4. O Cubículo Universal

Era uma madrugada de um dia qualquer, Giordano sentia que a maciez de seu colchão estava perturbada pela sua mente inquieta que se recusava em capitular diante da potência de Morfeu.

Na parede de suas pálpebras, fechadas, rodava um filme de atos desconexos e personagens grotescos. De vozes indistinguíveis, ressoando em sua mente, eram proferidas sentenças de ódio e, ao mesmo tempo, de amor – que ânsia era aquela que o fazia dirigir sentimentos diametralmente opostos em matéria, mas igualmente intensos em forma, para ninguém? Ou seria para todos?

Consternado, abriu seus olhos, e encarou a escuridão irreal de quem espera suas vistas se ajustarem às parcas luzes de uma madrugada cadavérica.

E lá estavam: os mesmos filmes. Rodavam. Rodavam. Cenas de todo caráter passavam pelas paredes daquele Cubículo Universal – ele via, em destaque, projetado na porta de madeira branca, o início dos tempos, a explosão primeva.

O que havia antes? Questionava-se, mentalmente! O que havia antes?

- Quer mesmo saber a resposta? Balbuciou, em seus ouvidos, uma voz esplendorosa.

- Quem pergunta?

- Você quer saber a resposta de qual das perguntas? Só é possível escolher um caminho – respondeu aquele tenor

O pânico da escolha tomou conta de seu ser: por que essa responsabilidade? Por que essa liberdade? O peso da escolha é inexorável! Quem lhe permitiu tais poderes? Seria tão mais confortável se pudesse delegar tais competências...

Para todo sim, há um não. E todo não é um como um prego martelado nas vísceras da mente daquele que deseja abocanhar todo o mundo com uma só dentada. Malditos nãos!

- Escolha, garoto! Quanto mais procrastina mergulhado no estupor de sua mente humana, mais a verdade se acanha. A verdade é atraída pela virilidade! Seja viril!

- Quero saber quem és tu, voz celestial! – vociferou, altivo, Giordano.

- Deus!

A resposta ecoou pelas paredes apagando vagarosamente todas aquelas projeções, as fantásticas e as grotescas. Um silêncio implacável tomou o lugar da ânsia fervorosa. Por alguns segundos, Giordano notou o peso do ar sumir. Tudo fluía. Fluía...

Sentiu, de repente, um tapa em sua consciência: ele fizera a pergunta errada. Seria aquilo verdade? O que é a verdade? O que é a verdade? O que é a verdade? O que é a verdade? O que é a verdade? A ânsia retornou.