Achtung, Greta!

Ainda em seus uniformes azul-marinho de reservistas da Guarda Costeira, Jeanne Rowland e Wanda Willis tiraram os sapatos na calçada que ladeava a praia e com eles nas mãos, correram pela areia fofa sob o sol da tarde, rumo à arrebentação. Ali chegando, molharam os pés na água fria do mar.

- Estou de volta, Atlântico! - Comemorou Willis, abrindo os braços.

Fora as duas garotas, a praia estava praticamente deserta. Não era somente o frio da primavera que mal começara que espantava os frequentadores: o acesso à orla em Long Island estava restrito, e quem ainda circulava por ali ou usava uniforme, como elas, ou residia na área.

- A água aqui é sempre gelada assim? - Questionou Rowland, com uma careta.

- Aqui é mar aberto, só deve esquentar no verão - ponderou Willis, olhando ao redor com as mãos nas cadeiras. - De qualquer forma, não estou vendo ninguém de maiô...

- É muita água - admirou-se Rowland. - Fico pensando como as pessoas têm coragem de atravessar tudo isso para chegar à Europa!

- E olha que o mar está calmo - redarguiu Willis. - Meu pai falava das tempestades que pegou no Atlântico Norte, e hoje está muito mais perigoso, com todos aqueles submarinos alemães afundando os nossos navios...

As duas ficaram em silêncio por um momento, como se o diálogo pudesse cair em ouvidos impróprios. Finalmente Rowland retomou a conversa:

- Mas aqui é muito bonito, de qualquer forma!

- O mar é como você esperava que fosse? - Indagou Willis com um sorriso complacente.

Rowland balançou a cabeça.

- É bonito, mas dá medo. Fico feliz se não tiver que pegar mais do que a balsa para Staten Island...

- E isso se você quiser ir realmente conhecer Staten Island - zombou Willis. - Mas que raio de reservista da Guarda Costeira é você, que tem medo de água?

- Eu não tenho medo de água - protestou Rowland. - Nado muito bem, você sabe. Mas uma coisa é um rio, lago... e outra é... isso.

E apontou com um dos sapatos para a massa cinzenta que se quebrava contra a areia.

- Você tem razão em respeitar o mar; isso aí, mata pessoas - ponderou Willis. - Mas se tiver cuidado, pode ser divertido também.

Segurou os sapatos com uma das mãos e colocou a outra em pala sobre os olhos:

- Pelo menos, no verão. Ei, parece que vamos ter companhia!

Um guarda costeiro vinha vindo pela orla, rifle M1 na bandoleira, um pastor-alemão caminhando ao lado dele preso numa guia. Sorriu ao ver as duas garotas e prestou continência.

- Boa tarde, reservistas! São do posto de Montauk?

Rowland e Willis retribuíram a saudação.

- De onde nós somos é informação classificada, marujo - replicou Willis bem-humorada.

- É ele ou ela? - Indagou Rowland, apontando para o cão, obedientemente sentado ao lado do condutor.

- Ela - afirmou o rapaz. - Esta é Greta, convocada para o serviço do Tio Sam. Cumprimente as moças, Greta!

A cadela lançou um olhar inteligente para as duas jovens e ergueu uma das patas dianteiras. Rowland riu e inclinou-se para apertar a pata.

- Espertinha que ela é! - Elogiou.

- Tão esperta que quase pegou uma espiã nazista mês passado - declarou o rapaz baixando a voz.

- Nossa! - Exclamou Rowland, olhos arregalados.

- Mas vocês não devem comentar isso por aí - acrescentou ele em tom conspiratório. - O caso está sob investigação do FBI.

- Não vamos comentar - prometeu Willis erguendo a mão direita. - Somos boas em guardar segredos.

- Assim espero - disse o rapaz. - E agora que sabem o nome da minha companheira de patrulha, permitam que me apresente: marinheiro de primeira classe Andrew Reese!

- Eu sou Jeanne Rowland e essa é Wanda Willis - apresentou-as Rowland.

Houve uma troca de apertos de mão e mais sorrisos.

- Eu vou vê-las de novo? - Indagou Reese consultando o relógio de pulso. - Não posso me atrasar na ronda ou meu sargento me mata!

Rowland e Willis riram.

- Lembrei da Carson - disse Rowland cobrindo a boca com a mão.

- Sempre que tivermos folga em Montauk estaremos por aqui. Ou, quem sabe, indo conhecer Staten Island...

- Staten Island? Por que não Manhattan? - Questionou Reese, fazendo um sinal para que Greta se erguesse.

A cadela se espreguiçou, sacudiu a areia do pelo e empinou as orelhas.

- Longa história - replicou Willis. - Fica para outro dia!

- Vocês me devem a conclusão! - Disse Reese, recomeçando a andar.

Acenaram para o rapaz, que acenou de volta e retomou sua ronda pela orla. As duas ficaram ainda alguns instantes acompanhando-o enquanto ele se afastava, e depois voltaram lentamente para a estrada, onde um jipe as esperava.

- Eu dirijo - anunciou Willis.

- Está bem - acatou Rowland. E voltando-se para o mar, afirmou:

- Nós vamos voltar.

- Vamos sim - prometeu Willis, dando a partida.

- [25-11-2023]