O MENINO E A NAVE AZUL

Descalço e de alma nobre

O menino que colhia sonhos,

Muitas vidas cheias de sonho ele conheceu.

No decorrer da caminhada passou a juntar o que as pessoas deixavam para trás.

Encontrou uma caixinha,

Devia ser de uma criança que não teve tempo de crescer.

Dentro havia um avião com contornos azuis, um azul celeste, tinha também uma farda branquinha, branquinha, empoada de perfume de infância.

O menino com tempo vago fechou os olhos e começou a sonhar. Sonhou que era professor, médico, padre, cientista, por fim pegou o avião e expressou:

— Isso! Piloto de avião.

Vestiu a farda, que muito bem lhe serviu,

Adentrou no avião, sentou-se confortável, mexeu alguns botões e...

— Opa! Opa!

Quando percebeu estava nos áres, tinha saído do bairro pobre onde morava e em pouco tempo já estava sobrevoando a estátua da liberdade.

Como era bom sentir se livre. Não podia acreditar, estava no topo do mundo, sua condição não o impediu de desfrutar o que havia conquistado.

Após horas no piloto automático Olhou para baixo e viu um número muito grande de habitantes, robôs, maquinas eletrônicas em terra e no ar, nesse lugar o sonhador não desceu, pela primeira vez teve medo, conjitou ser transformado em mutante, e isso ele não se permitia ser.

Voltou a mexer nos botões e já sobrevoava a torre Eiffel, viu gente de vários continentes, a maioria acompanhados; Noivos, amigos, estudantes, até ver um casal folheando um álbum de fotografias, nem a turbulência do voou evitou decifrar a foto de uma criança loira e olhos azuis.

— Seria Esse o dono da caixinha? Não tenho culpa, agora o dono sou eu, eu achei.

O viajante respirou fundo e sem remorsos pousou, se dirigiu a um restaurante, encontrou um prato feito sobre a mesa,

— Porque razão alguém pediria uma refeição e abandonaria intacta?

fez sinal para o atendente que o autorizou, degustou dos mais disputados sabores da culinária francesa. As sobras depositou em uma bolsa lateral. Abastado, sorriu e disse:

— Eu também estou aqui.

Sem perca de tempo voltou a voar, suspendeu os pés, descansou os braços para relaxar, tocou sem intenção em uma manivela, quase colocou seu voou a pique.

— Eita! Eita, cavalo brabo!

Voltou a posição de comandante e por acidente sobrevoava a África, Em um lugar onde a fome dominava. Viu muitos dos seus pedindo ajuda, quis ajudar, Tentou aterrissar próximo de um campo aberto na tentativa de levar o que lhe sobejou da última ceia,

teclou inúmeros comandos na tentativa de descer, a nave se recusou a executar a tarefa. aeronave sem controle apenas trafegava em círculo.

O comandante retornou ao país de origem, assustado pensou:

— Eu deveria ter tentado mais um pouco.

Aterrissou no pátio de uma fábrica de alimentos, agora ele já não era mais um menino, sem tempo de desembarcar, notou um grupo de pessoas famintas embarcando derivados de animais, produtos orgânicos, devidamente selados, com dizeres: Made Brazil.

To: Chinese

Decolou, quis desviar a rota rumo ao continente africano logo desistiu.

Os anos se passaram e ele perdeu a conta de quantas viagens fez, nenhum itinerário para África, quantas vezes pensou em desviar a rota. Quando finalmente criou coragem, precisava fazer da forma correta. Entrou empolgado na sala do diretor da companhia para apresentar o magnífico plano de ajuda humanitária. Não teve tempo de falar, quando ouviu: — Este mês o Senhor não voa. O instrutor de voou Jones Brian, inexplicavelmente pediu demissão, o senhor o substituirá até que façamos uma nova seletiva.

— Senhô...

— A equipe de instrução lhe fornecerá todas as condições.

O piloto ficou confuso, fora rebaixado ou promovido.

Os melhores pilotos do mundo tinham sido alunos de Brian

E os planos de ajudar os irmãos africanos? Isso já não era mais assunto do dia.

No primeiro dia de aula, a sala estava cheia, no decorrer do curso, muitos já haviam desistido, os motivos foram muitos; mudança de carreira, Doenças físicas, psicológicas, problemas financeiros, esses eram os maiores índices de desistência.

Ele reflexivo pensou:

– Muitos tentam, poucos conseguem, eu estou aqui.

O tempo foi passando e o menino foi ganhando algumas rugas, agora em um asilo palestrava contando seus feitos.

— Muitos ficaram no caminho, eu continuo aqui.

Recentimente um de meus alunos foi condecorado por participar de ações humanitárias na África, e isso me enche de orgulho.

outros infelizmente tinham morrido em combates de guerras, lamentou ele.

Os ouvintes embora não acreditavam nessas histórias gostavam de ouvi-lo

De repente um moço com trajes formais, dá um toque nas costas do menino. Que parou de sonhar.

— E você moleque, de onde você roubou essa caixa?

— Eu não roubei Senhor,

— Roubou sim, passa isso pra cá antes que eu lhe dê umas pancadas.

Sentado a beira do asfalto o menino sem a caixa, ainda teve tempo de ver o idoso sonhador perdendo a fala, a voz, até ninguém falar mais sobre ele.