O puro-sangue

Shaun Richards ligou para mim no escritório, e me disse que havia alguém vindo de Minnesota para ver o cavalo.

- Se você ainda está interessado, é bom se apressar - alertou, naquele seu tom de voz baixo e calmo que parecia contradizer o conteúdo da mensagem.

O cavalo era para Margareth, e havíamos ido por duas vezes à fazenda que cuidava de puros-sangues aposentados em Wyoming, para que ela escolhesse um substituto para Tar Pit, que morrera no ano anterior. Minha esposa ficara impressionada com um alazão dourado de 11 anos, Morning Cloud, que estava na fila de adoção por uma taxa de módicos 550 dólares.

- Temos várias opções, mas este cavalo especificamente chegou a correr no Kentucky Derby - comentou Richards, na primeira vez em que fomos ver o animal ao vivo, depois de analisarmos suas fotos e vídeos no site da instituição mantenedora. - Vocês precisam de um animal para caça à raposa?

- Sim, somos praticantes - explicou Margareth. - Atualmente eu estou sem montaria, mas meu marido me convenceu a adotar um puro-sangue da sua fazenda. Gostei de alguns, particularmente de Morning Cloud.

- Que tal irmos ao pasto para vê-lo? - Sugeriu Richards.

Aconteceu uma coisa curiosa quando nos aproximamos da cerca que delimitava o campo onde estava Morning Cloud: ele veio trotando e parou a poucos metros de nós, nos encarando com curiosidade.

- Parece ser um animal muito inteligente - declarou Margareth, cativada.

- Pode dar uma volta nele e ver se a impressão corresponde à realidade - sugeriu Richards.

Margareth assim o fez, e ao retornar, elogiou a andadura do animal. Mas pediu para ver outras opções, de qualquer forma. Ao término, declarou-se indecisa.

- Vocês podem voltar outras vezes e repetir a experiência - sugeriu Richards. - Só não posso garantir que não vá aparecer outro interessado e arrematar o animal.

Um mês se passou, voltamos à fazenda e Margareth deu uma boa corrida com Morning Cloud, mas não bateu o martelo. Finalmente, chegara a hora de decidir.

- Adotamos ou não o cavalo? - Perguntei à ela por telefone.

- Eu gostei do Morning Cloud... está bem, vamos adotar.

Duas semanas depois, o cavalo foi entregue em nossa fazenda e Margareth o conduziu pessoalmente ao estábulo onde ele viveria até o fim da sua vida.

- Sua nova casa - declarou ela, acariciando o focinho do animal. - Amanhã vamos conhecer o pasto e começar os treinamentos... vamos ver quão rápido você aprende!

Enquanto voltávamos para a sede da fazenda, comentei com Margareth que mesmo com uma carreira modesta como cavalo de corrida, Morning Cloud arrecadara quase meio milhão de dólares durante seu período em atividade.

- Notável como um cavalo desses não foi aproveitado como reprodutor - ponderei.

- Pensando bem, meio milhão não é muito nesse mercado - ponderou Margareth. - Deve haver centenas de animais com um passado muito mais interessante do que o de Morning Cloud pelos haras do país...

Eu, contudo, fiquei com aquilo na cabeça. Passado um mês, fui à um haras de Wyoming e comprei uma potra promissora por 3.500 dólares.

Três anos depois, o investimento começou a ser pago. Generosamente.

- [28-08-2018]