O poço

Tive uma infância feliz e cheia de aventuras. Assim, por volta dos nove anos eu curtia um mergulho em lagos ou rios rasos, quando havia oportunidade. Mesmo não sabendo nadar, eu me aventurava num festival de braçadas desajeitadas.

Assim foi que um dia, quando tentava aprender a andar de bicicleta com uma amiga que pacientemente me dava aulas, descobri um lago tranquilo, próximo do bairro onde morava.

Apesar do lago ser perigoso, minha mente, como a de toda criança imaginativa pregava peças, crendo ser possível nadar ali.

Até que ao molhar os pés para sentir o frio d'água, percebi algo, como um pontinho escuro, a correr dentro do lago. Aí tive a brilhante ideia de capturá-lo e ter um belo aquário. " - Aquele pontinho escuro poderia vir a ser um belo peixe colorido e encantador, no futuro!"

Nem dormi direito à noite e no dia seguinte levei uma garrafinha de remédio vazia, onde coloquei meu bichinho rabudo.

Em casa, mostrei-o à minha irmã, que alegava ser aquilo um girino. Não acreditei e joguei-o imediatamente no nosso poço, ao fundo da nossa casa; tremendo de medo de ser pega em pleno delito.

O detalhe, era que esse poço era a menina dos olhos de minha mãe, pelas suas águas cristalinas e por ser um poço limpo e saudável, com belas avencas,acima da fileira de tijolos que o protegiam e deixavam suas águas fresquinhas, mesmo no intenso calor.

Passaram-se dias, meses, até que minha mãe começou a estranhar o desbarrancamento do seu precioso poço. E arriscou para nós, ter visto algo estranho flutuando no poço.

Nós nos fizemos de inocente, não sabíamos de nada. Até que

minha irmã desconfiou ser obra de meu bichinho de estimação e ameaçou contar tudo para nossa mãe. Chorei bastante e ela concordou comigo, calando-se.

Sempre que minha mãe precisava de água eu corria solícita para trazer-lhe quantos baldes fossem necessários. Só para não ser

descoberta com o peixinho lá dentro.

Desta forma participei do crescimento do meu pequenino mascote, que para minha decepção, se tornara um peixe feio, cascudo,

escuro e bigodudo, quando ele vinha nos baldes d'água que eu puxava. Mas assim mesmo, ele continuava a ser meu querido bichinho de estimação.

Um belo dia de manhã, acordei com um grito de minha mãe que quase surtava.

Ao retirar um balde de água do poço o que veio junto foi o meu, já grande peixe cascudo.

Eu tremia de medo, mas após a raiva, ela jogou de volta o peixe no poço. O que entendi estar o caso dado como encerrado.

Eu não acreditava. Eu não apanhei, e o peixe continuou nosso albergado, por um bom tempo.

anna celia motta
Enviado por anna celia motta em 18/12/2013
Reeditado em 18/12/2013
Código do texto: T4617163
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