Perguntem à Regina Duarte

Em 1972, fazia o tiro de guerra em Londrina, nos domingos quando não tinha instrução no TG, ajudava meu pai na folga do retireiro. Após a ordenha transportava o leite para a cooperativa CATIVA. Na encruzilhada com a estrada principal, logo após ao Ribeirão Cafezal, tinha sempre um pessoal esperando o ônibus que vinha de Selva , um Distrito de Londrina, eu invariavelmente dava carona, e até ganhava uns trocados dos mais insistentes em pagar a passagem de ônibus.

Nesse dia, tinha lá três rapazes e uma moça muito bonita. Assim que parei, ela me informou que o carro dela tinha quebrado, e se eu podia levá lá até Londrina. Lógico que aceitei.

Entrou na cabine e os outros subiram na carroceria. Não perdi tempo, logo puxei prosa. Ela era muito bonita e tinha algo familiar.

- Você não é daqui, não é moça?

- Não acredito, que ainda não me reconheceu! - Disse ela decepcionada comigo.- Eu sou a Regina Duarte desta novela que está passando agora. Terminamos as gravações e vim aqui conhecer as terras que minha mãe herdou.

Não acreditei, levei minutos para acreditar.

- Nunca mais lavo a cabine desta camionete, moça! - Disse inspirado e verdadeiro. - Ela deu uma gostosa risada.

A estrada que liga Curitiba a Londrina estava sendo terraplanada para receber asfalto, tinha chovido muito e a Toyota deslizava no barro e eu me esforçava para não fazer feio, as vezes o golpe da derrapagem trazia a moça para perto de mim.

Pensava comigo:"Quando eu contar isto no tiro de guerra ninguém vai acreditar."

A frente um tumulto, alguns carros parados e pessoas no meio da estrada. Diminui a velocidade, fui parando e parei diante a um mal encarado. Que mandou a todos descer. Estava armado com uma pistola. Nesta época havia muitos sequestros no Brasil.

Ordenou a todos colocar as mãos no capô da camioneta, começaram a nos revistar, dedicando mais tempo e afagos à Namoradinha do Brasil . Pensei comigo, que safado!

Os três da carroceria estavam mais assustados do que eu. Estava tenso, com medo deles me associarem com os militares, pois tinha o corte de cabelo de milico . Deram me alguns safanões, fiquei pianinho.

Amarraran as mãos de Regina para trás, e a colocaram no chão de uma Kombi.

Mandaram eu e os três descerem o barranco da estrada. Pensei: ferrou!

De repente, ouvi uma gargalhada na crista do talude, Regina ordenando , "tá bom pode cortar".

Era uma filmagem.

Ela me explicou: A nossa camionete não veio, por causa da chuva, tivemos que improvisar.

Você foi muito bem, inclusive vou mandar colocar no diálogo da camionete aquela frase de que não vai mais lavar a cabine.

Perguntei: Cadê as Câmaras?

Estão todas camufladas, fizemos isto para você agir naturalmente com medo.

Precisamos filmar o diálogo na cabine, com um ator parecido com você.

Se você concordar com as nossas condições vai receber uns bons trocados.

Quais condições?

-São só duas. Estamos fazendo um filme alternativo, sem patrocínio, de baixo custo. Todos aqui estão trabalhando sem remuneração e com risco, de que se não der certo de nada receber. Se tudo correr bem a remuneração será feita depois de acharmos patrocínio ou então que tivermos bilheteria.

Você concorda em receber depois, ou não receber nada?

- Lógico, pensei que teria que pagar para aparecer nos filmes. - Ri satisfeito, já sonhando em aparecer em uma filmagem.

- A segunda é que você terá que manter isto em segredo até que o filme entre em cartaz, não pode contar para ninguém, se não o meu emprego e dos demais correrá sério perigo. Podemos contar com sua discrição?

- Ah está parte é a mais difícil, estou louco para contar para os amigos e parentes. - Disse contrariado.

- Se contar, nada feito e não terá como provar.

- Ok, mas tenho uma condição também.

- Qual condição? - disse a moça bastante contrariada.

- Queria que vocês tentassem fazer o diálogo comigo na cabine da camionete, em vez de um ator parecido.

- Bom se você for capaz de fazer aquela cara de embasbacado de novo, quando eu revelei quem eu era, até podemos tentar.

- Acho que consigo, se me orientarem, levo jeito para a coisa.

Depois de três tentativas foi aprovada a minha performance.

O nome do filme? Ainda não tinha. Depois descobri que esta tentativa não deu certo devido aos muitos compromissos da atriz principal que teve sua fama alçada aos maiores atores do Brasil, achei que devido ao tempo passado já poderia publicar ao meu restrito público de leitores.

Não acreditam?

Perguntem à Regina Duarte.

Defranco
Enviado por Defranco em 18/06/2018
Reeditado em 25/06/2018
Código do texto: T6367372
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