Eu me lembro

Toda vida é uma história,

lógico que nem toda é interessante

esta pode ser importante emocionante...

Minha mãe já tinha bem mais de 90 anos, no ano de 2008, mas a sua lucidez era impressionante, na sua jornada desde sua infância foi de verdadeiras lutas. De uma certa distância percebo aquela senhora Maria Vitória caminhando no corredor de sua casa, com sua bengala, passos decididos, dava pra perceber nitidamente que refletia bastante.

Na minha mente sentia numa certa apreensão, pensei:

--- Ali está uma intrépida batalhadora, pela quantidade de seus feitos não era surpresa se muita gente considera-la uma heroína. Continuava com meu monólogo:

--- Jesus, ela foi sua fiel seguidora, imensidão de alunos do catecismo, hoje pais, avós, comprovam isso. Quantidade de pessoas a procuravam ora por uma simples ajuda de bens materiais, ou ajudas espirituais. Na ajuda material ela ajudava como podia, o pouco que possuía, ajudava aqueles que eram bem mais necessitados, na ajuda espiritual era farta, isso ela possuía em abundância, sua fé era algo maravilhoso, difícil aqueles que lhe pediam orientações relacionadas com esses mistérios insondáveis que voltavam insatisfeitos. Na sua convivência com os padres desde sua mocidade, angariou verdadeiros conhecimentos da sua religião, o catolicismo. Não que ela abominava outras religiões, pelo contrário respeitava todas, mas se escutasse ofensas sobre sua religião ela defendia com unhas e dentes. Nos trabalhos da igreja ela era incansável. No catecismo com as crianças, com os jovens, o seu empenho nos teatros, uma diretora nata, até nas animações dos efeitos especiais.

Senhor Jesus, (continuava com minhas indagações) pela lógica desse mundo minha mãe se aproxima de sua jornada final e depois nada!?... Algo me enchia a mente, queria entender aquela situação desse negócio do sobrenatural.

Interessante caros leitores, que este retrospecto que permitiu lembrar da vida de minha mãe, ou nossa vida em si, afinal dona Maria Vitória teve 16 filhos, se passou em pouquíssimos minutos, ainda deu pra lembrar que ela lidava tanto na igreja, até deixava os filhos crianças ainda por conta dos mais velhos. Lembrei quando queimei com agua quente, quando minha irmã teve queimaduras terríveis com álcool. E assim ia lembrando. Eu pretendia conversar com ela, deveria continuar sua biografia, escutar histórias e mais histórias que ela tinha o prazer em contar. Então eu ia pensando:

Minha mãe católica até no fundo d’agua, minha esposa evangélica também atuante extremamente, apesar das diferenças de crenças eram amigas nitidamente, deixavam as convicções de lado e havia muita compreensão. Eu estava no meio. Caminhava sem deixar de pensar muito:

--- Quando chegar perto de minha mãe, ela quase certo me perguntará se estou indo aos domingos na missa, quanto tempo que não confesso ou se pelo menos estou seguindo a religião de minha esposa e por aí se vai...

E depois de muito tempo isto é uns dois minutos estava eu cara a cara com minha mãe.

--- Oi, mãe.

--- Como vai meu filho?

--- Vou bem mãe, vi a senhora e acho que seria bom continuarmos as histórias para concluir tua biografia.

--- Ah! Lourenço, eu vi que você estava vindo e me veio na mente uma coisa importante que quero te dizer.

Suspirei fundo e pensei que já vinha sermão!

Dona Maria Vitória na sua esperteza estupenda parecia que lia meus pensamentos e deu uma risadinha dizendo:

--- Não é novidade nenhuma eu morrer hoje, amanhã ou daqui alguns poucos anos, já estou velha e peço, seja feita a vontade de Jesus. Só tenho que agradecer a Ele por tudo que me proporcionou, a minha família, os meus amigos, até nos momentos tristes porque sei que nada acontece por acaso. Tudo que eu procurei fazer foi por amor a ele, até quando deixava vocês mesmo pequeninos por conta de suas irmãs mais velhas e ia fazer meus trabalhos paroquiais, eu ia consciente porque estava fazendo os serviços dos mestres dos mestres, o Senhor dos senhores que é Jesus.

E é isso aí meu filho, nas escrituras está escrito, tudo o que fizeres, por mais importante que possa parecer, se não tiver amor nada é válido, mas esse amor é aquele amor verdadeiro incondicional, é tão importante que o próprio Deus se fez homem e sofrer os horrores na própria carne por amor por nós.

Em 2010 minha mãe a senhora Maria Vitória Florentino faleceu. Eu ainda insistente sempre dizia:

--- Jesus, ela tem que estar no Céu com seus santos!!!...