A neblina

Esguia e sorrateira ela desce, cegando os olhos e perturbando os ouvidos ela destrói o senso de direção das pessoas. Costuma aparecer nas primeiras horas da manhã e nas primeiras horas da noite.

O medo surge no coração dos homens e os desorienta, a massa cinzenta os acompanha e dança em volta daqueles que nela caem.

Os nativos da ilha de São Francisco a conhecem bem, a sombra branca. Transformando toda a ilha numa nuvem misteriosa.

Diziam os moradores que conforme as horas da noite se aproximavam a neblina descia espalhando o ar gélido pelas ruas de pedra. As lamparinas presas aos postes e nas paredes de alguns casarões se tornavam opacas, uma vaga luz em meio ao mar branco.

Diziam também que aqueles que se aventuravam nas altas horas da madrugada se perdiam e desnorteados eram tentados a cometer as mais diversas loucuras. A massa branca moldava ilusões àqueles que a subestimavam.

Relata-se que muitos pescadores que se arriscavam a driblar a neblina não voltavam e ainda havia aqueles que diziam que asestranhas aparições surgiam em meio à névoa.

Os casos mais peculiares se davam na localidade das Paulas, e na pequena colônia de pescadores o medo se espalhava nos meses da neblina. Outro medo os cercava, era da aparição de um imponente cavaleiro que seguia entre as encruzilhadas do local, havia também um frade que espantava a todos com seus surtos, mas que logo sumia na neblina.

O maior mistério era de uma moça que caminhava assustada em meio à névoa, aqueles que a viam tentavam chamá-la, mas era impossível, ela continuava a caminhar desorientada até sumir.

Muitos dizem que a garota foi assassinada em razão de um amor não correspondido, seja qual for o motivo, ela é a visão mais perturbadora projetada pela neblina.

Ainda hoje a neblina cai nas ruas de São Francisco, espalhando seu mistério por todas as artérias da ilha. Quanto às visões, muitas se perderam, mas ainda hoje é possível avistá-la, se você tiver coragem.