705-O CONFORTO DA CAVERNA-cap.5 de "Aventureiros na Jangal Africana"

Charlene ficou sozinha e dispôs no chão da caverna as poucas coisas que trazia: sua maleta com material de uso pessoal, algumas mudas de roupa, um par de botas extras, papel e canetas para suas anotações que devia enviar ao jornal e à tevê, relatando a experiência que estava vivendo, junto com Eric, o “deus loiro da selva”, como ela já pensava chamar o companheiro de aventuras.

Do alto do penhasco, onde estava a caverna, o panorama se estendia para o oeste. O sol já passara do zênite. Ela tentou adivinhar as horas.

Deve ser três da tarde, pensou. Olhou em seguida para o relógio de pulso e fico espantada com a precisão de seu palpite. Faltavam apenas cinco minutos para as três.

Eric chegou com uma braçada de galhos.

—Vamos construir um cercado, uma espécie de paliçada, como os guias de safári constroem em torno do acampamento, para passar a noite.

Dependurado em seu cinturão, uma carcaça de pequeno roedor pendia, ainda sangrando.

—Charlene, por favor, acenda uma fogueira para assar esta lebre selvagem que cacei.

Enquanto ela tratava de assar a caça, ele providenciou a construção de rústica defesa ao redor do terreno, usando os galhos que havia trazido.

— Venha, Eric, o assado já está no ponto. — ela disse

Sentaram-se para saborear a primeira refeição quente do dia.

— Que animal é este? — Ela perguntou.

—Um roedor, parece uma lebre selvagem. — Cortando com a afiada faca de caça um naco da perna do animal assado, ele prosseguiu: — Nossa dieta será, daqui prá frente, como essa de hoje: frutas do mato e caça de animais e pássaros. Espero que você não enjoe.

—Que nada! Gosto de churrasco e frutas. Não sou nada exigente em matéria de comida. — Ela respondeu.

Em seguida, os dois foram encher os cantis com a água do filete que corria no fundo da caverna. Eric havia afixado nas paredes da caverna alguns archotes, que iluminavam parcamente o local.

—Ainda tenho de pegar galhos e folhas para fazermos nossos leitos. — Assim dizendo, Eric pulou para o cipó. Ela também se levantou e pulou em seguida.

—Espere! Vou com você!

Os dois colheram grande quantidade capim seco e folhas largas de uma árvore chamada orelha de elefante, que amarraram em feixes. Carregaram até o sopé da escarpa da caverna. Ela subiu enquanto ele amarrava cada feixe no cipó, que Charlene puxava para cima.

—Este cipó funciona como um verdadeiro elevador! — Ela brincou.

De um galho bastante flexível e com cipós finos e resistentes, Eric, trabalhando com sua afiada faca de caçador, fez um arco. Algumas varas delgadas foram apontadas agudamente, para servirem de flechas. Experimentando a flexibilidade do arco, ele usou algumas flechas para experimentar a pontaria em um alvo feito de folhas.

— Viva! - Gritou a moça, ao ver a perícia com que Eric atingia o alvo.

— Vai ser de muita utilidade para caçar. Só me falta uma lança.

Antes de o sol se esconder, dois leitos rústicos estavam prontos, dentro da caverna. O capim seco e macio foi coberto com as folhas enormes da estranha planta tropical.

Depois, eles sentaram-se no chão da área defronte a caverna, para usufruírem de momentos de descanso. O sol já estava avermelhando-se para esconder no horizonte recortado da selva.

Mais alguns momentos e a escuridão da noite caiu sobre a selva, o monte e a caverna. Como escurece depressa! — Ela comentou.

—Estamos nos trópicos. Aqui o crepúsculo quase não existe, pois o sol se põe num repente. — Ele explicou, enquanto colocava mais alguns galhos secos na fogueira no centro da área da boca da caverna.

—A fogueira deve ser mantida acesa durante a noite, para afugentar os bichos que por acaso freqüentem este lugar.

Sentam-se os dois para um repouso. À luz da fogueira, ela escreve algumas notas num caderno

-São notas para o meu jornal. Vou fazer uma espécie de diário, para ser publicada.

Ele sorriu — um sorriso enigmático.

—Você vai ter muito sobre o que escrever

Assim, sob um céu coalhado de estrelas, ao som de urros e rugidos de feras, cri-cris de insetos e pios de aves noturnas e cansados de um dia de muita atividade, os dois dormiram tranquilamente.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2011

Conto # 705 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 13/03/2015
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