RABISCO DO PRIMEIRO AMOR

A menina da janela sorriu, olhou para o céu, uma nuvem escura passou e o sol se escondeu. Pensativa dirigiu-se ao passado, lembrou-se do garoto que morava pertinho de sua casa que fazia o seu coração acelerar sempre que ele se aproximava. Menino moreno, cor de canela, cabelos lisos, ‘’lindo de morrer’’ como se dizia naquela época. Tinha um sinalzinho no canto da boca, olhos grandes, covinhas no rosto, um sorriso belo e fascinante. À tardinha como de costume ela ficava sentada no batente da porta, esperando ele passar, ele sorria, ela tremia, o frio na barriga, mãos frias, com os seus olhos verdes não deixava de olhar deslumbrada para o príncipe dos seus sonhos, visto nas revistinhas de fotonovelas e nos contos de amor que apreciava nos seus momentos  de leitura. Sentimento puro que mexia com sua alma criança, sonhava os sonhos mais bonitos, construía um castelo encantado na sua inocente imaginação. Ela e o menino sempre perto um do outro, conversinhas na calçada, brincadeiras de rua, banhos de chuva com a turma vizinha. Recordou o carrinho de algodão-doce, do velho pipoqueiro da pracinha, do banco onde costumava sentar-se para ver o seu aconchego chegar. Da linda flor-amarela que ele carinhosamente trazia para lhe ofertar. Da música romântica, do alto-falante, do parque de diversões, das voltas no patamar da matriz e da linda noite de lua cheia. Por fim, uma longa estrada, ora ensolarada, ora nebulosa, trilhas, atalhos, o passar do tempo e o seguir por caminhos diferentes. A despedida, as lágrimas, a ausência, a saudade e o desencontro. Lembranças guardadas na memória, em rasurados rabiscos e na amarelada fotografia do primeiro amor.