O Baile de Setembro

Era noite. Acompanhada como sempre, eu estava com uma amiga no centro da vila em que nós morávamos. Um mensageiro chega até mim, todo apressado e entrega-me um convite. Eras tu, jovem camponês, a convidar-me com letras mais singelas para um baile. Não era um simples baile qualquer. Era o Baile de Setembro (conhecia popularmente como Baile da Despedida de Inverno), que sempre havia de acontecer perto de minha casa, há mais ou menos umas duas quadras, na casa de uns irmãos que faziam a festa da vila. Fiquei ouriçada com tamanha ousadia do convite, mas jamais iria me negar a estar contigo numa noite tão oportuna. Disse ao mensageiro: “- aceito sim o convite! Peça que ele me encontre às dez da noite na porta do baile. Prometo que não hei de demorar”. Animada, despedir-me de minha amiga e pedi a sorte de uma noite com o camponês.

Apressada para o baile, eu estava a sentir-me despreparada para um encontro sem os devidos trajes e cuidados. Lembro-me de ter passado numa botica, perto de onde estava com minha amiga, comprei dois perfumes: um para usar antes do baile e outra para usar na saída. Uma jovem dama como eu não deveria sair sem um bom truque. Mais tarde, ao chegar em minha morada, tratei-me de pegar a roupa mais bonita que havia minhas coisas. Fiquei a testar cada uma das peças, para saber qual das roupas eu usaria numa ocasião tão nobre. No final das minhas coisas, achei um vestido branco que cabia bem em mim. Era um vestido longo, delicado, sem muitos detalhes, mas que revelava bem os traços de uma moça. – Este sim! Disse eu, animada. Banhei-me delicadamente, a limpar cada parte de meu corpo e – ao terminar – usei o primeiro perfume que eu havia de ter comprado da botica. Arrumada e perfumada, sai de casa no horário combinado.

Já era dez da noite. Eu chegara tímida no local onde rolava o baile. Por mais que fosse perto de minha casa, eu nunca haveria de ter entrado aqui antes. Em um certo momento, jurei que ele havia de ter me deixado sozinha. Ouso um assovio, viro de costas, vejo uma mão acenando para mim, eras tu a chamar-me ao teu encontro. Tu estavas tão bem arrumado, com trajes elegantes, limpos e perfumados, a parecer até mesmo um daqueles homens da alta corte da grande cidade. Mas tu não estavas sozinho, tua amiga havia de acompanhar-nos ao baile, muito gentil e simpática para alguém que trabalha em uma taberna mal frequentada. Pois bem, sentei-me ao teu lado e trocamos altas prosas, enquanto luzes e sons de violão ambientavam o lugar.

Depois de altas conversas, tu convidaste-me a dançar na frente de todos. Bem, eu não havia de ter preparado nada a tua pessoa, mas aceitei o convite para me divertir. Estava também no meu direito junto aos povos. Na parte de fora, onde havia uma fogueira, nada mais emblemático do que o fogo que nos aquecia. A medida de dávamos um passo, a fogueira só aumentava. O que era aquilo perto de nossos encontros labiais e corporais? Daquelas danças em que nossas roupas colocavam uma nas outras? Não havia inverno para acabar com toda nossa noite. Praticamente víramos as pessoas mais abençoadas de todo o baile. Aplausos de um povo no qual talvez não nos veríamos mais.

Às cinco da manhã, o baile terminou e nós já estávamos em tua casa. Desnudamos de nossos trajes. Mostra-nos os nossos corpos na mesma perfeita das naturezas, banhadas na água que corria em nossa pele. Trocamos por poucos trajes, apenas o necessário para estar na cama (lembrei-me de passar o segundo perfume). Ao deitarmos, tu seguraste a minha mão ao tocar no teu corpo. Nossa fogueira não havia de ter apagado, porque nossos beijos continuaram a ser trocados ali, intensos, fortes, não havia vento que desse jeito. De pouco a pouco, desnudamo-nos de novo num evento legítimo da natureza, o romance na espera mais realista no qual sentíamos o prazer de envolver-nos em cobertas feitas de algodão, a deliciar-me da noite mais natural que tive em toda a minha vida de moça.

Sofia do Itiberê
Enviado por Sofia do Itiberê em 12/09/2020
Código do texto: T7061015
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