Chance

Naquele dia a Larissa olhou-se no espelho para o retoque final.

Roupas simples, maquiagem leve, cabelos ruivos presos num coque comportado.

Estava pronta para conhecer a pessoa, que ocupava seus pensamentos, há seis meses.

Um namoro on line, que se transformou em amor, embora não se conhecessem.

Bem que ele queria conectar a câmera de vídeo, mas ela não quis.

“Fica mais excitante só na imaginação” – argumentou ela.

Assim, chegou o dia em que o coração pedia mais e combinaram um encontro.

Seria às 16 horas em frente à lancheria da rodoviária de Porto Alegre.

“Vou estar com um casaco vermelho, não terás problema em me reconhecer”.

Chegando ao ponto de encontro a Larissa avistou o rapaz e instintivamente se escondeu.

Então, posicionou o celular e tirou algumas fotos.

Depois, carregando uma tristeza imensa, subiu no trem de volta para casa.

Então, como foi o encontro? – perguntou a mãe toda curiosa.

Perdi o interesse – falou a Larissa com um olhar de tristeza.

No celular sobre a mesa a mãe viu a foto do rapaz com um casaco onde se lia INTERNACIONAL.

Sabendo que a filha era gremista a mãe nem quis argumentar.

A Larissa se desconectou totalmente do site de “Amizade ou Namoro”.

Na verdade ela comeu o pão que o fulano amassou para esquecer, mas a vida continuou.

Um tempo depois, num grenal, ela deu de cara com o rapaz sentado ao seu lado na torcida.

Ué, tu não estás na torcida errada?

Não. Sou gremista como tu.

É que naquele dia do encontro te vi na rodoviária e com um casaco do Inter...

Aquele casaco é da International, a multinacional em que eu trabalho - respondeu o rapaz pensativo.

A Larissa quase se engasgou com a própria saliva.

Não temos uma nova chance, então?

Não querida, tu não me destes uma chance, então também não terás.

Ao final da partida, os amigos não entendiam as lágrimas da Larissa.

É só um jogo amistoso sua boba, guarda as tuas lágrimas quando a partida for oficial.

No fundo do coração ferido, a Larissa sabia muito bem o que ela havia perdido.