Outono, namorados

Sentaram-se no banco de madeira, a pipoca doce e colorida ao alcance das mãos de ambos, um copo de garapa para cada. O programa era tão velho quanto o casal, algo repetido, um hábito nascido anos atrás, quando os domingos à tarde passados no parque eram o combustível da semana.

Naquela época, sentavam ali, riam, conversavam, contavam das coisas mínimas e máximas, os sonhos da noite anterior, o futuro mais longínquo. Mas agora, eram tempos de silêncio, um constrangimento acomodado, que nos dias bons ganhava o rótulo de confiança, nos ruins, simples tédio.

Ele pensou num assunto, a geladeira com seus tremeliques mais e mais suspeitos; ela cogitou contar a última que o chefe aprontou no trabalho... Não disseram nada, vexados pelo desespero da tentativa.

Silêncio. Pipocas alternadas com goles. Silêncio.

O que por fim chama atenção de ambos, de modo síncrono e involuntário - há quanto tempo a sincronia era assim, involuntária? -, é o suave balé das folhas de plátano caindo dos galhos em direção à lagoa.

As folhas caíam com uma calma triste e resignada.

E cada um pensou, em termos próprios, que era outono, que viria o inverno, que não haveria mais folhas, talvez nem mesmo o parque.

Temeram que um dia o processo ficaria por ali, encerrado num outono longuíssimo a descambar num inverno definitivo; um cinza silencioso, frio e definitivo.

Pensaram em externalizar esse medo, compartilhar a inquietação. Disseram nada.

E o tempo passou, a tarde correu, mais e mais folhas bailaram do alto até se amontoarem sobre a água.

E quando aquele destino parecia irremediável, eis que uma mão buscou a outra, meio sem jeito, insegura. A outra mão se surpreendeu, mas aceitou aqueles dedos. O entrelaçar aconteceu com um toque de melado de pipoca doce.

E o casal ficou ali mais um bom tempo, mãos dadas e em silêncio, uma esperança tímida fazendo a cola: era outono, viria o inverno, mas, sim, depois a primavera, então o verão, e, quem sabe, poderia ser outro daqueles antigos verões, quando eles, verão e casal, sabiam-se numa estação sem calendário.