CONFLITOS NO PERU EM 1970


Na noite posterior a chegada de SCARAMOUCHE em Lima no Peru para uma turnê  de lutas cênicas, antes de apresentar-se com o empresário, conheceu dois lutadores, um mexicano e outro local, os quais o convidaram para irem num bar, como eles mesmos falavam, “vamos chupar um par de cervejitas”... Eu, como um lutador recém-chegado, e querendo comemorar, muito embora eu não tenha o costume de beber, topei o convite.
 Não sabia a enrascada eu iria me meter.

Bebemos além de um par de cervejas, e fomos dar a continuidade em outro bar, para o qual tomamos um táxi, e ai mais beberagem. E eu já estava perdido em Lima. Os dois criaram uma confusão, fomos colocados fora do estabelecimento, depois de termos pagos as despesas, e fomos dar de cara noutro bar, onde mais pares de cervejitas foram consumidas, e eu não sabia em que local da cidade nós nos encontrávamos. Então os dois lutadores brigaram de novo no banheiro, quebraram a porta, eu tentei separá-los, apesar de ter bebido algumas cervejas, estava consciente do que estava fazendo.
 Consegui fazer com que pararem com a briga, mas usando técnicas de lutas.
Depois de eles terem se acalmado, enquanto eu estava conversando, com o dono do bar, porque ele queria ser ressarcido das despesas da porta do banheiro. Neste ínterim os dois lutadores se mandaram, e me deixando sozinho na parada, ou seja, fugiram do bar e das despesas. O dono disse que tinha chamado a policia e junto com seus capangas me detiveram, e queria o valor da porta e o pagamento das bebidas. Então eu fiz os respectivos pagamentos em cruzeiros, e o dono disse que me eu estava liberado.
Que sorte, agora só falta saber onde é que eu estou e onde que fica a Pensión San Martin. E saber tudo isso com algumas cervejas bebidas, ficava meio difícil.


Ao sair do bar e acessar a rua, e perdido dei de cara com dois carrões importados, da polícia, os quais me deram voz de prisão, me revistaram, falei para eles que eu já tinha acertado com o dono do bar sobre a despesa da porta, e ele tinha me liberado.
Nesse instante apareceu um cara estranho e deu uma carteirada nos policiais, e pediu que ele tomasse conta sobre o meu caso.

 
 Os policiais olharam a carteira dele e me liberam, para o desconhecido.
É eu pensei que tinha vindo um anjo da guarda, oriundo do céu e me salvado. O cara saiu junto comigo caminhando e a seguir me indicou um caminho que seria a direção da Pensión San Martin. Logo me pediu dinheiro por ter me livrado da polícia. Dei-lhe 10 reais, mas ele queria mais. Deme mas plata brasileña... disse-lhe que não tinha mais dinheiro, pois tinha gasto com as despesas do bar e lembro-me de tê-lo empurrado, e acho que ele sentiu a força do empurrão, pois era um empurrão do Scaramouche e bravo.
Mas o achacador acabou desistindo da sua intenção. Saí pela noite adentro sem saber qual a direção certa tomar. É um pouco de azar nos dois primeiros dias que cheguei, conheci dois oportunistas, querendo levar vantagens.

 
 É bem mais dificultoso enfrentar estes tipos em outras paragens, do que no Brasil.
Sem rumo e meio bêbado nas altas horas da noite, sem saber para que lado eu fosse, a única coisa que me lembrava, era da Plaza de Mayo. Fui perguntando para pessoas que também viviam a vida noturna e com certo medo de encarar outros oportunistas, pela Plaza de Mayo, que era muito conhecida, e que acabei chegando ao meu endereço, após muita caminhada, acho que mais de uma hora.

 
 Bati na porta da Pensión San Martin e o atendente, se levantou e a abriu para mim.
Sem acender a luz, entrei até chegar ao meu quarto, mas antes, derrubei algumas cadeiras da área reservada às refeições que eu deveria passar. Ainda lembro-me das palavras do atendente, “O que se passa brazileño, está borracho” Deitei e dormi até as 10 do dia seguinte.


Comecei a pensar naquele dia anterior das encrencas, e no próximo dia eu teria de fazer uma entrevista com o empresário para iniciar a minha temporada de lutas. Se ele ficasse sabendo da enrascada que me meti, provavelmente iria pensar, erradamente, que eu era mais um borracho que iria causar problemas para ele. Pior, é que eu não possuía mais dinheiro para voltar, teria o suficiente para pagar algumas diárias da Pensión...Talvez ele não ficou sabendo, fiz o meu contrato, e o empresário se comprometeria em ficar comigo até um mês, mas continuei por  mais  seis meses. Depois fui para a Bolívia.
 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 30/03/2018
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