A ÍNDIA DE OLHOS VERDES - (dedicado ao poeta Antonio de Albuquerque)

 

 

Antonio seguia floresta à dentro, em mais uma das suas aventuras. Mochila com o básico, boas botas, biscoitos salgados, água e barrinhas de cereais, repelente, chapéu e um binóculo potente. Era um observador da Natureza por prazer, viajava pra todo lugar em busca de paisagens deslumbrantes e escondidas, registrava tudo em diários, quem sabe montaria um livro.

 

Não tinha por hábito se arriscar muito, até porque era um curioso e não um desbravador ou tinha treinamento. Como viajava sozinho, tomava muitos cuidados, só queria conhecer e se encantar.

 

Já havia observado uns insetos diferentes, pássaros com um mix deslumbrante de cores e folhagens que exibiam seus verdes majestosos. Parou num ponto mais aberto, tipo uma clareira no meio da mata, para beber um pouco d'água e, fazer algumas anotações.

 

Escutou um farfalhar de folhas e olhou para cima, era um grupo pequeno de macacos, curioso com a presença dele. Antonio ficou olhando o movimento deles, vendo quem parecia ser o líder. Tendo uma maçã na mochila, cortou a fruta em quatro com um canivete, colocando sobre um tronco seco, bem à sua frente. Ficou quieto como uma pedra, observando a reação dos bichinhos, logo um deles se aproximou ressabiado, mas, como são muito curiosos mesmo, o rapazinho pegou um pedaço da maçã e, correu de volta ao grupo, aos poucos outros chegaram e lá se foi a maçã. 

 

Antonio anotou tudo no diário, levantou-se e seguiu caminho próximo ao rio, estava na Amazônia e não se atreveu seguir mais longe dentro da floresta, já fazia o caminho de volta à canoa, quando percebeu um par de olhos verdes escondido entre as plantas, apressou o passo pois podia ser gente ou um felino grande, era melhor sair dali. Dentro do barco estaria mais seguro, só que não houve tempo.

 

Surgiu à sua frente um Índia pequena e linda, trajando apenas sua cor de jambo, um tira de cipó fininha entrelaçada de sementes coloridas na cintura, nas maçãs da face dois traços de tinta de urucum e levava nas mãos, um arco com duas flechas.

 

Plantou-se diante dele como uma onça, com os olhos tinindo de verde vibrante e ele não conseguiu esboçar uma reação sequer. Ela ficava rodeando o corpo dele, de quando em quando, lhe espetava com uma das flechas, ficava sentindo o seu cheiro, a situação era tal qual a dos macaquinhos...curiosidade.

 

Antonio foi se dirigindo devagar até a canoa, entrou e saiu remando devagar, sempre olhando de rabo de olho, estava com medo dela lhe fechar. Quase que dá mesma forma que ela surgiu num repente, sumiu se embrenhando na mata.

 

Ouvindo semanas depois esse relato, diretamente da boca do meu amigo Antonio, tive plena certeza, que devem ter faltado folhas em seu diário, para contar a sua nova aventura.

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 09/06/2022
Reeditado em 10/06/2022
Código do texto: T7534397
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