Junior

#PARAJUNIORMEUAMORPRIMEIRO

Você já teve vontade de chamar alguém de amor, de querido por esse alguém ter sido gentil e generoso com você? Eu já mas, fiquei com receio de ser mal interpretada porque estava, no íntimo, carente de empatia e gentilezas. Estou acostumada a ser mal interpretada, então, me detenho, pondero, coloco tudo na balança. E no final? Engulo em seco a dor, o leve incômodo, o frio no estômago porque não quero parecer estranha. Mas, por mais estranho que possa parecer, quando eu o chamar de amigo, de querido, de amor. Então, só então, tudo estará esclarecido. Nutro por você um amor, um carinho, um afeto puro e desinteressado e você? Terá me esquecido como esqueceu aquele amigo que mudou de cidade? Como esqueceu aquele bilhetinho com letra miúda e trêmula confessando que eu gostava de você? Como esqueceu aquele primeiro beijo preocupado e nervoso? Como esqueceu aquele primeiro dar de mãos seguro, despreocupado e feliz? Porque você esqueceu? Por que eu, somente eu, me lembro como se fosse ontem? O passar do tempo é diferente para nós? Você me ensinava matemática, com carvão, nas longas e altas, paredes de minha casa. Eu amava suas explicações. Eu amava você, sua voz , seu jeito meigo, era único. Amava seus dedos e unhas sujos de carvão. Você me olhava com brilho. Entendia tudo. Não de matemática mas, do amor mais natural como um + um = dois. Foram dias felizes, porém, curtos e rápidos dias.

Não houve nós dois e sim outro par em que ambos se aventuraram, que se tocaram sem vergonha, sem pudor e houve amor. E eu? Eu fui um esboço, um rascunho descartado do capítulo do romance que não se publicou. Eu tive medo, eu congelei ao toque suave de sua mão ao carvão, eu gaguejei, eu esqueci de respirar. Eu fui a coadjuvante sem sucesso. Eu bem de perto vi você amar outra garota. Eu vi você dizer o sim, eu aceito. Eu aceitei perder você, o primeiro amor, o mais bonito, o mais puro que consigo me lembrar. Eu acostumei-me a abrir mão do meu querer para deixar acontecer a felicidade alheia. Antes de conhecê-la você tentou amar-me mas, eu não conhecia então o amor e rejeitei-o sem saber a dor que provoquei. E você? Fez o que sabia fazer. Passou por mim sem perceber-me. E eu? Eu lembro de sua frieza e indiferença e eu murchei, eu morri e renasci incontáveis vezes. Enquanto você passava por mim e não me via. E eu o via e o amava em um silêncio infernal. O amor mais doloroso.

E continuávamos sendo vizinhos. Até que você se foi. Você se foi sem sofrer, sem olhar para trás. E eu? Eu fiquei a mirá-lo.

Eu fiz Letras e odiei para sempre a matemática do amor não correspondido. Porquê a conta no final não fechou favorável para mim, não houve amor. E era só matemática boba de início de ensino medio. Odeio-o! Ainda odeio-o tanto! Como Odeio a segunda-feira.

Madame Butterfly
Enviado por Madame Butterfly em 06/07/2023
Código do texto: T7830329
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