Rasol

A conversa foi retomada ao redor da mesa do almoço, enquanto Marlena colocava os pratos diante do filho e da convidada.

- Espero que goste de sopa de beterraba e de rasol - desculpou-se Marlena com um sorriso simpático.

- A cor está muito bonita - redarguiu diplomaticamente Varvara, enquanto era servida com duas conchas cheias de um creme rosado, onde boiavam pedaços de ovo cozido.

- Imagino que em Júrmala vocês também tomam a sopa antes do prato principal - prosseguiu Marlena, sentando-se após servir o filho e a si mesma.

- Naturalmente... não somos assim tão diferentes de vocês de Nyutauna - Varvara avaliou. - Embora, às vezes, a sopa já seja o prato principal; apenas reforçamos o caldo com batatas e abóbora, principalmente no inverno.

Provou a sopa e fez cara de aprovação.

- Está muito boa!

- Espere pelo rasol! - Animou-se Sedriks, sentado ao lado dela.

- Meu filho é suspeito para falar das minhas habilidades culinárias - minimizou Marlena, com modéstia.

- Então, os livros não são sua única paixão? - Questionou Varvara, catando os pedaços de ovo cozido com a colher.

- Aprendi a gostar de cozinhar com o pai de Sedriks - disse Marlena com ar pensativo. - E Sedriks também aprecia o meu tempero, portanto...

- Cozinhar é um ato de amor - resumiu Varvara.

Marlena a encarou, surpresa.

- Sim, acho que não teria dito melhor - aprovou.

Sedriks lançou um olhar de ternura para a mãe, que correspondeu com um meio sorriso. Felizmente, Varvara não perguntou o que fora feito de Raimons Matisons, pois isso teria quebrado o clima agradável da conversa. Todavia, Sedriks trouxe à baila outro assunto abordado pela manhã na biblioteca.

- O que houve com essa senhora, Niedra?

- Nada demais - redarguiu Varvara. - Já era idosa e morreu sem se aposentar... daquele tipo de pessoa que quer trabalhar até o último dia da vida, imagino.

- Gosto muito do meu trabalho, mas não quero esse destino pra mim - comentou Marlena em tom bem-humorado. - Quem quer rasol?

Duas mãos se ergueram do outro lado da mesa e ela se ergueu para retirar os pratos de sopa. Mas foi seguida de imediato por Varvara.

- Deixe que eu levo os pratos para a cozinha - ofereceu-se.

- Bem... obrigado - Marlena voltou a sentar-se e lançou um olhar de cumplicidade para Sedriks, que se fez de desentendido.

- Você tem irmãos? - Indagou Marlena em voz alta, enquanto Varvara colocava os pratos usados na pia.

- Não, sou filha única - informou Varvara, voltando.

Sentou-se novamente em seu lugar e Marlena começou a servir a tradicional salada de batata com arenque.

- Diga quanto chega - solicitou.

- Particularmente, adoro rasol - afirmou Varvara, recebendo em troca uma porção generosa. Provou e declarou solenemente em seguida:

- Se eu não repetir, será apenas por educação.

- [Continua]

- [26-03-2022]