APENAS MAIS UM MOTIVO
Quase todas as histórias têm começo, meio e fim. Esta para variar um pouco começará do fim, ou melhor, do começo do fim...
Já tinha se passado alguns anos desde aquele encontro que mudou a história da vida daqueles dois. Continuavam eles em sua busca incansável pela PAZ duradoura. Nestes tempos modernos, a PAZ não era algo comum de se encontrar. Conquistá-la dava um trabalhão. Perdê-la era, ao contrário, muito fácil e rápido.
Era preciso mais do que simplesmente desejá-la, mais do que somente acreditar que se a encontraria, mais do que ansiosamente esperá-la.
Era preciso ter FÉ.
A verdadeira FÉ não está à venda, não se encontra nas prateleiras de um supermercado, nas entrelinhas das publicações de autoajuda ou nos testemunhos previamente ensaiados.
É preciso TER FÉ !
Ouvimos dizer frequentemente: Não perca a FÉ ! Tenha FÉ ! Mas como entender este sentimento tão particular e ao mesmo tempo tão misterioso.
Foi o que eles descobriram naquela noite.
Começava a esfriar e como em todo inverno naquela cidade, não se saía de casa à noite a não ser que fosse realmente necessário.
Tinham acabado na dispensa alguns produtos básicos de primeira necessidade. Nada porém que não se pudesse esperar pelo dia seguinte. Com o raiar do sol as manhãs se tornavam um pouco mais quentes.
O relógio já passava das 20:30 hrs. Sinais seguidos pareciam querer impedir uma saída àquela hora da noite. A chave da porta tinha sumido, o carro não pegava, o controle do portão não funcionava, o telefone tocava e na TV da sala a moça do tempo informava que se aproximava uma forte tempestade.
Vencidos com determinação todos os obstáculos, enfim estavam eles a caminho das compras. As ruas estavam desertas. As pessoas que ainda não tinham voltado para casa estavam à espera da condução, abrigadas do vento sob aquelas coberturas de plástico duro.
O supermercado igualmente vazio protegia do tempo que fechava mais alguns teimosos e um punhado de funcionários que não viam à hora de fechar as portas.
Entra no carrinho, sai do carrinho, entra no carrinho, sai do carinho, entra no carro. Nestas horas parece que este tira e põe não tem fim.
No estacionamento não se via uma viva alma.
Acomodadas as compras, restava-lhes voltar pra casa o mais rápido possível.
Neste momento, com o carro já ligado, um homem alto, forte e aparentando estar desorientado bateu no vidro do motorista e gritou em voz alta:
-“Desce os treis senão eu istóro os miôlo” (sic).
Por um instante pareceu-lhes terem carregado junto para o supermercado a filha menor que preferira ficar em casa.
O homem gritou mais uma vez, desta feita já tentando abrir a porta do passageiro. Gritava ele:
-“Ai maluco, se não abri eu atiro” (sic).
Desta vez os dois olharam para trás e sem entender nada, nada viram. Quando voltaram os olhos novamente para frente um cano de revolver era apontado na direção deles. E então um silêncio ensurdecedor tomou conta dos dois.
O marginal tentava a todo custo descarregar a arma que milagrosamente parecia travada. Depois de algumas tentativas pareceu-lhes que o homem havia por fim desistido.
Foi neste momento que ouviram uma voz serena e tranquila vinda da parte de trás do carro que dizia:
“Apressem-vos em ir para casa. Estarei sempre convosco.”
Não entenderam nada, pois novamente nada viram. Ainda trêmulos trataram de sair dali o mais depressa possível.
Na manhã seguinte souberam que o marginal foi rendido pelo segurança do supermercado. Ele relatou em seu depoimento
a polícia que se o passageiro “barbudo e cabeludo” sentado no banco de trás tivesse “dado mole”, tudo teria saído diferente.
Deste dia em diante a FÉ que andava um pouco abalada, ressurgiu com toda força. A certeza de que JESUS andava com eles e que os tinha privado de sofrer um mal maior, deu-lhes o que todos nós precisamos quando estamos em busca da PAZ...
Ter FÉ e acreditar que JESUS está ao nosso lado nos protegendo.
Hoje em dia, conforme já relatei no começo desta história, eles continuam buscando a PAZ. Sabem agora porém, que ela se conquista a cada dia que passa.
A diferença é que hoje eles buscam a PAZ com uma FÉ inabalável e com a certeza de que em breve, irão conquistá-la definitivamente.
Rodrigo Munhoz