A Descoberta Viking

O céu azul surgiu com o sol espalhando seus raios dourados, e o balançar tranquilo das águas contrastava com a tempestade violenta durante a noite. Apenas três barcos, de cinco, haviam resistido à grande procela.

Os homens sabiam que se sobrevivessem àquele mar tempestuoso seria porque conquistas gloriosas os aguardavam. Afinal, por Odin, eram Vikings! Vencer guerras e demonstrar bravura no campo de batalha era o que agradava aos deuses.

Lorde Ingvar organizara a expedição marítima em busca de riquezas e terras férteis, mas agora ele e seus guerreiros estavam mais longe da Dinamarca do que jamais poderiam imaginar.

— Morreram quase metade dos homens, Lorde Ingvar... mas os deuses nos abençoaram, veja aquilo! — disse Sverker, apontando a linha do horizonte. Ele era um dos guerreiros mais experientes da tripulação e homem de confiança de Ingvar.

O que todos os homens começavam a perceber agora era uma fina linha esverdeada com elevações em vários pontos, quase tão vasta em comprimento quanto o próprio horizonte.

— De fato, é terra, deve se tratar de um continente... — disse Ingvar, entusiasmado. — Homens, remem, logo chegaremos à praia!!

Os três barcos, com cerca de vinte guerreiros vikings em cada, logo se aproximaram da costa. O sol queimava seus corpos acostumados às baixas temperaturas da Dinamarca.

Ao chegarem na praia, atracaram os barcos e começaram a desembarcar.

— Como serão os que vivem aqui? — questionava um guerreiro alto e barbudo chamado Ingegerd. — Serão cristãos como os ingleses ou franceses?

— Mesmo que forem gigantes de um olho só, cairão sobre o martelo de Thor — respondeu o baixo e atarracado Håkan.

Ingegerd riu. Ele imaginava que o seu machado era como o martelo de Thor.

— Guerreiros estejam prontos para tudo, não sabemos o que poderemos encontrar aqui! — bradou Ingvar.

Após a praia havia uma vasta vegetação. A maioria dos guerreiros seguiu sob o comando de Ingvar e Sverker para explorar a terra desconhecida, enquanto alguns ficaram tomando conta dos barcos atracados na areia.

— Sverker, eu vi alguma coisa ali... — disse Brynjar, um dos primeiros guerreiros a se aproximar da mata, e uma flecha veloz teria lhe atravessado o crânio, em seguida, se não tivesse ficado presa em seu escudo.

— Muralha de escudos!... — bradou Ingvar. — Arqueiros se preparem!...

Uma saraivada de flechas voou em direção a eles, alguns guerreiros tombaram. Os arqueiros responderam, atirando contra os vultos escondidos atrás das árvores.

As flechas cessaram; e uns homens que, posteriormente, Sverker chamaria de os grandes guerreiros da floresta começaram a sair de dentro da mata. Tinham pele amorenada, cabelos negros e longos e andavam quase totalmente nus. Suas armas eram feitas de madeira ou de pedra, mas seus tacapes pareciam fazer o estrondo de um trovão quando se chocavam com os escudos nórdicos.

O exército viking estava em vantagem numérica de dois para um, e também porque os nativos desconheciam seus machados, espadas e lâminas de aço. Mas, o que deveria ser uma luta fácil, se tornou a batalha mais difícil da vida de Ingvar e seus homens.

A luta foi duríssima. A espada de Ingvar derribou para sempre muitos dos bravos guerreiros nativos. A batalha, porém, estava longe de terminar. Uma nova leva de guerreiros da floresta apareceu no campo de batalha, eles ostentavam penas de aves e pinturas pelo corpo.

Brynjar viu um homem que parecia ser o chefe dos nativos, com um imenso cocar de penas de papagaio, derrubar dois guerreiros vikings como se se tratasse de crianças portando machados. Logo os nativos empunhavam as armas vikings.

— Håkan, estamos perdidos... — disse Ingegerd, enquanto o tacape de um nativo o lançava ao chão. Seu machado, comparado ao martelo de Thor, agora estava nas mãos de um guerreiro inimigo.

— Temos que nos retirar ou vamos todos morrer! — respondeu Håkan. Ele era um excelente guerreiro, como a maioria dos vikings, mas jamais havia enfrentado inimigos tão determinados.

Os nativos, agora, eram maiores em número e avassaladores. Eles nunca haviam imaginado a existência daqueles barbudos loiros e esquisitos, mas buscavam lidar com eles da mesma forma que alguém lida com formigas belicosas atacando o seu corpo.

— Lorde Ingvar, devemos nos retirar? — indagou Sverker.

— Não! Guerreiros... Valhala nos espera!! Lutaremos até o fim, embora o nosso inimigo lutará com bravura igual!! — respondeu Ingvar, mas uma forte pancada na cabeça o deixou inconsciente.

Ingvar, então, saiu do campo batalha para entrar em Asgard... passeou entre os Æsir e viu a figura do deus Odin no centro do salão de Valhala. Percebeu que a deusa Freya lhe dizia algo. Ela tinha longos cabelos negros e um corpo formosamente feminil, andava nua e sua pele morena exalava o perfume das florestas. Ela lhe apontava o caminho de volta.

— Lorde Ingvar, você está vivo?! — clamou Sverker.

Ingvar abriu os olhos sem saber onde estava.

— O que aconteceu? Nos retiramos?...

— Sim. Estamos em alto-mar... A grande maioria dos guerreiros foi destruída. Voltaremos mais experientes e com um exército dez vezes maior para enfrentar esses grandes guerreiros da floresta... Será a nossa maior batalha... — respondeu Sverker.

Ingvar estava deitado no convés do barco e se sentia muito cansado. Levantou a cabeça levemente para ver os guerreiros que haviam sobrevivido. Ingegerd, Håkan, Brynjar e mais cerca de oito guerreiros remavam o grande barco viking, que exibia uma serpente marinha de madeira na ponta da proa.

Todos estavam abatidos pela derrota, e Brynjar observava no convés do barco um pedaço do seu escudo circular, que havia sido quebrado ao meio com o impacto do tacape de um guerreiro nativo.

Nesse momento, ouviu-se um violento trovão e o céu começou a se acinzentar.

— Ouça, Sverker... — disse Ingvar, fazendo um supremo esforço para falar. — Eu vi o deus Odin... e a deusa Freya...

— O quê?... Lorde Ingvar, não morra!! — exclamou Sverker.

Ingvar pôde ainda sussurrar três palavras:

— Estamos todos mortos...

Sverker chorou porque admirava a ambição de Ingvar.

Os guerreiros que remavam estavam abatidos demais para se preocuparem com a morte do seu lorde. Eles queriam voltar para o seu lar, mas havia um mar infinito pela frente, e a tempestade se aproximava. No fundo, cada um deles já sabia o significado das últimas palavras de Lorde Ingvar... Estamos todos mortos.