HISTÓRIA DE MARTIN: O PASSADO DO LORDE DO ESPAÇO

HISTÓRIA DE MARTIN: O PASSADO DO LORDE DO ESPAÇO

Antes dos MUNDOS PARALELOS ® entrarem em colisão...

Kalahari.

Um suor frio escorreu pelo rosto de Sarrazin.

O sol estava beijando a linha do horizonte, e em breve, a temperatura começaria a despencar. Ele estava perfeitamente equipado e armado. O Land Rover estava em perfeitas condições ainda, embora a gasolina estivesse no fim. Mas não era este o fato que o apavorava, senão a iminente falta de água. Havia bebido seu último gole cinqüenta quilômetros atrás.

Na frente, sua sombra encompridava-se na areia vermelha enquanto o céu sem nuvens se escurecia pouco a pouco. Ainda faltavam quase duzentos quilômetros para chegar a Serowe, onde era esperado por seus camaradas e o dinheiro. Mas agora as possibilidades de um final feliz haviam-se reduzido consideravelmente até chegar perigosamente perto de zero.

Sarrazin parou o motor e saltou a terra, esperando que o pó assentasse. O crescente frio do ar obrigou-o a desenrolar as mangas da sua camisa de camuflagem. Seus cabelos pretos estavam cobertos com um Albornoz verde improvisado com uma camiseta. Seus lábios estavam ressequidos pela sede.

De qualquer maneira devia tentar esquecer a sede e preparar-se para passar a noite, sem deixar-se tomar pelo pânico.

Procurou seu cachimbo nas algibeiras do colete de combate. Seu estojo de fumo holandês estava vazio. Mas lembrou que ainda tinha uma carteira de cigarros Camel quase cheia, que alguém tinha esquecido no jipe antes que ele o pegasse. Coincidência, seu pai fumava esses cigarros nos anos cinqüenta.

Acendeu um para acalmar os nervos enquanto examinava atentamente o horizonte. Saboreou detida e voluptuosamente o cigarro, apesar da boca seca, enquanto seus pensamentos ordenavam-se na sua mente. Minutos depois, estava calmo e sorriu com uma idéia na cabeça.

Seguidamente pegou seus três cantis vazios e os colocou na frente do veiculo. Puxou um alicate de embaixo do banco e pegou o estojo de primeiros socorros. Pegou um rolo de vendas de linho branquíssimas, e com a sua faca de combate, cortou vários pedaços de linho mais ou menos quadrados de quatro polegadas de lado.

Depois, pegou o rolo de esparadrapo e encaminhou-se resolutamente à frente do veículo onde estavam os três cantis. Deitou-se embaixo do motor e com esparadrapo fixou um improvisado filtro de linho na boca da válvula de drenagem do radiador.

Ciente de que a improvisação estava firme, pegou o alicate e abriu a borboleta de vedação da válvula e colocando o bico de um dos cantis na boca do cano deixou sair aquele líquido marrom quente, e encheu o primeiro cantil.

Depois fechou a válvula e abocou-se à paciente tarefa de filtrar várias vezes àquela água quente com os outros dois cantis e seus improvisados filtros de linho, com cuidado de não derramar nem uma gota.

Quando se deu por satisfeito, já possuía um cantil cheio com um litro de uma água ferruginosa, de horroroso sabor, mas perfeitamente potável.

Ele contentou-se com apenas dois goles bem demorados. Em seguida, fechou cuidadosamente a tampa de rosca e colocou o cantil preso na cintura, ainda com quase um litro. Depois ficou deitado bem esticado preguiçosamente na areia ainda quente do sol que havia desaparecido.

O inesperado grito de um animal noturno o tirou do marasmo.

Levantou-se, e retirou do Land Rover toda a parafernália inútil, e em quinze minutos o carro tinha perdido mais de uma centena de quilos de peso.

Sarrazin só ficou com a toda a munição 7,62, todas as granadas e sua pistola de 9mm. Colocou o que não pode carregar no corpo, dentro da melhor das mochilas, e se desfez de todas as restantes. Pegou a última lata de gasolina e a esvaziou no tanque do Land Rover, colocando-a depois junto com o resto da tralha inútil.

Com o carro mais leve, pretendia viajar enquanto fosse de noite, para evitar o superaquecimento do motor, enquanto durasse a gasolina. Acendeu outro cigarro e inspecionou a temperatura do motor que já teve bastante tempo para esfriar. Achou que já podia tentar a partida.

Ligou o motor, que respondeu ronronando como um gato. Colocou uma primeira marcha e apertou o acelerador. O Land Rover arrancou suavemente e Sarrazin engatou uma segunda, e, embora fosse perigoso, ligou as luzes para iluminar o caminho.

Lentamente, evitando os obstáculos, o veículo foi avançando, primeiro os metros, depois os quilômetros, finalmente as léguas, quando o deserto se fez mais uniforme, até que, pouco antes do dia clarear, a gasolina acabou. E ele comprovou o marcador da quilometragem:

–Cento e oito quilômetros – disse para sim mesmo – já é alguma coisa.

Quando o sol assomou, Sarrazin já havia retirado o resto da água do radiador e colocado filtrada em outro dos cantis. Colocou a mochila com seus pertences nas costas, pendurou seu fuzil no ombro e empreendeu a caminhada em direção ao sol nascente. Agora o terreno era mais acidentado, com formações rochosas.

Quando o sol saiu em toda sua plenitude, ele compreendeu que não poderia manter esse ritmo de marcha sob esse sol. Portanto procurou um lugar para descansar no meio de umas rochas, improvisando uma barraca com uma manta plástica de camuflagem que trazia enrolada na mochila.

Assim que limpou o lugar para prevenir insetos e cobras, acendeu um cigarro e deitou-se a fumar e relembrar da época em que ele ainda não era Sarrazin o Mercenário; senão apenas Martin, o aprendiz de mercenário; e também de como tudo começou, uma tarde em Paris.

Ou não foi em Paris?

Não, não foi em Paris. Sua história vem de mais longe. Até o escurecer de Kalahari ainda tinha tempo de repassar toda sua vida...

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Próximo: A LEGIÃO NEGRA

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O conto HISTÓRIA DE MARTIN: O PASSADO DO LORDE DO ESPAÇO -forma parte integrante do romance inédito HISTÓRIA DE MARTIN ® – Volume I, Capítulo 1; páginas 8 E 9.

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 21/12/2016
Reeditado em 23/12/2016
Código do texto: T5859352
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