A chegada - Tony Ventura - parte 01

Numa noite de verão qualquer, em alguma casa munida de churrasqueira, envolvidos na roda de conversa, Tony, Arthur e André comparavam suas estatísticas femininas. Arthur havia pego três garotas em apenas uma noite, inclusive dançou com uma quarta - de apenas cinquenta e sete anos - sacaneou André.

- É verdade, mas eu estava bêbado e a balada estava no fim... fez a ressalva, Arthur.

Deveras, em uma das mãos ele segurava um copo de cerveja, enquanto na outra apalmava a mão da velha senhorita. Sem nenhuma destreza ou orgulho, bailava com a aquela senhora. Sorria sem pudor, estava completamente bêbado. Estava leve. Uma cena no mínimo para ficar para a história.

André era comprometido, mas se recordou da velha época: das festas e churrascos da faculdade. Num desses churrascos, naqueles ditos "open bar", bebeu até não se aguentar, e já numas tantas, longe dos amigos, topou com a maior menina que já viu. Literalmente a maior! Beirava os centro e trinta quilos, com alguma gentileza. Tinha lábios carnudos e pouco convidativos, exalava suor e álcool. Era de silenciar qualquer guerreiro nórdico.

André estarreceu, de repente o caçador virou a caça. Foi engolido sem dó e nem piedade. Quando já encharcado de enzima ácida, ainda foi metralhado com uma conversa débil sobre o Ex-domador daquela fera. Depois do episódio, para tentar superar o trauma André sempre levava um pensamento patriótico na algibeira - "filho teu não foge à luta". Obviamente em vão.

Seus amigos nunca se esqueceram do "grande" feito.

Ahh e não nos esqueçamos do Wagner, este era bicho piruleta, ávido galanteador. No entanto, havia se casado e pouco se sabia dele atualmente. Dificilmente saía do seu cafofo. Donde ficava por horas em suas empreitadas digitais. Mas nos tempos de gala, Wagner deixou um importante legado, tinha ensinado os três cabaços que ora conversavam a "pegar mulher", ou pelo menos tentado.

Sexta feira de balada para o grupo era mais ou menos como: soltar Morgan Freeman, Garry Kasparov e J. K. Rowling numa floresta densa e escura, e dizer: - Vocês passarão três dias caçando a própria comida, após, passaremos de helicóptero resgatá-los.

Era triste, havia muito esforço envolvido, na primeira hora ensaiavam dançar, compravam bebidas e tentavam se entreter puxando algum assunto previamente moldado, com frases feitas ou sinceras demais. Kasparov bolava várias estratégias, mas o cheque-mate era improvável. JK Rowling preferia observar o comportamento da fauna e escrever alguma poesia antes de tentar ludibriar sua presa. Morgan Freeman era mais afoito, porém, com o mesmo insucesso de seus colegas. Os maiores mamíferos eram sempre caçados pelos índios que frequentavam a região. Sobrava uma lebre ou uma corujinha sonolenta que voava se debatendo nas árvores.

Depois de três dias em frangalhos, o resgate chegava. Hora de ir pra casa e hibernar. Esquecer das horas gastas tentando afugentar os animas da colina Woods, guardando somente a lembrança das horas que passaram juntos, afinal, era divertido também.

Com o passar da idade, com a distância imprimida pelo tempo, sobrevinha à memória apenas os dias de sucesso. O tempo é pai, comprime tudo e faz parecer fácil, tanto que agora na idade avançada, o grupo ria à beça de todas as noites na floresta escura.

Mas e você Tony? - Nesses últimos meses foram quantas?

Tony, mais conhecido como Tony Ventura, havia se relacionado com poucas mulheres, a última que se soube era uma menina de rasa beleza. Tentava pensar rapidamente em como mudar de assunto... Aquilo o constrangia profundamente. Falar de mulheres era como falar do sabor de um Whisky 21 anos que ele apenas tinha sentido o cheiro.

Tony suava as mãos e não era pelo calor da churrasqueira que o defumava.

- É, bem, vocês sabem, uma ou outra no Tinder - falou em tom tímido e abafado.

- Ahh largue mão, zé orelha, mostre aí! - bradou André.

- Vamos, abra o Tinder! - exclamou Arthur.

Tony estava nervoso.

- Vocês querem carne? Interrompeu Mariana, enquanto estendia a bandeja de alumínio completamente recheada de maminhas.

Mariana era a assadora oficial da trupe. Fazia um tempero a base de nós moscada com molho shoyu da Romênia, que infiltrado na carne assada ao ponto, vingava de um jeito a dar água na boca.

Mariana dava risada com as conversas. Era casada com Zé Luis, que mal sabia que todo o grupo de amigos já tinha ciência do seu pequeno "peruzinho". O chamado: peruzinho hipnóticio, que enfeitiçou de jeito sua esposa, além de render algumas histórias - mas isto é assunto pra outra hora.

continua...

ProjetoProsa
Enviado por ProjetoProsa em 20/02/2018
Código do texto: T6259722
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.