O garoto de olhos verdes musgo (capítulo 02)

No dia seguinte, no refeitório, me sentei com meus amigos: Renata e César. Acabei não comento meu lanche porque estava sem fome, mas César fez isso por mim.

Eu o vi sentado com Melissa e outros amigos dela, que o abraçavam de segundo em segundo. Jonas me encarou. Evitei olhar na mesma direção novamente. Ele estava lindo, como sempre. Uniforme e cabelo desgrenhado, os olhos verdes musgo cintilantes e as maçãs do rosto rosadas.

No final da aula, me sentei no mesmo lugar, sobre meus calcanhares e esperei Renata e César “trocarem saliva”. Jonas se despediu de Melissa e veio na minha direção.

- Pensei que me ligaria – disse ele, depois estendeu a mão para me levantar. O contato com a pele dele me fez estremecer e senti o abdômen queimar. – Não sou o tipo de cara que você curte?

- Não vou ligar – murmurei, ele ergueu as sobrancelhas e entreabriu os lábios. – Me ligue você.

- Qual é o seu número então? – Jonas perguntou e eu ditei para ele anotar na agenda do celular. Em seguida, ele me abraçou.

Senti o chão tremer sobre meus pés. Uma sensação estranha explodiu no meu peito e reverberou por todo meu corpo. Estremeci.

- O que foi?

- Nada – sussurrei, pasmo.

Jonas assentiu, depois se foi.

Eu inspirei fundo. Soquei-me um bilhão de vezes mentalmente e, totalmente destruído, joguei-me de joelhos e inspirei fundo mais uma vez.

Em casa, fiz meus deveres. Estudei para uma avaliação de história, me banhei e desci para o primeiro andar. Sentei-me na sala de estar para ler o meu exemplar surrado de “Inferno”, do Dan Brown. Terminei de ler os últimos capítulos.

Peguei a tela que fiz do rosto de Jonas e tirei uma foto, em seguida, eu a joguei no lixo.

Pensei em ir ao cinema com os meus pais, mas os dois estavam trabalhando. Estava sempre só até às oito horas noite. Pensei em chamar a Renata para vir ver um filme comigo, mas logo desisti da ideia de ver filme.

Eu só conseguia pensar em Jonas. Coloquei “Silêncio” do Scalene para tocar e peguei meu celular no bolso de trás da minha bermuda jeans, o número antes anotado no meu pulso apareceu na tela. Eu mordi o lábio inferior ansioso e atendi:

- Jonas?

- Lucas Alvarez – disse ele, eu dei um meio sorriso.

- Quer vir aqui? – perguntei. “O quê?” Pensei.

Jonas hesitou do outro lado da linha.

- Na sua casa?

“Não, não!”

- Uai, sim!

“Pare! Desligue!”

- O que seus pais pensarão se você levar um estranho pra sua casa?

“Desligue agora!”

- Vem ou não?

- É claro que eu vou, Lucas. – Eu lhe informei o endereço e desliguei.

“Que ideia insana é essa? Você mal conhece o garoto! Mas irei conhecer.”

Jonas chegou quinze minutos depois, ele estava usando uma bermuda jeans, camisa de malha vermelha e com o cabelo desgrenhado de um jeito... atraente.

- Olá – disse e me abraçou. Os seus pais...

- Não estão aqui – respondi.

Jonas deu de ombros e eu o levei até o meu quarto. Nós subimos os degraus da escada em silêncio.

- Uau! – Ele indicou com a cabeça dois quadros feitos por mim e me encarou de sobrancelhas erguidas. – São lindos!

- Obrigado – agradeci e peguei meu celular. Fui na galeria de fotos. – Fiz no primeiro dia que falou comigo.

- Uau! Onde está?

- Eu joguei no... lixo. – Jonas ficou boquiaberto. – Desculpe. Mas você gostou?

- Sim! Eu sou viciado em arte, livros, gibis, animes... – Ele sorriu. – Esse é o meu mundo!

- Permita que eu pinte você?

- É sério?

Aquiesci.

- Onde eu fico? – Indiquei minha cama com a cabeça. – Tudo bem!

- Já volto! – disse e saí do quarto, entrei no escritório de mamãe e peguei uma tela, tinta e pincel. Na volta, parei no último degrau da escada e inspirei fundo. Primeiro, ele me intimidava. Segundo, será que ele realmente me quer? E, se sim, não pensava que seria um relacionamento duradouro. Talvez o meu nome fosse só mais um na sua lista de “Pessoas que quero beijar.”

Suspirei.

No quarto, ele estava sentado na minha cama observando um porta-retratos, era eu com oito anos de idade.

- A verão masculina da Branca de Neve – disse ele e não consegui reprimir uma risada.

- Pronto? – perguntei, ele aquiesceu. Estava empolgado com a ideia.

Jonas se deitou de lado na cama com o peso apoiado no cotovelo. Os seus músculos eram bem definidos e marcavam sua camisa. Cerrei os punhos e inspirei tentando me concentrar no que tinha de fazer, resistindo com muita dificuldade ao seu olhar – aos intensos olhos verdes musgo.

- Qual será o nome da pintura? – perguntou ele.

Eu mordi o pincel que estava entre os meus lábios e dei de ombros. Pensei por um breve momento e falei:

- O anjo?

- Anjo? – Ele sorriu de orelha a orelha para mim.

- Sim, o anjo.

- De Lucas Alvarez – disse ele, dando duplo sentido as suas palavras.

Dael Gonçalves
Enviado por Dael Gonçalves em 10/08/2023
Código do texto: T7858587
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