A COR DA CHUVA INFANTIL

O calção do Jacinto sonhava velas e fogo, suas nádegas apareciam como que pássaros a quererem voar para não sei aonde, que livres queriam estar. Os troncos nus é o mais aconselhável para nós, crianças de infância velha, que brincamos sem ostentar o crescimento.

Uma avenida, um caminho sem estrelas, uma canção. O sol que fala é a chuva que dança. Têm a voz de alcatrão e brita. As pessoas vivem neste lugar há anos, uns dizem que esta avenida não merecia ser vivida por pessoas assim, que crianças mereciam mais chuvas do que sol. Mas nós sabemos que a cada dia, os que usurpam estão por perto. Os quatro cantos dela repousam sobre eles, nos olhos fechados, a apontar para mais um dia de rachar a coragem de quem duvida que o trabalho mais fácil é andar com o indicador no gatilho.

Enquanto que brincar sob a chuva, os adultos, os adolescentes, os mais velhos, cada um, com os seus passos, procrastinam na chuva de sol a cair; e os que reinam a jactância buzinam os prazeres da pobreza. De vermos se iam as imagens do céu; do vento, a eternidade dos sons, com uma farra zombando da banga dos sem teto, com os rios lavando as lágrimas e os gritos dos sem estômago.

Lá fora está um bocado de tempo a escorregar a chuva.

O filho do Sr. Jeremias é o mais astuto que nós, os mais inexperientes. Sua artimanha de fugir sempre que lhe apetece já se tornou surra para nós, sempre que a areia da praia nos denunciava. Tinha sempre uma ideia a acrescentar nas brincadeiras nossas.

— Que tal brincarmos de escorregadio? — disse ele para nós.

O campo está com um bocado de regras de águas. Desta vez a mãe não vai me trancar como de castigo, pois o pai já sabe que minha voz lhe saudou com o pedido, então, se eu chegar a cor dum porco, a culpa será dele, não me minha; e a mãe, que bata ele, não eu.

— O José não deve escorregar. — queixou o filho do tio Pache, gordo desde sempre. Parece que a sua barriga só sabe esbanjar pratos de qualquer dimensão divina, chegada ao céu. — senão a mãe dele vai falar e ele vai nos queixar.

— Não é nada, a minha mãe não vai me bater. — defendia-se José.

Subimos à um pequeno cume. Para baixo via-se a casa do João, do Jacinto e... via também o meu pai a conversar com o um senhor. Ele também está a brincar com a chuva?

Os meus amigos viam ele e me zombavam, dizendo que os mais velhos deviam estar lá dentro, quando chuva cai.

— Então também aquele senhor que está com o meu pai também uma é criança! — disse com orgulho, na defesa de meu pai.

Conto_angolano

Teríolo Ryus
Enviado por Teríolo Ryus em 02/12/2023
Código do texto: T7945394
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