HA TRINTA E DOIS ANOS

Chegamos à Imperatriz-MA, a porta do avião se abre, a sensação que era a porta do inferno, tal era a diferença de temperatura dentro e fora do avião. Dava-se razão àquela piada do Juca Chaves, que naquela região o urubu voava com uma asa e se abanava com a outra. Eu e Beatriz com 28 e 22 anos respectivamente, sem filhos e com muitos sonhos.

No dia seguinte viajo 80 km no asfalto e mais 20 em estrada de terra, demorando mais tempo neste trecho mais curto devido ao péssimo estado de conservação, com buracos enormes em forma de panelas cheias de poeira.

Chegamos à Pequiá distrito de Açailandia, eu e O Cezário engenheiro que iria me inteirar da obra, iniciando ai uma amizade para o resto de nossas vidas.

Fomos andando pela obra, ele me apresentou o mestre de obra juntamente com o apontador de horas. Começamos uma conversa que não me lembro bem, mas de repente o Mestre desfere um tapa na orelha do apontador. Bela recepção.

Um pouco mais tarde fomos informados que um dos nossos tinha levado um tiro de fuzil da polícia, que não foi fatal, pois ao pular a cerca o grampo que prendia o arame se soltou, no mesmo momento do tiro, o corpo desceu um pouco, ai o tiro pegou de raspão, livrando pulga (apelido ) da morte. Deu vontade de voltar para o mundo civilizado – Sampa. Uma semana e pouco a frente um colega esfaqueia o outro no alojamento. Quase todas as segundas feiras tinham que tirar nossos peões da cadeia para dar continuidade à obra. Era o pessoal do ar comprimido, trabalham em alta pressão atmosférica, neste sentido são especializados, não há como substituí-los. Destas tragédias ainda lembro-me do enterro de uma mulher de um dos companheiros. Ele fez questão que se contratasse fotógrafo profissional para tirar fotos da esposa na urna funerária, não sei se por costume ou para fazer provas da sua morte.

Nunca tive problemas diretamente com funcionários do ar comprimido, mas indiretamente a minha função era mais de Assistente Social do que de Engenheiro.

Trabalhei com este pessoal 10 meses.

Ontem, 32 anos depois, fui a uma obra na duplicação da Régis Bittencourt, próximo da cidade de São Paulo, em companhia de um irmão, engenheiro com muita tradição neste segmento da construção civil, um peão me olhou e disse: você estava no Maranhão nos anos 80, na obra da Alcindo Vieira em Pequiá-MA. Fiquei surpreso, pois estava afastado desta atividade desde então. Recordamos destas histórias e de nomes de vários companheiros, como seu Mané da Ema, Seu Antonio, Tiãozinho, Assis... Havia vários funcionários remanescentes daquela época, que trabalham hoje em atividades complementares, fora da pressão, em razão do desgaste desta atividade e da proteção da legislação trabalhista. Todos se lembraram daquele engenheiro, meu amigo Cezário.

Respeitando o 13º mandamento de como escrever, vamos parando por aqui, para que esta não seja uma história alongada. Desrespeitamos integralmente o 1º artigo que é: minta sempre.

Defranco
Enviado por Defranco em 31/08/2013
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