Com um peso no coração e uma sensação de solidão, compartilho com o moço dos sonhos minha admiração por uma sinfonia de Beethoven.

 

— sabe o quanto essa música significa para mim?

 

Ele responde com uma dose de ironia em seu olhar, enquanto eu me movimento ao som de Fur Elise. O luar penetra pela janela e ilumina levemente o contorno de meu corpo, olhos dele parecem doces jabuticabas. E com olhar fixo nos meus diz: - Para mim, é difícil apreciar a profundidade emocional de uma composição tão refinada, fácil é descrever a beleza de vê-la dançar, tão leve e sublime.

 

Um sorriso irônico e um tanto arteiro... continuo a me mover pela sala... Ao fundo, um quadro que ele pintou retratando nossas primeira noite de sedução e prazer doidivanos que pendia na parede.

 

Aquela música era como um fio condutor que nos ligava a momentos emocionais compartilhados, mas agora tudo se desvanecia e aos poucos ele ia sumindo enquanto o cansaço chegava em meus pés.

 

Após outra dose de Jack Daniels, questiono novamente sua opinião sobre a música que tanto amava Mas seus rastros vão desaparecendo lentamente, mas ainda posso vê-lo... ou talvez não. Tudo depende do quão embriagado ele está agora em algum lugar sujo, quem sabe desejando-me e adentrando em meu sonho perturbando a solidão...

 

Com a voz trêmula de saudade balbucio: - Ouça a música e esqueça o ontem. Não me pertença nunca mais, por Deus! - Já que sua presença depende apenas do teu tempo embriagado confrontando com minha sobriedade exagerada em tua vida.

 

Ele seco e sedutor diz: - Morremos aqui? E sem refletir o que disse e com medo de não acordar confirmo: - Sim. Finalizamos: - Fica bem!

- Ficarei. Fique também.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 11/06/2023
Código do texto: T7811299
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