, passou uma cobra entre minhas pernas, quando entre um passo e outro.

Quase pisei em sua cabeça.

Acho que estava borboleteando, cantando, no canto da cigarra! E no cantar e no pensar; flutuei nos devaneios pra longe voei com uma gaivota que desenhava no ar brincando com o vento como se fosse maestro dirigindo uma orquestra, tal a suavidade de seu voar. Me ausentei um pouco de mim.

Pisei no chão firmemente. Andava apalpando a escuridão, olhando para a multidão dos seres; animais, vegetais e mesmo com toda a multidão, continuava sentindo estar caminhando sozinha.

A grande maioria vai caminhando sem rumo e sem direção, cegos de audição e surdos de compreensão e atenção.

É preciso “exorcizar” a multidão.

Quanto barulho pungente neste meu silêncio.

E quanto silêncio lúgubre neste turbilhão.

No labirinto da noite, fui tropicando nos barrancos ásperos, daquela mata, quase toda desmatada.

Caminhando passo a passo sentindo o calcanhar no chão subindo e descendo como se tivesse num ensaio de dança.

As aranhas se ausentaram ou foram devoradas não as encontrei.

Penso que é o veneno que andaram jogando por todo lado.

São tantas herbicidas, agrotóxicos que inventaram e jogam espalhando por todas as plantações de todos os países.

Quase nos matam de tantos venenos as plantações envenenadas com agrotóxicos desequilibrando o meio ambiente.

E os hormônios nos animais. Animais criados para produzir leite e carne para o mercado. O mercado negocia: vende compra investe nas bolsas. E o povo alimenta-se deste mercado na sobrevivência da vida. O povo precisa do alimento e o mercado, o lucro pelo lucro, amém.

Desequilibrados, estamos, sem rumo e sem direção. Com muitos doentes nos labirintos dos corredores hospitalares, por causa da alimentação envenenada para produzir lucros, para o patrão do agronegócio que surrupiou o chão da terra sem reforma agrária. Queria que os mochos não piassem com tanta acura trazendo tanta tristeza aguilhoada no coração, limpar a mente, mente de tentações e pudores. O tempo estava horrível, enevoado, relampeava assustando-nos, com maus presságios e nada de encontrar o caminho certo, diante do incerto caminhar, sem pensar se era medo ou pavor, diante daquela escuridão, ouvia caírem alguns sons; um por um, como gota por gota, qualquer som trazia arrepios de pavor diante de tanto amargor em trevas, o espírito perturbado nos fazia cambalear, vagueando e andando ao acaso. Sem saber se orientar, o coração palpitava, até que avistou mais adiante uma abertura nas sebes que vinha seguindo, talvez fosse à saída pra algum lugar.

Ainda acreditava em uma saída.

A esperança não pode morrer.

Não a deixe matar, a pior coisa do mundo é a esperança morta!

Resolveu que não poderia parar mesmo que as pernas cansadas pediam remanso, o pavor dizia; continua o caminhar, cada passo dado era um pisar compassado, contado, lento, meditado, para não despertar nem um vivente que pudesse estar à espreita de um caçador. Se é, que os venenos do agrotóxico já não os tinham extirpado a todos.

Por mais que andava não chegava a lugar nenhum. Já de tanto caminhar, começava a rezar para o dia amanhecer sem piores presságios, até que mais adiante sentia desanuviar em uma suavidade de alguma luz, anunciando a aurora acalentando e apontando uma nova esperança.

“Olha para o Céu meu amor veja como ele está lindo”!

Ainda não tinha acontecido as inexplicáveis violências criminosas das empresas mineradoras que compraram a preços módicos empresas que foram da nação, do país Brasil; barragens que levaram a destruição do meio ambiente com mortes dos seres humanos e dos animais além dos vegetais e minerais. Minerais roubados para enriquecer uma minoria e empobrecer uma enorme maioria que pede por misericórdia.

texto em rascunhos de IRINEU XAVIER COTRIM.