Azul Perfeito - 1° Capítulo

Olá, esse é o primeiro capítulo de Azul Perfeito e tem uns 20 minutos de leitura. Quero postar até o final aqui, gostaria de receber críticas ou comentários sobre esse romance..

Capítulo 1 - Amor à Primeira Vista

Quanto tempo demora para se apaixonar?

A ciência afirma que 240 segundos são necessários até que todas as reações químicas façam efeito no cérebro e as borboletas surjam no estômago. William precisou de apenas 15 segundos. Ele olhava admirado aquela novata desengonçadamente procurando um lugar para se sentar. Talvez tenha sido coincidência, ou alguma outra coisa que transcenda a explicação. Porém ela se sentou na mesa a frente de William, e num movimento que não superou os milésimos de segundos, seus olhares se cruzaram no que parecia ser um choque de entidades cósmicas.

O diretor que a acompanhava até a sala disse: “Turma, essa é sua nova colega de sala. Quem puder passe seu caderno para ela acompanhar as matérias.” Se virou ao professor, sem efetivamente ter estabelecido contato visual com os alunos e terminou dizendo:“Rodrigo, pode prosseguir sua aula.”

Sem ter tido realmente tempo para se organizar em sua mesa, a menina é pega de surpresa com uma pergunta do professor que observava toda a cena:

– Qual é o seu nome?

– Meu nome? É Alessandra – disse ela um pouco afobada pela pergunta repentina.

– Você veio de qual escola?

– Eu vim do IENE, professor.

– Sério? Eu já dei aula de história lá e provavelmente você nem era nascida nessa época. Quantos anos você tem?

– Eu tenho 16, mas eu nasci no meio do ano e entrei adiantada no primário – Disse Alessandra se justificando desnecessariamente.

Ao ver que ela está tímida, o professor termina o assunto com um desinteressado “Ah” e volta a completar a matéria. Por sorte, Alessandra conseguiu acompanhar antes que ele apagasse metade do quadro. De forma esperta, pendurou sua mochila em sua cadeira e quando virou de costas para pegar um estojo, acabou esbarrando novamente seu olhar com o de William. Porém dessa vez, ele em automática reação dos olhos apenas desviou o olhar para evitar contato visual com a novata.

Esse desvio do olhar era um dos sinais mais clássicos da paixão, que refletiam principalmente sua timidez. De qualquer forma, ele só iria se dar conta desse sentimento tarde demais. Quando seu coração já estivesse totalmente tomado pela presença de Alessandra.

O sinal bate e a sala se esvazia. Alessandra decide sair para explorar sua nova escola. Não havia muita coisa a se ver, exceto por decorar onde eram os banheiros, biblioteca e refeitório. Enquanto andava sendo banhada por um sol tímido de manhã escolar, uma garota de cabelo rosa lhe aborda e sem nenhum aviso prévio começa a puxar assunto:

– E aí menina, qual o sentido da vida?

– Bom, acho que cada um de nós deve achar seu próprio sentido. – respondeu Alessandra, se dando conta da situação estranha porém interessantemente espontânea.

– Mas para você, o que é? – voltou a insistir a garota.

– Talvez seja amar, e para você? Qual seria o sentido da vida?

– Nossa, essa pergunta é difícil. Sinceramente não tenho uma resposta, mas eu gostei do que você me disse.

Um silêncio extremamente esquisito surgiu, na qual Alessandra esperava por algum tipo de apresentação formal, porém a outra garota parecia confortável em segui-la calada. Não se tratava de nenhum tipo de maluca, por um momento pareceu que só estava a brincar pelo fato dela ser novata. Mas de qualquer forma, timidez era uma palavra que aquela garota tão espontânea não conhecia.

– Qual seu nome? – Perguntou Alessandra na esperança de conseguir informações.

– Pode me chamar de Gwen, se quiser. E qual é seu apelido novata?

O fato de Gwen ter se referido a Alessandra como “novata” a fez perceber que seria muito difícil se passar despercebida, uma vez que em uma escola pequena qualquer novidade era facilmente notada. O desafio era avaliar se aquela era uma abordagem maliciosa, ou se era somente alguém tentando estabelecer uma amizade prematuramente. Em todas as hipóteses, Alessandra percebeu que estava sendo avaliada e por isso era importante manter sua postura. Com essas coisas em pauta, respondeu:

– Meu nome é Alessandra, mas pode me chamar de Sam se preferir. Eu tenho uma pergunta, por acaso Gwen vem de qual nome? Algo como Gwendolyn ou Giordana?

Gwen deu um leve sorriso com os lábios, e isso era um ótimo sinal para duas pessoas que acabaram de se conhecer:

– Guinevere… Eu sei, é feio. Por isso prefiro que me chamem de Gwen. – Respondeu ela fazendo um pequeno charme.

Alessandra comentou que era um nome muito bonito, e que nunca havia conhecido alguém chamada assim antes. As duas conversaram um pouco e Guinevere deu um importante alerta para sua nova amiga:

– Olha, as provas trimestrais já estão chegando e tem muitos trabalhos para se fazer. Você tem que procurar algum grupo, o meu já tem outros três alunos então não sei se você pode entrar nele. Mas um desses trabalhos é de apresentação em dupla, e os professores darão notas pelos cadernos.

Era muita informação, mas foi perfeito para Alessandra se situar bem. Ela pergunta para Gwen onde iria agora:

– Tem uma menina que estou stalkeando, vou ver se acho ela. Se eu não achar, vou pular o muro e dar o fora. Boa sorte Sam.

Após se despedirem, Alessandra torna a caminhar e encontra o corredor que leva até à biblioteca. Assim que ia entrar, acaba dando de cara com duas meninas com rostos familiares, eram colegas de sala. Valéria era mais alta e mais bem vestida, enquanto Júlia usava um moletom corriqueiro e um delineado chamativo.

Antes que pudesse pedir licença para entrar, Valéria comenta: “Finalmente encontramos ela”

Alessandra arregalou os olhos "Me procurando?", e acrescentou: "Mas por que?"

– É que você precisa entrar no nosso grupo! – disse Julia em tom de urgência. Alessandra permaneceu em silêncio, já que Valéria tornaria a tomar a palavra:

– É porque tem muita coisa pra fazer ainda esse mês. Vai ter quatro provas semana que vem, um trabalho de geografia em dupla, dois de apresentação e no início do mês que vem os professores já vão dar a nota pelos cadernos.

– Mas isso é muita coisa! – exclamou Sam totalmente surpresa, aquilo que Guinevere havia dito era verdade e ainda tinha outros detalhes importantes. Com Alessandra totalmente surpresa e apreensiva, Valéria explicou que ela precisava entrar logo em um grupo para poder ter tempo de estudar para as provas e se organizar.

Alessandra conseguiu ponderar que aquela abordagem não se tratava de uma mera gentileza da representante de sala, mas sim, uma oferta de troca mútua:

– Vocês querem que eu ajude nos trabalhos em grupo e em troca vocês irão me ajudar a acompanhar o ano letivo?

– Exatamente – concluiu Valéria.

– Porém, isso levanta dois problemas a serem resolvidos – começou a falar Alessandra. – Como faremos em tão pouco tempo? E em segundo lugar, se existe um trabalho de Geografia em duplas, provas e os cadernos, logo eu só poderia fazer parte do grupo de vocês em apenas dois trabalhos que seriam os de apresentação. Como faremos para separar esses trabalhos?

– A gente ainda não separou um líder – interrompeu Júlia – Por isso é necessário que você nos dê seu contato, assim podemos discutir todos os detalhes pelo aplicativo de mensagens…

Elas trocaram contatos e Valéria prometeu enviar fotos dos cadernos completos pelo App. Com o problema resolvido, Valéria e Julia iam seguindo seu caminho, mas antes convidaram Sam:

– Vamos procurar por uma amiga que vive desaparecendo, você quer vir junto para conhecer a escola?

Alessandra agradeceu, mas disse que preferia ficar na Biblioteca. Se saudaram e desapareceram no meio vários de alunos que passeavam pelo corredor. Ao entrar, Alessandra ficou surpresa do quão pequena era aquela Biblioteca, metade do tamanho da sala de aula. Havia alguns títulos interessantes, mas provavelmente nenhum grande lançamento. Ela viu nomes como Gaiman, Sparks, Rowling, alguns poucos exemplares da Maas e outros autores influentes. Viu também alguns autores Brasileiros e Portugueses, principalmente os livros da Paula Pimenta.

Tudo isso lhe saltava aos olhos, pegar alguns livros e sair correndo era algo a se cogitar. Porém, seria uma ofensa para sua extensa fila de leitura que não suportaria mais nenhum título sendo adicionado. No meio dos livros de Poesia e Auto-ajuda, havia clássicos alemães como Kant e Thomas Mann. A biblioteca era pequena mas de muito bom gosto, não havia do que reclamar. Confortável, ela se sentou folheando algumas páginas de A Montanha Mágica e após um tempo levou até a Bibliotecária que mexia em uma pilha de papéis. Se aquela manhã não pudesse ficar mais maluca, aquela mulher simpática olhou Sam de cima a baixo e lhe insistiu de ler a mão. A pegou pelo pulso: “Você deve ser novata, nós não emprestamos livros sem uma carteirinha. Olha, vejo suas linhas do destino se cruzando, e você terá que esperar até Segunda para pegar emprestado. Sim, vejo duas luas pairando sobre sua vida, uma negra e outra clara. Elas estão te rodeando. Tome, assine esse formulário com sua matrícula e contato.”

Alessandra preencheu o documento e agradeceu: “Obrigada… Pela ajuda…” Devolveu o livro em sua prateleira e se retirou rumo ao bebedouro, satisfeita de conversas aleatórias com estranhos.

Quanto a William, andava pelo pátio desconfiado e olhando para todos os lados. Tomou água no bebedouro e escutou uma voz familiar lhe perguntando: “E aí, não vai querer perder no Xadrez hoje?” Era Felipe, um dos alunos mais inteligentes da escola. William se virou e justificou dizendo:

– Me perdoe, eu tentei pegar o tabuleiro na Biblioteca, porém não consegui…

– Não faz mal, eu queria te pedir desculpas pelo trabalho de Geografia. É que o João já tinha me pedido antes porque precisa de ajuda para estudar.

– Tudo bem, acho que o professor vai me deixar fazer sozinho. E quanto aos trabalhos de apresentação, você já conseguiu algum grupo?

– Vou ficar com a Ana, o Samuel e o João – explicou Felipe.

William parecia querer sair da conversa, já que as interações sociais nunca foram seu forte. Porém, Felipe lhe disse algo que o fez se sentir extremamente ansioso:

– Pois é mano, por falar nisso você viu o edital da PRONEMS (Prova Nacional do Ensino Médio e Superior) que saiu ontem a noite? A prova vai ser em novembro e as inscrições vão ser agora em Julho.

Aquelas palavras percorreram William como uma onda de ansiedade. Aquela prova era importante pois se tratava da porta de entrada para o Ensino Superior. Milhões de estudantes tentavam todos os anos as melhores notas para entrarem na faculdade. William nem sequer havia começado a estudar, mesmo sabendo da importância daquela prova para a vida acadêmica.

Ele negou ter conhecimento do edital, mas Felipe comentava o quanto era importante para entrar em uma faculdade. William não poderia se sentir menos ansioso, e tentou puxar um outro assunto:

– Estamos ainda no 2º ano do Ensino Médio, então de certa forma temos dois anos para tentar. O que você pretende fazer?

– Ano que vem faço Dezoito e vou tentar exército, senão, faço direito e tento o concurso na área – respondeu Felipe confiante acerca de seu plano. Quando perguntado o que faria, William não sabia pois não tinha nenhum plano traçado.

Para alívio de William, a conversa foi interrompida por João que chegou e abordou Felipe para combinar algo sobre trabalho. Com a distração dos dois, William sorrateiramente caminhou de volta até a sala sem ser notado. Ao sentar esperando o próximo professor, lembrou da novata em sua frente e por algum motivo estranho teve um impulso para mudar de mesa. Pegou sua mochila para mover até outro assento, mas por coincidência reparou algo estranho na mesa da sua nova colega de sala. Havia um pequeno livreto com o nome Le Petit Prince, escrito em Francês:

William logo concluiu que ela poderia ser uma poliglota, ou apenas uma iniciante interessada em aprender outro idioma. De qualquer forma, não queria desperdiçar seu tempo aprendendo nada sobre ela. E mesmo sem saber do processo de paixão que se iniciava em seu coração, ele sentiu um estranho aperto no peito, quando moveu seus pertences até outra mesa. Era um aperto estranho, como aqueles que sentimos quando uma pessoa que amamos vai embora.

O sinal bateu e a sala logo estava cheia. O professor de Geografia chegou no tempo cronometrado a dar sua aula. Assim que terminou de explicar os exercícios de Topografia, fez o seguinte anúncio:

– Turma, vou fazer a lista de presença. E no final quero que vocês me passem os nomes das duplas para o trabalho, e quem não tiver dupla, vai ter um parceiro sorteado.

William arregalou os olhos totalmente assustado, percebendo que havia a enorme possibilidade de Alessandra terminar como sua dupla. Começou a pensar mil alternativas para evitar tal evento, mas antes sequer pudesse pensar em uma fuga, a aula foi interrompida com a chegada de dois policiais que escoltavam uma menina:

– Perdão por interromper sua aula, olha quem pulou o muro de novo – disse um dos policiais, devolvendo Guinevere que sem nenhuma vergonha entrava na sala segurando um riso.

– De novo? Meu Deus, é a terceira vez essa semana – disse o professor para Guinevere, que se sentou no lugar que William deixou vago. – Menina, isso é muito sério, vamos ter que chamar seus pais aqui.

O policial também dá um pequeno sermão nela, embora no fundo tenha se controlado para não perder a seriedade. O professor retoma a aula para que aquela situação não deixe a turma distraída. E após explicar o último exercício, avisa que vai fazer a chamada.

Ao olhar para frente, lembrou-se que havia uma nova aluna na sala e tornou a ter o mesmo diálogo que Rodrigo teve com ela antes do intervalo. Perguntou seu nome, idade e em quais escolas havia estudado antes, e ele parecia ter dado aula em todas pois era quase aposentado. Fez sua chamada e recebeu a relação dos nomes das duplas. “Alessandra, com quem você vai fazer o trabalho?”, perguntou o professor.

Ela respondeu não ter tido tempo ainda para fazer dupla com alguém. E nesse momento ele diz que sua dupla seria sorteada. Guinevere vendo a situação, toma a frente e interrompe:

– Poxa Ayrton, deixa a novata fazer comigo.

– Você? Tem que ver se a Alessandra vai aceitar fazer com uma criminosa.

– Por mim tudo bem, Professor! – disse Alessandra, enquanto todos falavam nela como se ela nem estivesse ali.

Assim ficou combinado, e William suspirou de alívio visto que aquele problema havia sido resolvido por si só. Ele não tinha nada em particular contra Alessandra, apenas gostava de estar só. E disse ao professor que seu trabalho já estava pronto e não necessitava de nenhuma dupla. O professor acolheu aquela mentira e por assim ficou.

O último sinal bateu e logo William estava em casa. Antes de abrir o portão, ouviu um choro familiar e um enorme sentimento de fúria e impotência tomou conta de si. Juntou tudo isso em seu punho e socou forte um muro de cimento batido. Limpou as lágrimas e anunciou sua chegada com suaves batidas na porta da sala, assim como todos os dias fazia."Mãe, já cheguei."

Elizabeth estava lutando para refazer a vida depois do divórcio, e com um estranho sorriso no rosto terminava o almoço. Se esforçava para disfarçar, mesmo que seus olhos marejados pela tristeza fizessem disso um esforço quase vão. William entrou no faz de conta, lhe deu um abraço e jogou sua mochila de forma desleixada na cama.

– Como foi a aula, filho?

– Foi boa mãe, esse fim de semana vou passar estudando porque semana que vem teremos muitas provas.

– Mas já vai ter prova? Trimestre ainda nem fecha direito – questionou Elizabeth.

– Eu também não estou entendendo, mas é basicamente isso.

William perguntou pelas novidades, e Elizabeth comentou sobre como alguns membros da igreja foram simpáticos ao trazerem mantimentos naquela manhã, "E ainda me convidaram para dar aulas para as crianças nos domingos", disse ela genuinamente alegre. William esboçou um sorriso sincero, e embora não fosse nenhum grande entusiasta de ir aos cultos de domingo, não pôde deixar de ficar grato por aquela ajuda tão bem vinda.

– Que ótimo mamãe, é bom você fazer algo que traga alegria.

Elizabeth quase que imediatamente o convidou a ir numa visita no dia seguinte, embora já desconfiasse que William iria preferir ficar em casa sozinho.

– Uma linda menina entrou na igreja nesses dias, ela está no grupo de jovens. Vamos fazer uma visita na casa dela amanhã a noite, por que não vem?

– Parece bom, mas acho que prefiro ficar em casa – respondeu William tentando ser educado.

– Sabe, ela tem lindos olhos azuis. Poderia até ser sua namorada, tenho certeza que ficaria feliz em conhecer ela.

Sem chance, William não queria saber de nada relacionado a ninguém. Sua mãe fechou um pouco o rosto, mas pela última vez tentou conversar sobre aquele assunto:

– Eu senti de ler um versículo amanhã em João 9, por algum motivo me chamou muito atenção. Talvez tenha algum significado especial – explicou Elizabeth, tentando aguçar a curiosidade de William.

– Em João 9? O que se diz lá que chamou sua atenção?

– Tem uma parte que Jesus fala que veio ao mundo para que os cegos pudessem ter visão e aqueles que dizem ter visão sejam cegos.

William ficou com aquele estranho paradoxo em mente, respondeu com algum tipo de modesto interesse. Quando foi até a pia beber água, tomou um susto ao ver sangue escorrendo de sua mão. “Deve ter sido aquele soco na parede, é melhor limpar isso e não deixar minha mãe suspeitar.”, pensou William para si próprio, um pouco surpreso por ter sentido dor minutos após o golpe.

William foi para o quarto, totalmente apressado a fim de olhar o edital do PRONEMS que Felipe houvera falado a respeito. Porém, não passou muito tempo e ele já estava distraído nas redes sociais, rolando uma tela infinita de conteúdos aleatórios. Foi a foto de uma garota de mãos dadas com um rapaz que lhe fez voltar a si, a legenda dizia: “Finalmente encontrei amor ao seu lado!”. William estava estático ao sentimento que lhe irrompeu, não era nenhum tipo de afeição ou empatia, era somente um mero desdém somado a uma falta de vontade. Aquela garota na foto era Isabela, a menina que ele gostou por longos 8 anos, 7 meses e 27 dias.

A paixão sequestrante e duradoura gerou em William traumas quase irreversíveis. Se apegou demais a uma ilusão que ele mesmo criou, enquanto não se permitia seguir em frente até que tomasse posse daquela obsessão. Nisso, William começa a refletir sobre a paixão com a qual conviveu por tanto tempo:

“Amor ao lado dele? Você apenas está chamando de amor o que lhe convém. Na verdade, o amor por si só não existe. Até quando você pode aguentar a distância sem querer jogar as coisas para o alto? Isabela, eu te pergunto a seguinte coisa: Até quando você consegue se manter disponível à falta de reciprocidade, enquanto espera o outro arranjar tempo para lhe dar um pouco de migalha emocional? Eu não tenho chance de alcançar aquele a quem amo. Sou feio, tímido e inapto. Prolongar a paixão, será como a corda no pescoço do enforcado. Vai me sufocar até a morte.

Se por um lado eu não tenho condições de viabilizar o amor, isto é, pela simples razão de que nunca é recíproco. Por outro, a angústia causada pelo sentimento de entrega e desesperança carrega consigo um fator exacerbante de exaustão. Quanto mais você se entrega, e quanto mais você se doa, mais você fica sem aquilo que você entrega. E geralmente "isso" é a energia que você usa para se dedicar em relações infrutíferas. Em outras palavras, você se dá tanto que uma hora fica esgotado. Por fim, a única saída que vejo para evitar a catástrofe da paixão, é simplesmente me afastar e sair das engrenagens da dor. Eu nunca mais vou me apaixonar de novo por ninguém. Afinal, o amor não existe.”

Brandente