Entre a Terra e o Mar
O João chegou em frente ao portãozinho de madeira carregando duas sacolas de supermercado e deu de cara com a Janaína saindo de fininho com uma mochila nas costas e a bolsinha a tiracolo.
___Aonde tu vai Nina? - perguntou o João com o olhar esbugalhado de surpresa.
___Vou ver o mar. Sou a Rainha do Mar e nunca vi o mar.
Respondeu a Janaína com todo o descaramento do mundo no olhar.
___Que história é essa de ser Rainha do Mar?
___Está escrito numa revista que li. Se o meu nome é Janaína, então vou ver o mar?
___Mas o mar fica muito longe daqui, como tu vai chegar lá? Não tem ônibus, nem trem, não tem nada, nadinha.
___Vou de carona no caminhão do Balbino, ele vai levar madeira pro litoral.
___De carona?
___Sim, de carona. É moderno andar de carona.
A estas alturas o João já estava de joelhos chorando como um bebezinho.
___Para de chorar. Um dia eu volto para ser a tua rainha.
E a Janaína lá se foi balançando as ancas dentro da calça jeans rota e apertada.
Envolto em lágrimas o João sentiu dois braços fortes, que o levaram para casa,
___Vamo que vamo, meu amor, esquece esta mal agradecida.
Era a Glaucilene, que todos chamavam de Gaia, uma gordinha solitária dona de um sítio. Ela levantou o moral do João (entre outras coisas), também se mostrou amorosa e trabalhadeira, tanto que levou o homem para morar com ela e deu um tapa no visual dele, que ficou parecendo um galã de cinema.
Passados alguns meses, eis que a Glaucilene e o João estavam sentados na frente da casa tomando mate, quando a Janaína desceu da boleia de um caminhão, que saiu cantando pneu.
___Como te prometi eu voltei meu amor. A tua Rainha do Mar voltou.
O João se levantou, coçou a cabeça e respondeu.
___Quem foi ao ar perdeu o lugar. Se tu és a Rainha do Mar eu agora tenho a minha Rainha da Terra, a Gaia, e, como não sei nadar, prefiro ficar com os pés em terra bem firme, além do mais, tudo o que o mar traz ele leva...