O ritual das bainhas

A batalha havia sido dura, mas com o esforço conjunto de vários vilarejos ao longo da costa, os invasores, que haviam chegado em quatro grandes canoas reunindo cerca de 100 homens, foram derrotados e expulsos, tendo perdido cerca de 60 de seus guerreiros. Muito provavelmente, nunca mais voltariam a atacar a ilha de Mon. Os corpos dos invasores, devidamente despojados de roupas e pertences, começavam a ser empilhados na praia para serem queimados, quando surgiu uma discussão justamente sobre o que fazer com os despojos.

- Vamos jogar tudo no pântano - declarou peremptoriamente Akkar, um fazendeiro de tranças ruivas. - É a tradição! Não ficamos com pertences de mortos!

- Claro, é a tradição... - reconheceu Orm, o ferreiro. - Mas vocês viram as espadas desses caras?

Os presentes não haviam apenas visto: muitos haviam sido mortos ou gravemente feridos por elas.

- Boas espadas, de ferro - prosseguiu Orm. - Eu gostaria de propor um trato...

Os homens fizeram um círculo ao redor do ferreiro, que explicou:

- Vamos jogar tudo no pântano, em honra dos deuses... menos as espadas! No lugar delas, colocamos apenas as bainhas.

- E o que vamos fazer com as espadas dos mortos? - Indagou Pridbjorn, um pastor.

- Eu as derreto e faremos arados, machados, pregos... e outras coisas de que estamos precisando.

O grupo o encarou com desconfiança, mas a ideia era tentadora. Acabaram aprovando a sugestão e apenas as bainhas das espadas dos mortos foram atiradas ao pântano.

* * *

Edvard Busk conduziu o professor Hugo Lind até o ponto da turfeira onde fizera o achado.

- Bem aqui - apontou para um local lamacento às margens do pântano.

- Interessante - avaliou Lind. - Não é a primeira vez em que são encontrados vestígios arqueológicos neste pântano...

- Verdade, volta e meia aparecem coisas enterradas quando vamos cortar turfa. Mas eu nunca tinha visto nada parecido com isso.

Sobre a relva molhada, havia certa quantidade de bainhas metálicas de espadas, corroídas pelo tempo, mas ainda perfeitamente identificáveis.

- Não achou nenhuma espada? - Indagou o professor Lind intrigado.

- Ao menos aqui, não. Quem sabe, se pesquisarem numa área maior...

Lind agachou-se e pegou cuidadosamente uma das bainhas.

- Excelente estado de conservação... seria ótimo se também localizássemos as espadas!

- E se houverem enterrado apenas as bainhas? - Inquiriu Busk.

- Seria uma ideia intrigante... - ponderou o professor. - Talvez fosse parte de algum ritual religioso do qual nunca ouvimos falar, e que jamais viremos a compreender.

- Talvez um ritual de fertilidade, quem sabe? - Sugeriu Busk.

Lind abriu um sorriso.

- Bainhas... sim, percebo!

E começou a fotografar os artefatos sobre a relva.

- [29-09-2018]