A corda bamba.
   
   Ela está lá, a corda bamba. Retesada sobre um vale de sombras, ela liga dois pontos distintos: o da origem mostra um peregrino atônito e receoso; o do oposto extremo, a continuidade do caminho.
    A natureza do peregrino não lhe permite o retrocesso, de modo que, a despeito de seu receio, ele necessita de empreender o primeiro passo. Mas o peregrino vê que a corda em seu estado natural é indiferente à ânsia de atravessá-la e que, na verdade, ela á bamba na medida em que a insegurança do homem é um peso fatal. Então ele avança o primeiro passo, a corda vibra e reclama, a calmaria cede vez a um vento gélido e o vale das sombras ecoa, lá embaixo, os seus gritos de terror... E o peregrino para.
    Contudo, o peregrino dera, resoluto, o primeiro passo e a corda, obediente ao seu comando, cessa a instabilidade. Mais um passo. E outro. Mais outro...
    O tempo consumido na travessia é discutível e será sempre contado conforme o peso dos medos na sacola do peregrino.
    Já na trilha que o aguardava e sem voltar o rosto, o peregrino sabe que o vale das sombras ficou para trás...