Caçadores de gigantes

Os malditos grilhões espalhados pelo chão, a nós forneceram arcos e farta munição. Raiava o dia e a natureza nos contemplava; soubemos da nossa missão e que estávamos convencionados à nossa libertação. Chamo-me Corgois, o conspirador, que juntamente com Arcadir, o velho pensador, e um brutamontes negro, meu amigo Zandor, fomos condenados por Dromus, o cônego traidor; mas que por nossa fama, de bravos soldados, nos propuseram que se livrássemos o reino do terror seríamos então libertados.

Às colinas de Ayla a comitiva rumava para hercúlia missão.O êxito nos traria a paz, o fracasso, danação. Cruzamos verdes pastos, os guerreiros reunidos; almas pagãs em galopes precisos, saltávamos pelos montes de escombros à avessa da dor por nossos largos sorrisos em nossos belos cavalos companheiros e amigos sacudindo as crinas sobre nossos ombros.

Encontramos Tarlorn, o bruxo postulante ao poder de senhor dos inconstantes, cargo este agora vago, pela decisão de Merlin, o druída e mago, que depois de viver tantas vidas como conselheiro dos reis, decidiu parar de uma vez. Só um mago tem o poder de adentrar a Floresta Negra sem ter como se perder. Tarlorn fez uma estranha insinuação: O que um demôno faz aqui sem uma provável invocação? Ninguém deu a mínima para sua questão. Os bruxos de Avalon são bastante conhecidos por seus delírios cometidos e de alucinação. E que nos guiou à lezíria fétida do pântano de onde de repente surgiu o tal gigante. O ser despontou no leito oposto da ponte

e penosamente trazia um imenso cântaro que ele guardava as almas suplicantes por ordem do barqueiro Caronte, senhor do Estige, o rio do infortúnio, onde jazem as vontades vedadas e pairam na afluência do maldito submundo.

Os Espíritos recém-chegados, onde o "Bicho de três cabeças" aguarda as almas condenadas.

Derrubava árvores, revirava pedras com seus passos largos vinha em nossa direção, espalhando terror e morte a impiedosa besta fera. Os monges de medo, dobravam os sinos da devastação que estridentes soavam alto como as Torres Vedras com a chegada inesperada do temível Napoleão.

O dia passou e veio o arrebol escarlate, quando estávamos perfilados e fizemos o juramento de vencer o necromante por nosso regimento e que tal procedimento seria um grande dislate sem fé, respeito e comprometimento e esse mal é necessário que se mate.

Longe e tão distante, pusemos em prática nosso plano e mantínhamos a espreita para nossa incursão com nosso meticuloso tempo para de fato surpreender com ação cirúrgica e muita precisão

para enfim matar o gigante mais cruel e mais insano, pois se encontrava dormindo e fácil de morrer. Avançamos para a batalha, corações cheio de ódio e medo que gelava as palmas e a comitiva se espalha para que o quanto mais cedo, derrotássemos o Polifemo guardião de almas. O fim parece mais próximo que nunca, estaríamos indo para a tumba de Hades, senhor da escuridão dentro de um pote e assim atravessar o Estige no bote para sermos guiados pelo maldito cão? Essas questões insistiam em nos atormentar, mas eram as soluções que nos foram impostas para nossa redenção. Ou morreríamos nas mão do gigante ou apodreceríamos na prisão.

Ao tentarmos surpreendê-lo, o pior aconteceu, não tivemos a mesma sorte que nosso herói Odisseu, com seu odre de vinho, nem novelos de Teseu. O massacre foi imediato; a ira do demônio era descomunal, afinal não se tratava de um ser qualquer, e sim uma semente do mal. Sua agilidade de um felino ensandecido como a fêmea protegendo seu filhote pequenino avançou sobre o nosso batedor e seu gigante equino, devorando-os com tal brutalidade e prazer de matar e que deveras estranho era a rapidez de um monstro daquele tamanho e a avidez de cometer tal atrocidade. Mal tivemos tempo para raciocinar, o gigante perseguiu Zandor e sem reação do guerreiro, domina-o pôs-se a devorar numa só dentada, quase o comeu por inteiro. Decidimos recuar momentaneamente para engendrar como objetivo uma outra maneira de sermos mais incisivos e mais contundentes.

Não pude me conter e o choro da dor, não consegui esconder. Ninguém poderia imaginar que Corgois o conspirador pudesse chorar a perda de seu amigo Zandor. É preciso ser frio e insensível para não chorar ao menos uma lágrima escorrida por um amigo com quem lutara ao seu lado por grande parte da vida. Jamais seguiria um líder que não chorasse pelos seus mortos caídos e até mesmo pela morte de seus mais valentes inimigos

Os malditos sacerdotes reconhecem o mal e seus caprichos e sabiam o quão era fatal enfrentar aquele "bicho" e que estaríamos condenados à morte em sacrifício; porém como Aquiles, todos têm um "calcanhar" e estávamos obstinados a encontrar e então decidimos, por hora, repensar e recuar da incursão. Precisávamos agir com coesão e lograr acertar as sete setas de prata forjadas em forma virgem de maneira sincrônica e exata para ver o demônio tombar.

O velho bêbado de nossa tropa, Arcadir, pede sua prosa:

_ Como uma fera raivosa que possui tanta agilidade em matar, anda torpe derrubando tudo que possa encontrar?

_ Acho que para mostrar sua força e fúria, caro Arcadir.

_ Pode ser, Corgois , mas pode ser a lamúria de não ver à luz do dia, pois a besta que vive nas trevas, no claro, não pode enxergar pode sofrer de fotofobia; uma deficiência que ele sente por ficar constantemente no escuro da demência. Surpreendente o velho Arcadir era um homem muito inteligente, quando não delirava pelo efeito da aguardente, por tudo gostava de inferir.

_ Podes ter razão, velho Arcadir, em teu emprego, Talvez o Polifemo só enxergue a escuridão, assim como Wlad, o maldito morcego e que à luz do dia seja hora de atacar e no monstro das trevas nossas baixas vingar.

E nem bem amanhecia, o sol despontava no horizonte, e à luz do dia, decidimos mais uma vez retornar à cabeceira da ponte, onde estava o necromante delegado de Caronte. Chegamos perto o bastante ansiosos de ver o gigante, e torcer pra que o velho tivesse mesmo razão se estava falando sério, de ele na luz do dia, sofrer de fotofobia e enfim perder a visão.

Lá chegando tudo estava calmo e naquele cenário, ao contrário, era o que menos poderíamos esperar, pois o maldito lendário já havia nos demonstrado sua habilidade de saltar e de sua brutalidade contundente já que seu bote pode até se comparar ao de uma enorme serpente. Era demasiado certeiro, lépido e bastante traiçoeiro.

Atravessamos vagarosamente, assim como a água que passa corrente por baixo nunca parando, porque o que está nos esperando a qualquer momento e subitamente surgirá. E nesta ultima hora, olho para trás . Porque o monstro que quer nossas almas...Por que Deus não volta mais... Por que homens sentem medo dos filhos de Satanás? O submundo reclama nossas almas e o Polifeno deseja a missão cumprida e tem sede de sangue e fome de carne com ação despercebida e sem fazer alarde.

No leito da ponte da morte, sabemos o que nos aguarda.

De repente, as árvores começam a se mexer lentamente há poucos metros e um pedra enorme rola em nossa direção; estremecemos mas ninguém esboçou reação, apeamos, armamos os arcos, e esperamos a té que o gigante ladrão de almas surgisse em nossa frente. Com a iminência da tese de Arcadir se concretizar, decidimos nos espalhar; e lá vinha o Gigante aloprado derrubando tudo e fungando para todo lado como estivesse farejando o suor de nossa adrenalina e assim fazer mais vítimas de sua vontade assassina. De repente surge o gigante na clareira, cambaleante para na ribanceira com seu nariz como guia a procura de mais uma presa arredia. E o cigano, o mouro Antouanne é o primeiro a utilizar de astúcia a pontaria e uma flecha de prata imediatamente o atingia. O Polifemo se desespera e solta gritos estrondosos e todos impiedosos disparamos outras vezes e o Gigante assassino chorava como um menino de medo de morrer. Tateava e não obtinha sucesso, estava entregue a desgraça e nós ao regresso da paz e da liberdade depois de matar o gigante e salvar a cidade. Mas de repente, como as forças do mal são verdadeiramente surpreendentes, do rio da morte emerge um homem e um cão ; era o Caronte e o cão Cérbero, o tricéfalo guardião de Hades.

_ Paaaareeem! Deixem o Polifemo em paz ou sentirão a ira de Hades e o terror que isso traz . Exijo que se retratem ou mando que os demônios a todos matem.

_ Quem sois vós?

_ Sou Caronte, o barqueiro do Estige e este é Cerbero, o Fiel, aquele que guia as almas condenadas no céu. Porque estão matando o filho de Hades, Não vês que ele é indefeso e que brincar é seu dom e que foi atraído por uma invocação que se fez por um aldeão que por capricho o queria para mera exibição. O Necromante é um demônio ingênuo, além de ser presa, sem a menor reação à luz do dia perde a total visão. Se insistirem na missão de matar o gigante, todos os seres do mundo pagarão num só instante.

_ Que maldito teria a intenção de exibir um demônio numa vil exposição. Que esquisito tipo de ostentação!

_ O cônego Dromus é o desertor, se diz serviente do senhor mas frequenta a casa de Luciffer, o anjo opositor e é o do mal dessa terra seu maior provocador; mas o que o canalha não esta ciente é que o pior dos infernos é o do traidor e dessa morte covarde, Polifemo, o demônio criança, não é o merecedor. Entreguem-me o gigante ou não lhes dou garantia se daqui por diante, verão a luz do dia; voltem para a cidade e acabem com a maldade matando o religioso, pois ele é o maldito, traidor e perigoso. E prometo não mais molestá-los, exceto se o falso profeta insistir em nos invocar, aí vingaremos a sorte do polifemo e viremos com nosso poder mais pleno e a desgraça cairá sobre o reino ao extremo.

_ Pedimos perdão, nobre barqueiro, pois nos foi convencionado a morte do Gigante a virtude da liberdade, achávamos que era dele o destino de nossa cidade.

_ O destino de sua cidade é a morte de Dromus, pondo fim ao domínio da maldade. Venha Polifemo, meu garoto, vamos que tem um grande reino morto, pronto pra você guardar, e que a este maldito mundo, jamais retornará. A morte de Dromus põe fim nos laços; a igreja condena o povo do submundo pelos seus próprios fracassos, impõe indultos que os seres não podem alcançar, já que o mal teimam em subestimar, quando o mínimo que deveriam era nos respeitar e boa parte da desgraça do mundo poderiam evitar. A teoria do medo não é mais segredo, daí invocar espíritos do mal não há o embate é mera tolice, pois não há vencedor no meio desse combate.

_ Obrigado Caronte, senhor do Estige, por nos poupar, sairemos dessa ponte com maior conhecimento e entendendo o que realmente Dromus está pretendendo, derrotando os maiores soldados, o povo fica fragilizado e fácil de dominar. Vingaremos o engano, vingaremos o Polifemo e mataremos o tirano do povo que defendemos.

_Confiamos em vocês bravos guerreiros e sei que com tua estratégia, Corgois e a inteligência de Arcadir em seu estado de sobriedade, não há resistência do padre traiçoeiro e irá sucumbir; ele e sua irmandade. Agora temos de ir, pois há muito que fazer já que muitos condenados acabaram de morrer e suas pobres almas iremos receber

_Ah, mais uma coisa, nobre barqueiro...Rogo pelas almas dos nossos mortos por esse dislate! O nosso guia Lottar que nos conduziu nessas aventuras e o negro guerreiro Zandor, bem como suas belas cavalgaduras.

_ Caro Corgois, isto não posso garantir-lhe, já que o Juízo não é minha atribuição, mas farei o que puder para intercedê-los numa possível condição, e prometo que seus espíritos, polifemo não irá detê-los e em seu enorme cântaro, não irá mantê-los.

_ Sei que apesar de teu ofício, terás compaixão de meus irmãos e os livrará de quaisquer suplícios.

_ Adeus senhores! Aguardamos a alma do falso religioso e assim o daremos destino impiedoso.

_ Tens nossa palavra, Senhor Caronte, após a nossa chegada iniciaremos o plano da emboscada; exibiremos seus membros em partes decapitadas. A tirania de Dromus não se fará mais tardia, seu fim terá em breve hora e dia.

_ Tenho certeza disso!

_ Compromisso é compromisso!

E assim iniciamos nossa jornada bem cedo, pois o sol era ainda baixo e teríamos uma longa cavalgada de Ayla até Esalem, nosso vilarejo para no fim da estrada, livrar a cidade do medo e por fim aproveitar o ensejo de Dromus capturar e a promessa que fizemos a Caronte, o Barqueiro que nos demos na cabeceira da ponte, fazer-se realizar.

Rastros contrastantes com o verde que lhes resta, tingiam o horizonte na borda daquela floresta, adjacente do imenso monte. lá se vão os retirantes, a deixar os domínios de Hades e morada de Caronte do Estige, maldito e sagrado em direção ao sul, rumo à terra dos justiceiros e do padre renegado; vingar Lottar e Zandor, o guerreiro negromonte, a dor do Polifemo criança à caça de Drommus por doentia ganância. O instante e por metro de nossa longa jornada, alçava com intensidade, nossa sede de vingança. Em uma estrada carregada de perigos, nenhum lugar seri um bom e adequado abrigo, era um ar infestado de medo, onde um iminente ataque à espreita em cada rochedo.

Drommus, crente que toda a brigada fora enfim abatida, tomou Esalém e sua cercania, espalhando morte e terror com sua voraz tirania; contatavam a cada vila queimada, o cheiro de morte no are que além de desertas, foram todas saqueadas, que só não levaram tudo, por não poder carregar. Aquela devastação, os tornaram determinados e teriam de enfrentar, o quanto antes, as maldades do vilão e matar deus delegados, co-autores adjuvantes.

Após longa cavalgada, depois de horas a fio, sob o fio da navalha, Esalém foi avistada e senti calafrios ao saber que estava por vir [...] o nosso encontro com o mal e o início da grande batalha. Como Drommus ainda ignorava que havíamos triunfado, embora as baixas irreparáveis, não preparou seu exército, o que ficou certo, as entradas vulnerávieis. Esperamos o tempo certo para nossa incursão.

Paulo Cezar Pereira
Enviado por Paulo Cezar Pereira em 12/10/2015
Reeditado em 26/04/2020
Código do texto: T5412587
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