A pescaria do tesouro

Era inverno e, apesar de o quintal da casa da fazenda ter grandes opções de divertimento, a maioria das crianças moradoras dali preferiam a pescaria no açude, que ficava cheio e com muitas variedades de peixes naquela época. Tambaqui e bagre eram os mais fáceis de pegar, mas tinham os que davam mais prazer de pescar, pela dificuldade de puxar depois de fisgados. Mandis e bagres dominavam nesse desafio, além de serem os mais gostosos quando assados na brasa, ali mesmo na beira do açude.

Os riachos que passavam perto faziam sangria e abasteciam o açude de água e de peixes nativos. Traziam também outras coisas que eram arrastadas pelo caminho.

Naquele dia, não pegamos muitos peixes. Assim, mais cedo do que de costume, todos recolheram seus apetrechos de pesca para retornarem para casa. Menos eu, que não tinha muita habilidade em botar a isca e, na maior parte das vezes, apenas torcia para que alguém pegasse um peixe “bom de briga” - daqueles que dão trabalho para puxar - resolvi, especialmente naquela tarde, fazer diferente: eu queria jogar a última isca. Preparei o anzol e lancei n’água. Não demorou muito e percebi que algo pesado estava na vara da pesca. Dada a dificuldade de içar, logo conclui que poderia estar enganchado em alguma rama lá no fundo.

Quando, enfim, tirei da água, foi possível ver que se tratava de uma bolsa feminina, apesar de estar coberta por uma lama escura e visguenta, dando a entender que a mesma permanecia ali por muito tempo. Estava bem fechada, mas era possível imaginar que havia algo dentro dela. Todos se aproximaram. Limpamos a bolsa e verificamos que o seu interior era feito de um material impermeável, o que evitou que a mesma estivesse encharcada por dentro. Ali havia muitas coisas, como pequenos brinquedos infantis, batons, escova de cabelo e utensílios de beleza. Entre tantos, um nos chamou a atenção: um relicário com um coração e nele uma foto de criança. Tudo muito bem preservado.

Ao voltar para casa, mostrei para minha mãe e ela lançou um olhar de espanto e de alegria, enquanto olhava a fotografia. Não teve dificuldades para identificar a imagem: era ela mesma quando criança. A bolsa foi de sua mãe, minha avó. Ficamos ao redor de minha mãe e foram horas de emoção, de saudades e de recordações.

Mais tarde, contamos à família toda sobre o ‘achado’. A pescaria foi ao encontro das memórias, um misto de aventura e de imaginação. Uma vivência que proporcionou criarmos fantasias e, não somente isso, mas também fazer daquela pescaria uma grande e inesquecível história: a pescaria do tesouro.

Luzinete Fontenele
Enviado por Luzinete Fontenele em 29/09/2021
Reeditado em 30/09/2021
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