(Des)Ligação.
O telefone tocou tarde da noite, rasgou o silêncio como um prenúncio ruim. Vi que era seu número e meu coração disparou. Sabia que era ela porque ainda lembrava dos quatro últimos dígitos do seu celular, como quem tenta esquecer detalhes.
- Oi? Atendi a ligação com a voz ofegante.
-Já faz quanto tempo? Perguntou.
-E isso importa agora? A exatidão das horas e dias? Não estamos mais juntos, isso não importa, ou não deveria. Você também esteve por aqui com outra pessoa e eu sei disso. Eu conheço você. Se quer saber detalhes do que já não te convém me responda primeiro. Estava ou não?
- Estava. Ela Respondeu.
- Há quanto tempo? Ela continuou insistindo na mesma pergunta.
- Sei lá. Uns dois meses.
- 2 meses? Sério? Você superou muito rápido. Comentou de forma plácida, como quem não tem mais vigor para continuar a conversa que iniciou.
- Você também, falei em tom calmo e cansado.
- Tem mais alguma coisa pra falar? Perguntou-me.
O silêncio voltou a reinar por alguns instantes, de som, apenas o chiado da ligação e o eco do banheiro, que estava com as luzes apagadas.
“Não.”
- Ok, sabe que nunca mais a gente vai se ver, não sabe?
- Sei.
- Então tá, tenha uma boa vida.
- Eu só queria dizer que foi bom ter você nela.
- Tchau.
- Tchau.
A ligação finalizou nossas últimas conexões. Não dormi, esperei amanhecer, vi seu último story. Parecia fingir estar bem, eu também. Sendo assim, a bloqueei para sempre, mas ainda escrevo sobre aquela noite como quem tenta lembrar detalhes que são difíceis demais de dar adeus