708-UMA LUZ NO FUNDO DA CAVERNA-Cap. 6 de Aventureiros na Jangal Africana

No dia seguinte tanto Eric quanto Charlene acordaram com fome. Levantando-se de um salto, chegou á borda da caverna e falou para a companheira:

— Vou colher algumas frutas.

E desceu para a selva, agarrando-se nos cipós.

Charlene não teve pressa em se levantar. Lavou-se no filete de água que corria da caverna, arrumou-se como que preparando para um dia de trabalho e arranjou os poucos pertences de ambos, dando um toque feminino no trabalho. Assoprou as brasas da fogueira e as chamas logo apareceram, iluminando as paredes da caverna. Em seguida, curiosa, preparou um archote com um galho no qual amarrou com embiras uma boa porção de folhas secas.

Com o archote aceso, caminhou devagar para dentro da caverna. O chão era liso e sem dificuldade ela seguiu, a tocha alumiando as paredes. Aqui e ali refulgiam alguns brilhos: era a luz do fogo sendo refletida em cristais e cascalhos.

Não se deu conta da distância percorrida, quando viu, bem no fundo uma pequena claridade. Colocou o archote numa reentrância, a fim de diminuir a claridade.

— Sim, é um buraco. Mas a que distancia estará? — Pensou.

Naquele momento, ouviu a voz de Eric que a chamava em altos brados. Voltou depressa, pois não queria causar preocupações ao companheiro.

Ao vê-la, o semblante de Eric se desanuviou num sorriso largo.

— Pensei que tivesse fugido. — Disse, ao mesmo tempo em que espalhava pelo chão algumas folhas grandes e sobre as quais colocou uma boa quantidade de frutas: bananas, uma espécie de manga, ananases.

— Fui ver onde termina esta caverna. — Ela falou, assentando-se para a frugal refeição. — Vi que a caverna tem uma abertura.

— Depois desta refeição, vamos explorar.

Comeram com satisfação. Em seguida, Eric preparou quatro tochas com folhas secas.

— Vamos levar estas tochas extras, pois não sabemos quão funda é a caverna.

A fogueira permanecia acesa o tempo todo, alimentada por gravetos e bons pedaços de árvores secas. Em suas chamas acenderam o primeiro archote, e lá se foram, caverna adentro.

Foi uma caminhada fácil, pois usavam botas de cano alto e solas grossas. Caminharam uma boa meia hora (Eric consultava seu relógio constantemente, um hábito da civilização) até que o primeiro archote queimasse totalmente. Nas últimas chamas, acenderam o segundo.

Mais uma estirada e sentiram que o ar da caverna se apresentava mais leve. A chama do archote também tremeluziu de forma especial.

— Veja, lá está o ponto de claridade de que lhe falei. — Disse Darlene.

O foco de claridade aumentava-se à medida que os dois se aproximavam.

— Lá está a abertura. Deve ser para o ar livre, pois posso até ver o azul do céu.

Era um buraco pequeno, talvez um metro de diâmetro. Mas estava a uns cinco metros de altura, e no topo de um amontoado de pedras soltas.

— Sim, mas temos de galgar esta pilha de pedras para chegar até lá em cima. — Disse Eric. — Se não formos com cuidado, poderemos resvalar ou provocar uma avalanche, pois não sabemos o que tem do outro lado.

E passando o archote pra Charlene, Eric começou a escalar as pedras cobertas de limo e cheias de arestas. Ao chegar ao topo, olhou para fora, através da janela na pedra.

À sua frente, descortinou-se magnífica paisagem: até onde a vista podia alcançar, a floresta estendia-se em uma planície que era um mar sem fim de verdes em infinitas nuances. Ao longe, bem ao longe, montanhas azuladas e picos brancos cercavam o vale, em toda a extensão.

Eric olhou para baixo: também ali havia um amontoado de pedras, tal qual ao do interior da caverna.

Aqui houve um desabamento que quase fechou a caverna. — Pensou.

Voltou-se para o interior, desceu as pedras até chegar onde estava Charlene.

— Suba! Vou em seguida, com o archote.

Subiram os dois. No topo, apagaram o archote, que foi deixado junto com os que não tinham sido usados, escondido entre as pedras, para serem utilizados na volta.

— Cuidado, muito cuidado, pois as pedras aqui do lado de fora estão muito mais escorregadias. — Ele disse, ajudando a moça.

— Que estranha formação, esta pilha de pedras tapando a entrada da caverna.

Ao descerem do outro lado, Eric chegou a uma conclusão:

— Houve um deslizamento de pedras da encosta do morro. Veja ali, na encosta, as marcas do deslizamento. Entretanto, as pedras não foram suficientes o bastante para esconder toda a abertura da caverna.

Sem dificuldade, chegaram ao sopé da grande pilha de pedras. Acima do buraco por onde Eric e Charlene haviam passado, erguia-se quase a pique, uma parede com pouca vegetação. À frente estendia-se a magnífica selva, que naquela hora da manhã, vibrava com a vida intensa da natureza e dos animais. Sons próximos e distantes de vozes animais, o farfalhar do vento por entre as altas copas, grasnidos e gritos de pássaros que passavam em revoada — tudo contribuía para um enlevo e uma admiração de Eric e Charlene.

— Isto é maravilhoso! — Ela exclamou!

— E fantástico! — Ele concordou. —Aqui é o lugar ideal para nossa aventura.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 11 de janeiro de 2012

Conto # 708 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 14/03/2015
Reeditado em 14/03/2015
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