(Des)Ligação.

O telefone tocou tarde da noite, rasgou o silêncio como um prenúncio ruim. Vi que era seu número e meu coração disparou. Sabia que era ela porque ainda lembrava dos quatro últimos dígitos do seu celular, como quem tenta esquecer detalhes.

- Oi? Atendi a ligação com a voz ofegante.

-Já faz quanto tempo? Perguntou.

-E isso importa agora? A exatidão das horas e dias? Não estamos mais juntos, isso não importa, ou não deveria. Você também esteve por aqui com outra pessoa e eu sei disso. Eu conheço você. Se quer saber detalhes do que já não te convém me responda primeiro. Estava ou não?

- Estava. Ela Respondeu.

- Há quanto tempo? Ela continuou insistindo na mesma pergunta.

- Sei lá. Uns dois meses.

- 2 meses? Sério? Você superou muito rápido. Comentou de forma plácida, como quem não tem mais vigor para continuar a conversa que iniciou.

- Você também, falei em tom calmo e cansado.

- Tem mais alguma coisa pra falar? Perguntou-me.

O silêncio voltou a reinar por alguns instantes, de som, apenas o chiado da ligação e o eco do banheiro, que estava com as luzes apagadas.

“Não.”

- Ok, sabe que nunca mais a gente vai se ver, não sabe?

- Sei.

- Então tá, tenha uma boa vida.

- Eu só queria dizer que foi bom ter você nela.

- Tchau.

- Tchau.

A ligação finalizou nossas últimas conexões. Não dormi, esperei amanhecer, vi seu último story. Parecia fingir estar bem, eu também. Sendo assim, a bloqueei para sempre, mas ainda escrevo sobre aquela noite como quem tenta lembrar detalhes que são difíceis demais de dar adeus

Henrique Miranda
Enviado por Henrique Miranda em 05/06/2023
Código do texto: T7806152
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.