A inauguração

Era de manhã, quando estava prevista para uma hora mais tarde, a inauguração da biblioteca da cidade.

Um importante evento religioso, que estariam presentes, o prefeito, dois importantes senadores, o cônsul, o bispo e a figura ilustre do papa.

Todos chegaram sem nenhum atraso, inclusive o sumo-pontífice. Os dois senadores foram os últimos a chegar a inauguração. Documentos da biblioteca estavam nas mãos do bispo. Ajoelhou-se o prefeito em frente do religioso máximo e decorosamente em suntuoso traje para acontecimentos importantes, beijou os pés dele. Retribuiu o idoso religioso com uma benção dita em latim e um sinal no frontispício.

Uma luz fractal trespassava perpendicularmente das duas janelas de vidros azuis.

Os senadores trajavam ricos trajes nas cores respectivas; azul e vermelho.

Iluminado os olhos do bispo, ao saber viva-voz do papa, que seria o administrador da biblioteca. Ele sentiu uma satisfação interior semelhante ao ter vencido uma guerra em nome da fé cristã.

As colunas ornadas de celeste azul e incrustações douradas nas extremidades, davam a sensação de uma perspectiva empolgante, quanto mais o verde-musgo da última coluna que parecia iluminar verticalmente o átrio que dava acesso à porta de entrada da biblioteca.

Era preciso uma confortável cadeira estofada, para comportar a digníssima figura que ali sentou.

A pose que figurava no rosto do prelado era de reconhecimento, seus olhos vagavam baixos para a figura do imponente papa, ora para as colunas ornadas de ouro. Estava usando um colar de ouro branco.

Ele parecia perceber umas hachuras no que se constituía o halo de cabelos da cabeça do religioso. Um que agora entrava e se punha na presença do bispo, cochichava a meia-voz algumas palavras com ele. Terminado isto, dignou-se humilde cumprimento a santa santidade, tal como um reverendo na presença de um santo corregedor.

Terminada a cerimônia de abertura, o intendente bispo, adentrou na biblioteca, seguido dos outros presentes.

Composta simplesmente de estantes, com livros longos, alguns redigidos por alguns monges copistas, esses eram os objetos que se viam na biblioteca, quanto aos assentos, eram todos riquissimamente produzidos. As cadeiras, mesas, todas eram de madeira que resistiria com luxuosidade por até quinhentos anos.

Ao saírem da biblioteca, voltaram ao átrio, conscienciosos de terem participado do marco de um importante local de médios concílios secretos, todos eles com a supervisão e aval do bispo.

Após algumas palavras de agradecimento do cônsul dirigidas ao papa, ficara na memória dele, uma brecha por entre uma das estantes. Uma possível passagem secreta.

Prontos para irem embora, todos se olharam sabendo de um seguro local, caso quisessem se reunir com extrema necessidade.

***

São Paulo,

05 de novembro de 2008.

*Foi baseado no quadro 'Inauguração da Biblioteca do Vaticano', do pintor italiano Melozzo da Forli.

Felipe Valle
Enviado por Felipe Valle em 19/08/2016
Reeditado em 19/08/2016
Código do texto: T5733771
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