Antes de Partir

Capítulo 2
 
   Na manhã seguinte levantei as dez horas, não parecia que havia dormido por tanto tempo, meu corpo estava cansado, mas era preciso largar a preguiça e procurar o que fazer.  Como tratava-se de um sábado, não iria precisar trabalhar, quando me formei em economia não esperava que trabalhar em uma agência bancária poderia ser tão entediante.
   Coloquei o vinil do U2 para tocar, gastei muitos dólares para conseguir essa raridade, mas não havia do que arrepender-me, vinil sempre será vinil. Enquanto fazia a barba lembrei de algumas pequenas tarefas para o dia, como ir até o supermercado com minha lista de compras. Também tinha de ir passear com Luke, meu labrador.
   Depois de alguns anos guardando a maior parte de minhas economias, consegui finalmente comprar minha casa, não era lá grande coisa, mas servia perfeitamente para mim. Tinha disponível: um quarto, uma sala, cozinha e um banheiro, além claro, de alguns metros quadrados de quintal atrás da garagem.
   Nunca me interessei muito por carros, sempre vou trabalhar de bicicleta ou com minha moto. Percorro as ruas da cidade quando estou entediado, procurando algo que me faça parar para admirar, o que tem se tornado difícil ultimamente.                       
   Luke praticamente me arrastava pelas ruas, precisava deixar meu braço totalmente esticado e dar passos largos para que o cachorro não me fizesse tropeçar. Parava a cada três metros para cheirar uma árvore qualquer. Decidi levá-lo até o parque, costumava fazer isso antes com Anna e deixei de fazer porque até mesmo aquele simples gesto me lembrava dela. Mas aquilo já não fazia tanta diferença para mim.
   O parque não era tão grande, só uma árvore envolta de um lago meio sujo, já descongelando, os patos que viviam ali ainda não tinham voltado. Sentei em um dos bancos de ferro, me esticando para soltar a guia da coleira de Luke, que correu logo em seguida. Encostei-me no banco, observando o formato do vão entre as copas das árvores que me permitia ver o céu, mas na verdade aquilo não tinha formato de nada, era só uma mancha azul no meio das folhas que começavam a se esverdear.
- Bash? 
   A voz que me chamou por um apelido daqueles que são familiar e extremamente característicos de quem pertencia.
 - Juliette. - Não me dei o trabalho de me endireitar ou de perguntar se ela queria sentar também. - Como vão as coisas?
 - Não tão boas quanto eu queria que estives... Luke!
   Juliette foi interrompida pelo cachorro, que cheirava suas pernas e abanava o rabo contente. Faziam anos que os dois não se viam e ele ainda se lembrava dela. Pelo visto Luke se importava mais com as minhas ex-namoradas do que eu mesmo. Eu não lembrava se ela tinha voltado à cidade ou se ainda estava com os pais no interior, não me importei muito em saber dessas coisas.
- Mas, como estão as coisas? - Ela voltou a falar.
- Não muito diferentes do que deve se lembrar, me formei e ele está maior do que deveria estar. - Apontei para Luke, que ainda andava em círculos ao redor dela.
- Nada muito diferente mesmo. - Ela pigarreou e desviou o olhar. - Estou morando próxima ao centro, talvez se quiser passar por lá seria bom conversar um pouco.
 
- Não sei, estou ocupado com algumas coisas e o trabalho também está tomando muito meu tempo. - Menti. Não quis ser gentil com ela, mas também não precisava ser rude.
   Juliette ensaiou um meio sorriso e assentiu com a cabeça. Murmurando um "até logo" ela deu as costas e foi embora. Prendi Luke mais uma vez à guia quando o cachorro ameaçou ir atrás dela, e me levantei o puxando levemente na direção oposta.

- Você é simpático demais, tem que parar com isso. - Balancei a cabeça e continuei andando.

 
 
Johan Henryque e Carolina Tavares
Enviado por Johan Henryque em 21/12/2016
Reeditado em 15/02/2017
Código do texto: T5859881
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