Exemplo de Mãe

Morávamos na Rua Mata Redonda, no Bairro Vila Nivi (Zona Norte). Éramos nove filhos de uma mulher batalhadora e incansável. Às vezes, aos domingos íamos caminhando até o Tucuruvi na casa da nossa madrinha (que era de todos nós), ela nos brindava com um panelão de macarronada, feito com macarrão Ave Maria, molho com extrato de tomate e coloral o que para nós era um banquete! A felicidade maior era poder assistir TV a tarde toda.

Minha mãe nos educou com seus bons exemplos e perseverança... íamos a escola de mãos dadas com os irmãos mais velhos, a tarde só brincávamos na rua depois dos deveres cumpridos. Nossa casa era a mais humilde do bairro, tirávamos água do poço para ela lavar roupas nossas e dos vizinhos das quais minha mãe era lavadeira; usávamos lampião a querosene (a luz elétrica era só para quem podia pagar o poste e toda a fiação da rede elétrica mais próxima). Ninguém podia ler a noite para não estragar a visão, mas minha mãe costurava debaixo da luz trêmula do lampião e nos dizia: Eu já estou velha, não tem importância estragar meus olhos, mas vocês são crianças e precisam se preservar, e eu tenho que entregar esta costura amanhã cedo para garantir o feijão de vocês. Ela costurava, fazia faxinas, lavava roupas... era assim que nos criava e nos encaminhava para a vida...

Lembro sempre dela tão severa, mas tão amorosa... ganhávamos roupas usadas, sapatos, resto de tecidos coloridos, brinquedos e ela transformava tudo em novo. Penteava e vestia as bonecas, pintava e arrumava os carrinhos, até uma bicicleta que ganhamos ela transformou em quase nova. Íamos à missa todos os domingos na Igreja Santa Terezinha no Jaçanã, onde todos nós fizemos a primeira comunhão. Tínhamos que estudar, mesmo sem cadernos, uniformes ou livros adequados, mas ela sempre dava um jeito!

E assim fomos crescendo e começando um a um a trabalhar. Aos poucos ela foi construindo a nossa casa, sem reboque, mas as paredes de tijolos e o teto ficaram garantidos. Depois conseguimos a nossa primeira televisão, foi inesquecível... Fomos nos formando, se casando e constituindo famílias. Tenho saudades dos vizinhos da Rua Mata Redonda, da rua Tanque Velho e outros tantos que ajudaram na jornada das nossas vidas. Os ensinamentos e exemplos da minha mãe ficarão enraizados em todos nós... a saudade que eu tenho dela é do tamanho do mundo, fazem 15 anos que ela se foi... todos os filhos e netos quando se encontram sempre se recordam dela... Ela não conheceu nenhum bisneto, mas eles falam dela como se a tivessem conhecido. Talvez porque nós, os filhos, fazemos com que os exemplos que ela nos deixou sejam seguidos e comentados sempre em almoços familiares e festas entre nós...

Walquiria
Enviado por Walquiria em 28/09/2016
Reeditado em 07/11/2017
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