Uma aventura em busca de um rio


A primeira vez que saímos em comboio para encontrar um rio foi fantástico!
Seis carros mais eu e meu marido de moto. Ainda em casa fotos e mais fotos registrava o momento desde o supermercado até o encontro com os parceiros de aventura.
Chegamos em Garuva SC, paramos em um posto lá tem lanchonete, hotel e restaurante , parada obrigatória de quase todos os viajantes que por ali passam.
Posamos para mais fotos, as crianças brincaram comeram, pularam em festa.
Tínhamos viajado 90 km em menos de uma hora, faltavam 32 ainda.
___Rio Canavieiras? Vi um dos nossos amigos perguntar.
__Sim claro que sei! Dizia nosso menino guia
____ Fui uma vez pra lá já! Vamos entrar no primeiro semáforo a esquerda e vamos embora.
Lá fomos nós, nem imaginávamos o que nos esperava...
Já nos primeiros kms acabou o asfalto, a mais terrível estrada de chão nos esperava. Eu e meu marido íamos a frente com nossa moto. Uma tremenda escuridão era o que víamos pela nossa frente, Além de mato nos dois lados da estrada. Quando um dos carros nos ultrapassava eu ouvia os chingos do marido por causa da poeira que entrava por baixo de nossos capacetes. Aquilo para mim era o paraíso. Toda aquela aventura fazia com que me sentisse adolescente, a adrenalina a mil. Mais de uma hora na estrada, quanto mais andávamos mais parecíamos distante deste lugar que ainda não conhecíamos. Passamos por um pequeno vilarejo onde casas ficavam alinhadas a beira da estrada, todas exatamente iguais no tamanho e cor. Estas casas ocupadas por trabalhadores das florestas de bananas espalhadas agora ao longo da estrada. Deixamos as casinhas para trás e seguimos estrada a fora.
__Uma ponte! Acho que chegamos pensei. Minha poupança não aguentava mais tanta estrada de chão, sentada na garupa da moto, Sentia o gosto da poeira grudada nos dentes. Atravessamos a ponte e paramos antes de todos atravessarem. Meu marido me olha e diz:
___ O povo vai te matar, onde já se viu convidar toda esta gente para uma aventura desta? Ainda mais em noite de sexta- feira santa!
Fiquei um pouco apreensiva com o que iriam dizer. O primeiro carro chegou e já ouvia as risadas de minha cunhada;
___Chegamos? É este o rio?Acho que vamos encontrar é um lobisomem por aqui. Nisto já encostou outro carro e mais outro até que estávamos todos do outro lado da ponte. As crianças riam e faziam bagunça com as lanternas. Nosso guia nos disse que não estávamos nem na metade. Nossa!
Nem na metade? Perguntei já pensando na poupança novamente em cima da moto. Mas isto foi só alguns momentos e já estava pronta pra seguir em frente. Começamos a contar causo de lobisomem e não sei de onde ele veio. Um homem saído de um mato, veio ver o que estávamos fazendo ali na ponte.Respondemos que procurávamos o rio Limeira( Detalhe o rio é Canavieiras, o Limeira é alguns km depois. Cada vez que perguntávamos por ele ninguém conhecia). Ele com cara de pouco amigo, disse que não conhecia e sumiu mato adentro. Enquanto caíamos na risada dizendo que ele era o lobisomem. Caminhamos mais uma hora e ouvimos o barulho de outro rio, pela força da água devia ser enorme. Paramos a moto na cabeceira da ponte, escuridão total e um rio enorme desconhecido. Há uma placa que diz Rio Cubatão, já o havia visto em outro território, mas ali! Nossa que medo deste rio barulhento e escuro. Ouvi algo que me gelou.
___Sinto muito Dalete ( Dalete sou eu, apelido chato que não gosto. rsrsr) você tem que atravessar a pé e ver se a ponte é segura.
___ Eu?
___Sim você mesmo! Vai de uma vez que não vejo a hora de chegar neste bendito lugar, faz mais de duas horas que andamos e nada. Colocou o farol da moto em cima da ponte e lá fui eu, com um friozinho na barriga atravessei a ponte e ao chegar no outro lado fiz sinal para que viessem. Todos atravessaram e seguiram na estrada, nós fomos os últimos desta vez. Amo os rios mas senti medo deste que não pude ver nesta noite.
Mais umas duas horas de estrada de pedra, serra e buracos. 32 km e já a mais de quatro na estrada ainda nem sinal do lugar. Vez em quando uma coruja voava a nossa frente, um bicho ou outro eu via através da viseira do meu capacete. Que benção meu Deus estar ali!
Quase seis horas desde a saída de nossa casa avistamos uma luz e outra ponte, Já conseguia ouvir o barulho forte da água correndo. Paramos a moto esperando a aproximação dos carros e ouvi enfim a voz do nosso menino guia dizer:___ É ali. O rio é ali, é só atravessar a ponte. Graças a Deus respondemos em coro....

Cap II


A ponte é construída em cima de manilhas enormes, para ajudar a vazão da água em dia de chuva. Tem plantações de bananeiras em um dos lados da estrada. Um tipo de camping estava sendo usado por pescadores e pessoas de religião evangélica. Era quase meia noite, e todos já se encontravam em suas barracas quando chegamos.
Estávamos eufóricos e felizes nem nos preocupamos com Orfeu, e em quem em seus braços dormia. Uma das crianças pegou sua lanterna e iluminava as barracas que lá se encontravam armadas. E nós naquele converse danado montando as nossas barracas, nem prestamos atenção que isto incomodava. Foi quando ouvimos alguém gritar;
___ Fiquem quietos queremos dormir. Uma cunhada que é desbocada falou,
___Por que não ficou em sua casa? Foi ai que o angu começou.
A pessoa deu uma resposta engasgada, de fora não entendemos nada e nem queríamos saber, alguns de nós deram risada. Eu pensava cansada em meu colchão que ainda ia ter que encher. Tão cansada estava que o barulho do rio já começava a me incomodar, e não vi a beleza que pensava encontrar no lugar. Aos poucos tudo se aquietou menos o barulho da água. Meu cansaço era tanto que não conseguia gostar deste rio. Custei a pegar no sono, e quando dormi logo acordei com o barulho que vinha feito pelas pessoas lá fora. Aquelas que sem querer incomodamos a noite. Acho que se vingavam em nos tirar tão cedo do sono. Levantei. Não ia deixar aquilo abater meu sossego. Fui procurar aquilo que vim buscar, ou seja o rio. A única coisa realmente importante naquele local para mim, era o rio!
Estava lá, majestoso correndo depressa. Pensei: Aonde vai com tanta pressa seu rio?
Que rio, fantástico! Suas águas tão claras deixavam a mostra seu leito, parte dele com pedras de várias tonalidades e cores vibrantes. Lambaris prateados brilhavam com o reflexo do sol. Precisei passar as mãos pelos olhos, não acreditava, um rio que me mostrava o que tinha? Sem nenhum pudor? Corria escancarado e sua encosta se enchia de cor! Apaixonei-me por ele também. O restante do dia passou, tranquilo tirando as carrancas do povo de Deus.
Mas a noite chegou, e havíamos sido cozinhado na raiva do povo, nem mesmo responderam os cumprimentos a eles dirigidos.
Fazia muito calor e uns três de nós resolveram saltar da ponte a noite. Brincadeira gostosa para quem sabe nadar. Porém na volta a mulher de um dos nossos amigos disse bem alto:
___Beto você está pelado ai fora? É claro que o Beto não estava! Mas foi o que bastou para acender um estopim, aquele que até ali não enxergamos. Um dos crentes saiu da barraca gritando:___Isto é uma pouca vergonha, por que não volta de onde vieram! Estão a atrapalhar nosso sono!
E a mesma cunhada da véspera fala de dentro de sua barraca.
___Se queriam não se incomodar ficassem em casa.
Já outra crente falou.
____Estou com câncer, não posso passar nervoso!
E a mesma cunhada falou:
___Devia era ir para o hospital então!
Nossa! o Barraco foi feio. O Beto pivô da discórdia queria a policia, mas a policia naquele lugar... Gente, pra quê aquilo? Nós já estávamos todos acomodados e quietos. O povo de Deus queria brigar!. A briga foi feia, o dono do lugar veio apaziguar. No meio da confusão o Beto já bêbado queria bater no dono do lugar. Nem se lembrava que haviam ficado amigos. E este episódio só veio o nosso passeio quase estragar.
Depois da confusão todos se recolheram para dormir.
Pela manhã estava eu sentada quieta preparando o café, uns caras de bundas da turma de lá, acho que para intimidar, pegaram umas espingardas de pressão. Destas de caçar passarinhos, e começaram a fazer tiro ao alvo. Dai foi a minha vez.!  Pensei: filhas das putas de uns crentes do djanho. Espingardas de pressão! Vão matar os bichinhos? Lazarentaiada. Abri o carro escolhi um rock daqueles pauleiras, usei todo o som possível no momento, abri o porta malas, deixei a mostra a enorme caixa com seu auto falantes pulando com o tom da música. E o rock tomou conta do lugar. Olhei com uma cara de ódio para os caras com as armas, se pudesse as entrouxava na goela deles. Vão caçar passarinhos em outro lugar.
Gritei bem alto antes da música começar:
____Vamos levantar cambada, vocês não queriam a noite brigar. Agora venham! Cambada de filhas das putas, é dia e eu posso enxergar quem vou matar!
Foi bem assim que falei, a raiva em ver as espingardas fez a coragem bater, nem pensei em que resultado ia ter.
Aos poucos o povo de deus foi embora nem sequer deram-nos adeus. E os cinco dias que lá passamos foram inesquecíveis. Eu que não ia perder de me divertir depois de mais de seis horas na estrada sofrendo. Voltamos mais vezes neste rio, nunca mais encontramos o povo de Deus.

( Não tenho nada contra evangélicos, o problema não são as religiões e sim as atitudes de certas pessoas que se dizem religiosas )
ARLETE KLENS
Enviado por ARLETE KLENS em 09/06/2014
Reeditado em 10/06/2014
Código do texto: T4838613
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