Planejando o futuro
E Kheper-ra, intendente do faraó Shabaka em Tebas, procurou Anhur, corretor de túmulos, para planejar a vida futura de sua família.
- O que vai ser, meu senhor? - Indagou Anhur, mostrando ao visitante algumas maquetes em exibição em sua loja, próxima ao Vale dos Reis. - Temos tumbas escavadas na rocha, pirâmides a preços módicos e mastabas, embora estas tenham saído de moda...
- Pirâmides? Eu lá tenho cara de faraó? - Retrucou Kheper-ra.
Anhur lançou-lhe um olhar analítico.
- Pensando bem, não tem, meu senhor... mas, não pense que somente os ricos e poderosos podem ter a sua própria pirâmide para passar a Eternidade! Não mesmo... estamos com uma promoção de pirâmides cuchitas, compactas, que em breve serão tendência arquitetônica no Alto e Baixo Egito.
E indicou um modelo de pirâmide circundada por quatro esfinges mal-encaradas. Kheper-ra levou a mão ao queixo, pensativo.
- Parece um chamariz perfeito para ladrões de túmulos... e creio que não deve ter as dimensões que permitam mais que algumas décadas de repouso eterno, se assim me posso expressar.
- Infelizmente, ladrões de túmulos são um problema desde sempre - ponderou Anhur. - Imagino que não teria interesse numa dessas pirâmides ao lado da guarnição do faraó?
Kheper-ra deu uma risadinha.
- Eu sou funcionário do faraó, não se esqueça. Aposto que não esperariam minha múmia esfriar antes de saquear a tumba...
- E que tal um túmulo escavado na rocha? São muito populares, já que só possuem uma entrada, a qual pode ser bloqueada de vários modos possíveis, com armadilhas capazes de aniquilar os saqueadores mais ardilosos...
O intendente inclinou-se para ver melhor o modelo. Depois, questionou:
- De quanto estamos falando, neste caso específico?
Anhur ergueu os olhos para o teto da loja.
- Em debens de ouro, daria...
- Pare - cortou Kheper-ra. - Acabo de perder o interesse. O que teria para oferecer, em debens de cobre?
Anhur estendeu a mão para um modelo que lembrava um banco de pedra.
- Tenho esta mastaba, aqui. O material não é dos mais nobres, mas é barata...
- Tijolos?
- Tijolos.
Kheper-ra inclinou-se novamente.
- Duvido que algum ladrão de túmulos tenha interesse em saquear essa coisa. Pode ser usada como jazigo familiar?
- Naturalmente! - Animou-se Anhur. - Podem ser construídas uma ou mais câmaras mortuárias, em níveis diferentes, inclusive, dependendo da importância do falecido.
- Parece perfeito - aduziu Kheper-ra. - Um homem tem que garantir a segurança da sua família, nesta vida e na outra.
- Sábias palavras - aprovou Anhur, juntando as mãos.
- E a câmara mortuária mais rasa, ficaria para minha sogra, aquela bruxa... - divagou o intendente.
- Isso pode ser arranjado - declarou diplomaticamente o corretor.
- [05-04-2018]