JANELA QUEBRADA (peço leiam até o final)


Álvaro um promissor cientista, no alto dos seus 40 anos já colecionava vários prêmios e menções honrosas por seus inventos e experiências, todas de cunho social e muito bem aceitas pelo mercado consumidor também.
Um desses seus inventos ao qual aperfeiçoou, desenvolveu um sistema de purificação liquida no tratamento de efluentes numa indústria extrativa mineral. Sempre totalmente dedicado as seus projetos e experiências, chega esquecer-se de si próprio, a vida social, o lazer juntamente com sua família, que parece ter acostumado também com tal forma de vida e por conta disso fica 100% mergulhado em seus inventos.
Casado com Márcia, com quem namorou desde os tempos de escola, sua primeira namorada, possui um casal de filhos: -Andréia de 17 anos e André com 15 anos, comemorado recentemente. De inegável virtuosismo e talento, seu achego com as coisas da casa denotavam uma equivocada aparência de bem-estar familiar, já que trabalhando em sua própria casa estava sempre por perto da esposa e dos filhos, apesar desta proximidade ser apenas física. Dentro desse contexto não era um mau pai não, apenas com esse senão de furtar-se de um passeio, um picnic, uma pescaria ou algo do gênero, que os aproximasse mais, e dessa forma o tempo impiedoso passa feito um foguete. Sabemos que este é um grande mal e uma constante nos dias modernos, onde abre-se mão de si, do pessoal, para dedicar-se quase que exclusivamente do lado financeiro, material e todas as “benesses” advindas destes recursos. Em outras palavras seria, deixar de lado o ‘ser’ humano, para atender e investir na “máquina humana” e isso não é nada bom.
...Mea-culpa e acredito ser mais comum e usual do que podemos imaginar e com isso, marcas indeléveis de difícil dissolução serão deixadas no rastro da vida!
Dos filhos:
-Andréia pretende cursar ciências exatas e como quase toda menina bem determinada do que quer para o futuro pretende também seguir os passos da mãe e a exemplo dela, ser uma professora universitária graduada e renomada.
-André, herdou o lado inventor do pai, ficando tão evidenciada essa condição que todos os dias após retornar do colégio, come algo e vai direto ao laboratório (
porão de casa) ser o auxiliar de luxo de Álvaro, a bem da verdade o único. Brincadeiras a parte o próprio pai sabe que o moleque terá um grande futuro, a considerar os muitos pitacos que deu nas invencionices do pai.
Aquele porão funcionava como ‘QG’, de onde pai e filho projetavam e desenvolviam vários e vários experimentos que mais tarde tornar-se-iam num grande invento e por certo facilitariam a vida de várias pessoas.
Márcia fez incontáveis tentativas de varrer literalmente as tranqueiras daquele “muquifo”, sem sucesso se pode bem ver o porquê disso, seu marido sempre tinha na ponta da língua a tal desculpa em uma frase pronta, no que dizia ele:
-Por favor não mexam em nada, pois assim como está encontro tudo que preciso e se guardarem minhas tralhas, vou perder muito tempo pra me “achar” novamente. “Essa é tal frase feita que todos usam para justificar a bagunça que produzem, é a tal “bagunça organizada”. Até usa um termo que criou, chama seu laboratório de muquifo ajeitado.
Ironia da vida num feliz episódio, veio acontecer para a vida daquela família. Num certo projeto, Álvaro desenvolvia um dispositivo para economia de combustível para carros populares á pedido de uma indústria automobilística, precisa de mais espaço de trabalho e deveria arredar alguns móveis. Num espaço até amplo, de quase 110 metros/quadrados o cientista contava apenas com menos da metade de toda área, sendo o resto todo ocupado por armários, prateleiras e estantes enormes e pesadíssimas, as tais tranqueiras as quais Márcia, a esposa, sempre se referia.
Pois bem, uma arrumação teve que ser feita, a contra gosto de Álvaro que já havia se acomodado com a situação. Sendo assim, a família toda ‘mete’ as mãos na faxina. Quando ao mover o armário mais pesado, Álvaro vê o que nunca observara, se depara com uma “
janela emperrada e quebrada”, que dava para os fundos onde morava outra família, na qual mal se viam, dado a correria de uns contraposta aos afazeres de outros (esse é o tal mal recorrente e mais comum do que se pensa em nossos dias). A cena que vislumbrou mudou não só sua vida, mas a de todos naquela casa.
Ele observa por quase meia hora um pai e um filho cobertos de lama até os olhos, mas com uma particularidade, ambos com sorrisos que dava pra contar-lhes todos os dentes da boca, tamanha a alegria.
Estavam “emgambiarrando” um carro, um fusquinha adaptado. Era esse o motivador daquele “sorrisão duplo” e da quantidade de barro que os recobriam até a cabeça, o que descobriu depois.
Após esta minuciosa análise, Álvaro sabia muito bem o que devia fazer, arrasta André pelo braço, deixa a esposa e a filha no furdúncio e dá tempo de brincar, dizendo a Márcia: Não era isso que queria sempre fazer? E vão até o vizinho, de pronto arregaçando as mangas, Álvaro se apresenta rapidamente com o filho pedindo licença para auxiliá-los no concerto da “geringonça” (
o tal fusca). Com jeito criterioso e a competência de Álvaro, pronto está reparado o veículo e José e Jonas, pai e filho respectivamente agradecem e saem disparados para voltar ao trecho se enlamear mais um pouco, a tempo ainda de aos gritos pedir desculpas pela pressa e que voltassem a sua casa para uma conversa num outro momento. Assim se deu o início de uma perene, sincera e verdadeira amizade.
As experiências seguiram-se num bom ritmo, porém o que não faltaram mais foram às horas de lazer e tudo que omitiram fazer para suas vidas viraram regras de comportamento onde a frieza dá lugar a alegria e a aventura.
Em menos de dois meses Álvaro e André já se tornam membros atuantes da caravana dos amigos da estrada, rebatizada de
“CARAVANA DOS AMIGOS DA LAMA DA VIDA”.
Quem vê hoje o retraído e contido cientista, juntamente com seu filho feito doidos cobertos de lama não iriam acreditar de quem se tratariam, a dois meses atrás.
“Sempre é tempo de se viver melhor, com mais argumentos para ser grato ao criador que nos dá tudo de mais belo para ser usufruído e vivido plenamente”. ...Pense nisso!