A CIGANA

Minha mulher sempre fala, depois do réveillon tudo é barato, e não dá outra, tudo fica barato mesmo, e não foi diferente esse ano, ontem fomos ao shopping, segunda feira, não é a sexta, é a segunda mesmo, talvez a segunda sem lei. As lojas tavam barata mesmo, na Marisa, as roupas tavam 70% mais em conta, o que levou minha mulher a passar cerca de duas horas lá, tentando achar os caminhos das índias, a compra perfeita. Eu fiquei no café, tomando nada, pensei....._- será que a moça do quiosque vai reclamar? Não, acho que não, não se pode reclamar porque sentei e não pedi nada, nadica de nada. Enfim. Me levantei e sai dando um rolê nas lojas, no meio do shopping tinha uma barraca Indiana, devia ser Indiana, era muito colorida e tinha aquele cheiro de incenso, aqueles palitinhos com fumaça. Deu uma vontade de entrar, e entrei, lá dentro tinha uma bruxa, ou era uma bruxa ou coisa parecida pensei, ela não falou nada e com um gesto mandou eu sentar em uma almofada, retruquei balançando a cabeça, ela me aponta um tamborete, aí eu sentei, era bem melhor para minha idade. Ela pegou na minha mão sem falar nada e começou a mudar de fisionomia, ficando com a cara de surpresa, eu comecei a ficar com medo, depois senti uma calma nunca sentida em minha existência. Acho que adormeci, e não sei quanto tempo passei dormindo, quando acordei estava no meio de um mercado imenso, cheio de barracas vendendo tudo que é missanga do mundo, tinha comidas estranhas, tipo sopa de gafanhotos, escorpiões na brasa, cobras e lagartos, fiquei assustado, eu podia ver tudo, sentir o cheiro de tudo, tocar nas coisas, mais não escutava nada, lá na frente vejo um velho,ele estar enrolado em uma túnica branca, muito branca mesma, que chegava a queimar meus olhos, desviei o olhar, depois voltei pro velho e ele já não era mais velho, era uma mulher linda, dançando a dança do ventre, ela se rebolava como uma cobra, aquilo ia me seduzindo, e na medida que ela dançava ela me chamava com o dedo para perto dela, quanto mais eu me aproximei dela mais eu sentia o cheiro do seu perfume, era simplesmente extraordinário, ela falou algo para mim, mas não consegui entender, ela tinha um hálito de rosas, e cada mais e mais fui me envolvendo com aquela mulher, de repente estou nos braços de um segurança, fico meio que tonto, sem saber o que aconteceu, ele me perguntou_- senhor, senhor, o senhor está bem? O senhor estava andando meio que esquisito, indo em direção a escada rolante, fiquei preocupado. Pergunto pro segurança, onde é a barraca da cigana? Que barraca da cigana senhor? Não tem barraca alguma aqui no shopping. Sai meio que atordoado, pensando naquela divina bailarina, onde ela estava? Chegando em casa, entro no quarto ligo o ar e deito na rede, minha mulher entra no quarto e fala, adivinha o que comprei lá no shopping hoje? Não sei, falei. Uma roupa da dança de ventre, rindo....comprei de uma cigana.....

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 09/01/2019
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